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Contos-->O caso do mendigo -- 15/07/2002 - 01:14 (Osmar Malheiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Essa faz tempo, mas vale a pena falar, afinal, se a gente que é mortal não fala, depois de
morto é que não vamos falar mesmo. Quando eu tinha quatorze anos, eu trabalhava como empacotador
no supermercado Pão de Açucar, na praça Roosevelt, um local estranho, uma arquitetura bonita,
meio gótica, meio Renoir. Uma praça com dois andares, a parte de baixo era escura e por mais
que as luzes fosforecentes de esforçassem era sempre mais escuro que a parte de cima,
iluminada pelo dia, com alguns jardinzinhos e vários bancos.

O trabalho de empacotador é um trabalho interessante, somos analistas de padrão das pessoas
pelas compras que fazem, conseguiamos distinguir os clientes com alto potencial não pela
quantidade de produtos comprados mas pela marca dos produtos, afinal não era tão dificil
encontrar pessoas comuns com o carrinho cheio de coisas e pessoas de, digamos, alto escalão,
com metade do mesmo carrinho, com um diferencial; o valor dessa metade do carrinho
correspondia quase que a duas vezes o valor do carrinho cheio das pessoas, digamos assim, comuns...


Era ante-vespera de Natal, supermercado lotado!! Quando digo lotado, entenda o metrô da Sé
( aqui em São Paulo) no horário de 18:30hs. Estava muito parecido. Uma loucura total, gente
comprando, consumindo, pessoas nervosas, outras sorrindo. O dia foi ótimo para nós empacotadores
pois, além de empacotar as compras, levava-mos as mesmas para seus respectivos donos.

As pessoas compravam, eu empacotava e acondicionava em caixas plásticas. Iamos acumulando
essas compras e no período da tarde saíamos para entregar as benditas.
As "caixinhas", por causa do Natal, eram maiores, e naquele dia consegui o que não tinha
conseguido em três meses, foi algo realmente surpreendente. Pensei....
"-Ah que ótimo, vou conseguir comprar uns presentes para minha família, ou pelo menos algumas coisas
diferentes para comer, tenho que dar uma olhada no supermercado..."
E o dia foi passando, passando, chegou a tarde, por volta de 18:00hs e fui para casa,
afinal estava trabalhando desde as 06:00hs, mas não me sentia cansado, penso que isso seja
característica dos jovens de quatorze anos.
Para ir pra casa, eu trocava de roupa ( tinha que usar uniforme ) e descia a Av. Ipiranga
para pegar o metrô da estação República e descendo encontrei um mendigo, ali um pouco antes
da Av. São Luis. Era magro, estava sentado no chão, ao seu lado um saco cheio de coisas e
chorava copiosamente mostrando a boca banguela e os cabelos despenteados. Passei olhando para
ele e mais uma vez pensei...
"-Nossa, deve ser triste não ter nem o que comer nessa época"
Chegando nas catracas do metrô, tive que enfrentar uma fila e nessa fila fiquei pensando no
mendigo, o bolso, até volumoso por causa das "caixinhas", começou a pesar e pesava mais a
medida que eu dava os passos para passar a catraca. Sei lá, penso que seja coisa de consciência,
coisas que meus pais sempre me ensinaram sobre a questão de ajudar as pessoas e não se
orgulhar por isso, afinal caridade tem quer ser feito todo dia, mas seria tão bonito ter um
mundo que não necessitasse de caridade...
Saí da fila, o bolso já pesava uns duzentos quilos e corri para o mendigo já separando um
dinheiro que talvez pudesse aliviar aquela tristeza banguela e lá chegando, o vi, sentado,
chorando - me aproximei e estendi a mão com o dinheiro dobrado para ele pegar. Ele me olhou
e entre soluços disse:
- Eu não quero dinheiro,eu queria um abraço...
Putz! Ele me mostrou aquele saco cheio de coisas e eram roupas, comida, sapatos e tinha até
dinheiro, só não tinha um abraço lá dentro.
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