Mocinho ou bandido?
Não tenho certeza
Só sei que tem fome insaciável de tempo
E a cada prato que consome
Deixa as marcas do que comeu,
Então as boas e más lembranças
Ao serem deitadas à mesa da memória
Servem como doce ou amarga sobremesa à saudade
E o que fica é o sentimento que,
Não tenho certeza,
Se mocinho ou bandido,
Agrada-me,
E me faz sofrer,
Pelo que vivi,
E pelo que deixei de viver
Lembro-me do ontem,
Sem esquecer do hoje,
Não importa quem é o vale
Quem é o cume,
Pois a águia que voa entre as altas nuvens
Também à beira do rio pousa para da sua água beber
Assim como o urso que no inverno dorme,
Tem na primavera a restituição da sua natural liberdade
E tudo o que fica é a majestade da sua presença
A marca no prato do que se comeu,
Saber que o agora acabou de ser
Para tornar-se a ser o que era
Tão místico, incompreensível, às vezes inaceitável
Mas mister na vida de tudo e de todos
Não tenho o desejo de abraçar o que já passou
Mas também não quero olvida-lo
Porque dele é tudo o que fui,
E dele será tudo o que tenho sido
Michel Rosenblat - 1990
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