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Contos-->Desatino 3 -- 14/07/2002 - 20:26 (Vitor Hugo Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O chilrear madrugador das pequenas aves, anunciava ao meu corpo dorido um novo dia. Levantei-se a custo do cadeirão firmando-me na mesa e espreitei pela cortina semicerrando os olhos; ganhava aos poucos coragem para enfrentar o sol que se espreguiçava lentamente por entre as agulhas de um pinheiro próximo.
Notei que tinha que melhorar o meu aspecto ao passar a mão pelo queixo sentindo a aspereza de vários dias descuidados, bocejei várias vezes enquanto subia ao quarto para pôr a água a correr... Precisava de um banho bem quente para me revitalizar. Pretendia explorar as redondezas, seguindo talvez a estrada que um automóvel tomara no dia anterior. Andar iria certamente fazer-me bem para ordenar as ideias e equilibrar as emoções.
Sair do limbo. - Pensei.
Com o rosto coberto de volumosa espuma branca olhava-me agora no espelho descobrindo-me. Não me recordava de quando fora a última vez que o fizera. Revelavam-se a cada passagem da navalha os contornos do meu rosto comprido e os olhos papudos de um cinzento-azulado baço, imaginava-os mais brilhantes e vivos... A água marulhava entretanto em torrente enchendo o pequeno compartimento de vapor. Tive que desembaciar com um gesto o espelho, para terminar o desfazer da barba e passar uma toalha húmida pela cara.
Entrei na água e o corpo magro fumegou á medida que me afundava ao deitar. Recostei a cabeça e todos os ossos pareciam agora feitos de borracha, abriram-se todos os poros num uníssono de prazer. Ali fiquei durante algum tempo, movendo imperceptivelmente os músculos para não perturbar o silêncio daquele instante. Um leve cheiro a framboesa adocicava o espirito... Sentia-me bem, como um feto no seu ambiente protegido. Vagueava com gosto naquela apatia aproveitando somente o que podia sentir fisicamente e o tempo passava lento, como se derretesse... como se os relógios de Dali escorressem vaporosos e viessem flutuar naquela tina quente.
Marcava com pegadas molhadas e pequenas gotas redondas o caminho para o roupeiro nos mosaicos frios, envolto numa grande toalha branca. Esperava encontrar algumas roupas que me servissem.
Experimentei umas calças de bombazina castanhas e vesti uma camisola de lã grossa que me assentaram na estatura média como uma luva. Satisfeito, fui ainda mirar-me ao espelho alinhando os longos cabelos castanhos com os dedos. Sorri ao ver-me...
Assobiando descontraído, levei as inseparáveis botas para a entrada do pátio para as polir com um trapo húmido e devolver-lhes o brilho. Um esquilo curioso veio ver o que fazia por breves instantes, mas rapidamente trepou por um tronco largo, com um correr gracioso e ágil enquanto me calçava sorrindo divertido.
Fechei o portão. - Ao caminho! - Disse para comigo.
Comia amoras das sebes que me ladeavam, inspirando fortemente a frescura do ar sadio. Olhava para trás analisando o que já andara e via a casa e o trigal mais ao longe. Agradava-me seguir o caminho contrário apesar da chuva miudinha que agora começava a cair.
Iniciava a subida íngreme de uma colina florida e seguia tranquilo apreciando a planície que se desenhava em frente... Ao aproximar-me do cume, a brancura das casas de uma aldeia apareceram-me de um pulo; aos poucos revelavam-se maiores e mais próximas contrastando com o tapete verde pincelado aqui e ali de cores soltas como um manto que se estendia pelo campo de visão numa descida estável variando por vezes a vegetação como que para agradar mais cada passo. O carreiro de terra já empoeirara as botas e a camisola parecia-me quente demais para o dia solarengo que gatinhava para se impor quente depois da chuva parar.
Mais perto da aldeia, o rumor de uma nascente e de um fio de água que serpenteava por pequenos rochedos lisos lembrara da sede que já se fizera sentir antes e se anunciava agora com a leveza de uma novidade educada. Atalhando pela erva alta, refresquei-me passando as mãos em concha pela água límpida sorvendo a sua frescura tranquila e deixando a água transbordar da boca.
Voltava ao trajecto e os primeiros quintais cultivados avizinhavam-se. Parecia um lugar igual a tantos outros de sobreiros perdidos na vasta planície.
Uma mulher anafada de avental colorido á cintura, estendia roupa numa corda e olhava-me com algum interesse. Passava uma carroça de feno ao largo, puxada por um burro. Um homem de cabelos e barba brancos de vara na mão comandava-lhe o andamento vestido de negro-triste e acenava brevemente num gesto quotidiano. Ela ripostou com um gesto igual ajeitando o lenço na cabeça. Ao terminar a sua tarefa, pegara no alguidar prateado e espalhara a água que lá sobrava pela horta espantando a criação que cacarejou assustada dispersando.
Entrou de seguida na casa afastando o mosquiteiro com um gesto amplo e desapareceu sem o voltar a olhar.
Seguia agora pela calçada das pequenas ruelas, deslocando-me com passos lentos para aproveitar a sombra. Chegava ao largo central onde a esplanada do Café principal dominava o espaço na parte mais banhada pelo sol. Não havia muito movimento, talvez por se aproximar a hora de almoço e estava de facto muito calor. Não tinha dinheiro, pois mudara de roupa e deixara a carteira nas outras calças, além de que esse detalhe não me parecera de facto ter qualquer importância, mas mesmo assim sentei-me para repousar as pernas. O empregado da casa, de camisa branca e laço vermelho impecáveis, abeirou-se para saber o que pretendia tomar, abrindo-me o chapéu de sol. Pedi de forma gentil um copo de água fresca...

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