Olhando para o horizonte
Sem nada ver
Sem nada pensar
Sem nada saber
Nem mesmo se existo
Ausência por somente esperar
Algo que já nem sei o quê
É neste instante que
não sei de onde,
à minha frente surges
Desacredito e lentamente
Fecho os meus olhos
Ainda não entendendo
Meu queixo pesa
E sem nada mais em mim se mover
Estou a nenhuma distância de ti
Abro os meus olhos e...
Ah! Os teus olhos
Enquanto descubro neles os teus segredos
Ainda estático,
Minha mão tange-te a testa
E logo sente um refrigério
São teus cabelos deslizando nela
E quase trêmulas acompanham
Vagarosamente,
Toda a extensão deles
E oportunamente
Conhece tua cervis,
Os teus ombros,
Tuas costas,
Tua cintura,
Aí, na tua cintura
Encontro forças
Para agora te envolver
E rapineiramente
Roubar dos teus lábios
Um eterno beijo
E viajo...
para onde...
já mais...
voei...
durante...
um...
sem tempo...
doce...
muito doce...
som de poucas águas...
fontes cristalinas...
luz entre altos troncos e folhas...
flores...
paz...
borboletas...
brisa...
suaves...
macios...
música...
cantos e...
seus pássaros...
verdes montanhas...
céu...
entardecendo...
entardecendo...
abro os olhos,
meu peito arde
minha face arde,
quente,
muito quente,
quase febril,
sem discernimento
se é do teu esplendor ou,
do meu rubor,
porque os teus olhos
penetram no meu olhar
e parecem saber por onde andei
por onde,
inerte,
andei
queria tanto que fossem tuas mãos
conhecendo o meu rosto
agora a música já não existe
e os meus ouvidos estão surdos
por um uníssono,
grave e intermitente
que toca de dentro de mim
minhas mãos se lavam em suor
frias, já não são quase trêmulas
vibram como palhetas
por não saberem onde se esconder
acolho-as por entre as minhas pernas,
por medo que descubra algo mais sobre mim,
rebeldes pernas
que não me permitem sair do meu lugar
minha boca te implora
- por favor,
- dize-me quem és,
- donde vens
mas eu mesmo não consigo ouvir
e me calo
em total impotência
vejo-te sumindo,
por esconderijos,
lúgubres portais,
para onde já mais,
nunca mais,
te encontrarei
Devolvendo-me o horizonte
Para nada ver
Para nada pensar
Para nada saber
Patenteando minha inexistência
Por somente esperar alguém
Que já nem sei,
se foi alguém
Michel Rosenblat
27/10/2001 17:00
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