Muitas vezes me senti um intruso, de boa fé, entrando em casa deserta.
Pensei muitas vezes ter provocado em seu coração um ruído macio - se é que tais
palavras fazem sentido juntas.
De qualquer jeito obrigado por ter acompanhado meus desabafos e melindres
durante o ano que ainda se esvai, às vezes não entendendo uma vírgula sequer
- desconfio, pois às vezes nem mesmo eu as compreendi - porém mantendo uma
postura educada, diplomática e tolerante, quando não muito, indiferente.
Gosto de você.
Se por acaso concluiu que o parágrafo anterior precede um texto cujo a
mensagem principal é feliz natal e próspero ano novo, saiba que acertou em
cheio. No entanto, não espere grande coisa não, pois não sei se de fato
conseguirei, nessas próximas linhas, desejar-lhe tudo isso.
Digo isso porque sou péssimo para despedidas - quando digo péssimo quero
dizer muito mau mesmo, o pior possível - sinto nesses momentos calafrios;
calafrios como os das pessoas que estão diante de uma tragédia. Talvez porque eu
já esteja acostumado com suas críticas, sorrisos e é claro, seu sepulcral
silêncio.
Mudando de caqui para abacaxi, ontem ouvi o seguinte: "Porque toda a mulher
gorda tem um rosto belo?".
Fiquei quieto, até porque nunca tinha ouvido uma elucidação de tal naipe;
tão "bem feita".
"Nunca fui de notar se os homens seguem o mesmo padrão - continuou, como se
as pessoas fossem feitas numa fôrma, em série - mas em relação às mulheres
é certeza: todas as gordas são bonitas".
Também nunca fui de reparar nos homens - respondi sem graça, talvez
estivesse com o rosto corado - nem tão pouco nas mulheres gordas, nem nas magras,
até porque a beleza é subjetiva. Eu mesmo já achei mulheres maravilhosas
que, segundo alguns, eram um acidente, e vice-versa.
Sem saber a tão ilustre figura estava repetindo um dilema machadiano, mas
noutra versão. "Se gorda, porque bonita; se bonita, porque gorda?".
Tentei mudar de assunto, mas de nada adiantou:
"Por exemplo: minha prima, a Joana, é muito bonita, mas gorda, assim como a
Rute, a minha vizinha, que também é gorda. Você sabe quem é ela, não
sabe?".
De fato eu sabia quem era a tal Rute, e nunca a tive como gorda, e sim como
fofinha, entretanto não gostei da conversa, não me acrescentou nada -
imagine só se o primo Tonho ouvisse esse papo todo!
Aliás também estou odiando esse texto. Porque será que estou escrevendo
essas bobagens se só me sentei nessa cadeira sem descanso para os braços com o
intuito de lhe desejar um feliz natal e um próspero ano novo..??
Quer saber? Não sei...No fundo, no fundo acho que só quis pegar esse monte
de assunto e colocar num texto só, tentando fazer referência à beleza de
cada um, tentando exortar que de nada vale falatórios inúteis, palavras vãs
etc. e tal. Entretanto, concluo que passei muito longe de meu objetivo, muito
longe.
Passei tão longe, inclusive, que sequer consegui causar uma boa impressão
de despedida natalina. Melhor mesmo eu parar com tudo isso só por hoje, visto
que todos hão de dar conta de todas as palavras frívolas proferidas.
Falemos pois, sobre o tempo: Como este passou, e ainda tem passado, rápido!
Sábado mesmo o filho de mais um amigo nasceu. Bolas! Todos aqueles que
cresceram junto comigo já são pais. "Tempo Rei", já disse G. Gil.
É... o tempo não é nada parecido com uma corda cheia de nós - nós, aliás,
que se possa usá-los para medição - o tempo é uma superfície ondulante,
imensurável, que às vezes se faz necessário percorrê-la de través; sobre o tempo
só mesmo a memória para o fazer mover; aproximar.
Parece que ficou meio confuso, mas sugiro que leia a frase anterior mais
uma vez, pois a única coisa que quis dizer é que não temos o mínimo controle
sobre o tempo, a não ser através das lembranças. Tempo Rei, Ó tempo Rei. Não
tome isso como uma verdade, é apenas minha opinião...
Portanto paro por aqui, meu tempo já era. Procure lembrar-se de mim, isso
se eu não for ocupar um grande espaço em sua mente.
Se você está também achando que essa despedida ficou uma merda, concordo
com você. Esqueça-a então. Pois em breve escreverei outra, mas não espere algo
maravilhoso, não sou à prova de certos sentimentos
Bem que eu disse que sou péssimo para despedidas, mesmo que essas sejam
momentâneas.
De qualquer jeito obrigado por ter acompanhado meus desabafos e melindres
durante o ano que ainda se esvai, às vezes não entendendo uma vírgula sequer
- desconfio, pois às vezes nem mesmo eu as compreendi - porém mantendo uma
postura educada, diplomática e tolerante, quando não muito, indiferente.
Gosto de você.
Putabeijo
Anderson
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