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cronicas-->O guri que ficou em 1968 -- 03/05/2002 - 23:24 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A nave espacial Apolo, minha memória se recusa a ser precisa, mas acho que era a Apolo 8, cruza lentamente a imensidão do universo, como um pontinho luminoso, some no horizonte para mais uma volta ao redor da terra. É mais uma tarde que finda naquele longínquo outono do ano de 1968.
Os tempos eram outros e os brinquedos diferentes, jogos de bolitas eram os preferidos da gurizada. Seu Nelson, recém aposentado da Viação Férrea, chimarreava nos finais de tarde e, voltava a ser criança, até arriscava algumas jogadas. Adorava ver a piazada jogar bolitas e cavar os bocos com os garrões dos pés. Volta e meia seu olhar se fixava no interior da cuia, sua infància vinha em sua mente, o interior da criança que ficou no passado distante, os carros de lomba na pequena coxilha da chácara, os banhos de rio, o pequeno açude em que o petiço solitário vinha saciar sua sede, os bodoques feitos de galhos de pitangueira, era impossível esquecer sua mãe, dona Joana, a tirar leite das vacas todas as manhãs. Seu Nelson se perdia em recordações que até a algazarra dos guris parecia que ficava longe, transformadas em um pequeno burburinho
Os jogos de bolitas na frente da casa só terminavam quando a noite caía e a pouca luminosidade das làmpadas de mercúrio não ajudava mais a visão e as bolinhas de gude fugiam das pequenas mãos dos jogadores. A rua aonde morávamos não era calçada e o passeio público também era de terra. Naquela terra batida que eram feitas as pistas dos jogos. Tornavam-se longas as tardes e infindáveis os dias naqueles anos em que o nosso mundo era de bolinhas de gude.
Quando chegava as festas de São João o Seu Nelson fazia fogueira bem em frente a casa, colocava galhos e alguns pneus velhos e era o máximo, a vizinhança vinha festejar a cachorrada ficava alvorotada, os fogos estouravam na vastidão escura e os fogos iluminavam a fria noite junina e os nossos sonhos de guri, como também os sonhos de guri de seu Nelson. A dona Mimosa fazia pipoca, amendoim torrado e quentão. A casa de nossa infància era um chalé de madeira pintado de amarelo com uma área de material, também havia em frente a casa uma árvore que na primavera florescia com flores brancas e roxas.
Nas noites de inverno ao redor do fogão à lenha ouvia-se histórias de assombração. Dona Mimosa batia a massa para fazer o pão caseiro e o seu Nelson de ouvido grudado no radio, escutava um jogo do Robertão, Inter e Santos na Vila Belmiro.
Enquanto a Apolo 8 dava mais uma volta em torno da terra e entrava novamente no vasto universo negro, a tarde alaranjada escurecia calmamente o fim do dia de nossa infància. Até que a Apolo 8 não cruzou mais pelo universo, a rua foi asfaltada e a nossa infància se esqueceu do guri que ficou em 1968.
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