Você acha que não é um produto da mídia? Engano seu, você é! - a exclamação é para dizer que a afirmação é taxativa, não é uma hipótese, nem opinião pessoal.
Porque mídia foi o que Deus inventou quando foi descansar após a criação; Ele mesmo uma mídia com eme, ou mê, maiúsculo. Achou aquilo tão incrível que resolveu globalizar - como vê, nem globalização é novidade.
Sócrates era uma mídia ambulante, um alto-falante; Platão não passava de um cassete, embora com poder de read/write, e talvez tenha sido um dos primeiros a fazer edição e videoteipe. Moisés baseou-se nas tábuas divinas ao fazer sua pregação panfletária - embora mais contemporânea, poder-se-ia dizer que foi uma mídia da idade da pedra.
Se eu pudesse escolher a mídia de que sou fruto, com certeza seria uma garota-propaganda. Melhor, ao invés de fruto, semeador; se pudesse escolher. Mas sua mídia-progenitora você não escolhe, ela é quem decide os filhos a parir.
Você, que é chegado numa macumbinha maneira, sabe mais que ninguém porque o "cavalo" chama-se médium - que em latim é o singular de mídia (media, como grafam os reis dela). Mas falar "as mídia" tem um trejeito meio classe D, ou versão inferior. Enfim, tudo pode ser aportuguesado, menos a mídia - dizem que ela voltou americanizada pós-guerra. Em português leva acento, pois os gajos são loucos por um assento, principalmente mulato; já os brasileiros são fissurados em bunda mesmo. Seria a bunda uma mídia? Ou fruto dela? Comunica-nos tantas coisas uma bela bunda; vende de cerveja a catecismos, anti-celulíticos a preservativos, calcinhas a pomadas antiespinhas. Que mídia!!!
O dilema não está em saber se somos ou não frutos dela, mas o nível de contaminação a que ela nos submeteu - a mídia, claro, não a bunda. Pois bem, o melhor seria ter à tela um questionário desses que o Ibope utiliza. Mas algumas perguntas virtuais poderão ajudar nesse descobrimento interior.
Olhe para suas calças e diga rapidamente onde está a etiqueta; do lado de dentro ou de fora? Não vale responder que as vestiu pelo avesso, assuma sua condição frutífera, se for o caso.
Você passa a mão na bunda de sua esposa e/ou namorada somente nos intervalos para os reclames, ou durante a programação normal? Não passa? Então você vai ser tratado em outro texto, reserve. Aliás, você assiste à programação normal com aquele pedaço de mau caminho da companheira dando sopa ali do lado, às vezes até de camisola transparente? Se a pergunta causou embaraço, releve e passe para a próxima, como na Fuvest, ou Mapofei, depende das rugas.
Quando vê o galã da novela dando um beijo de língua na gostosona do momento, você fica fazendo movimentos lingüísticos dentro da boca para treinar e usar no próximo sábado depois da sessão de filmes?
Assistiu a qualquer filme ganhador do Oscar depois de Ben Hur, The Sound of Music? Acha Spielberg um gênio, chorou em Ghost, e acredita firmemente que Woody Allen tem aquela cara de berne para compensar o cérebro privilegiado com que Moisés o muniu? Tem a nítida impressão de que só os americanos produzem filmes, e que os italianos só faziam música boa enquanto durou o Festival de San Remo? Que os franceses só entendem de espumantes, os alemães de cerveja, os portugueses de bacalhoada, os israelenses de tiro ao alvo, os palestinos de alvo, os ingleses de chá, os vietnamitas de fazer americano de bobo, os bobos de se passarem por americanos, os brasileiros de se sentirem inseridos no contexto ao trocar Cosme e Damião por Haloween?
Presenteou com bonequinhos do Pokemon os pimpolhos, matriculou a patroa numa academia de ginástica, e comprou tênis com biqueiras para este que me lê?
Você não vai parar de se estressar enquanto não comprar um daqueles apartamentos com nomes do tipo: Plaza Mediterrânea, Village de Paris, Mansão das Codornas, etc? Você também só sai em público com óculos escuros, mesmo sem estar com terçol, catarata, conjuntivite, fotofobia, vermelho-maconha, e sem ser cego? Quando posa para uma foto, costuma cruzar os braços e arregaçar o punho da camisa para dar ao seu relógio de pulso grifado um lugar ao sol, ou na película?
Freqüentou aquela fila quilométrica ao redor do Masp quando o Rodin deu as caras por aqui? Olhava para os demais colegas filantes e também começou a achar que não era mais do terceiro-mundo? E sentiu um não sei quê de realização ao ver o Jornal Nacional afirmar que o brasileiro também sabe a apreciar a arte? Achou que o Jânio era louco quando disse que por um milhão subia ele ao palco a trinar e dar gorjeios, ao invés do Pavarotti?
Entre seus atuais sonhos de consumo está incluído um home theater pentelhofônico, vinte caixas de som, tela maior que a parede, acompanhado de um novo sofá-cama que acomode a família inteira? Rejeitou o pedido de um Pentium IV de seu filho, mas acabou comprando um porque sua esposa não queria ser deixada para trás pelas vizinhas e demais mães da escola das crianças, que já copiavam as receitas da Ana Maria Braga direto do site dela? Cometeu o absurdo de matricular a esposa num curso de Windows, e ela passou a querer discutir com você os detalhes do config.sys e do autoexec.bat, além de achar que o Painel de Controle é semelhante ao controle remoto da TV? Fica vendo a rodada de domingo enquanto ela "navega" pela Internet? Sabe exatamente o que ela quer dizer com "navegar" pela rede?
Achava loucos os que navegavam na Internet há seis anos, e ficou louco para comprar seu barquinho depois de ouvir dizer que todos os coleguinhas do seu filho já tinham computador? Acha que a rede só tem Internet Banking, serviço de delivery, ticket para teatro, caras e bundas, e show room de automóveis? Criou um e-mail no IG e mandou incluir em seu cartão de visita?
Frutos há de todos os tipos: bananas, de estação, em compotas, enlatados, podres, maduros, verdes, frescos, bichados, temporãos, hibernantes, conscientes, pacientes e semi-onicientes.
A questão não é definir a espécie, o sabor, a textura, ou a casca; mas a safra e o fungicida utilizado. A não ser que você seja transgênico!
|
