VINTE E SEIS ANOS SEM “PIMENTINHA”.
Ana Zélia
Uma overdose covardemente vendida e aplicada te roubou a vida.
MATARAM A “PIMENTINHA”. 19 de janeiro de 1982.
O Brasil silenciou.
ELIS REGINA CONTINUA VIVA N’ALMA,
CORAÇÃO DO POVO BRASILEIRO.
Enquanto neste País houver um pequenino aparelho de rádio, sentimentos, continuas viva. Enganaram-se os covardes que te levaram ao suicídio.
Não morrestes nem morrerás jamais.
CALA A MATÉRIA, A VOZ NUNCA...
__ ONDE ESTÃO TEUS ALGOZES? ASSASSINOS?
As pessoas que te endeusaram tanto, a mídia, esqueceram que tinhas coração e que pulsava junto ao peito.
Um coração que amava, sofria, calava...
O que leva uma pessoa ao suicídio?
__ Posso responder por você “Pimentinha”.
__ Primeiro o que chamamos “AMIGOS”, eles nos dão tudo. E tudo é FORÇA.
Estimula-nos ao sucesso quando temos talento.
Lançam-nos na boca do lobo ou do lixo...
Para eles pouco importa e isto não percebemos.
Tudo é ilusório e nos embriagam com palavras bonitas, paixões, PALCO, BRILHO, ILUSÕES...
SOMOS A ESTRELA QUE SOBE... VENCEDORA... IMBATÍVEL...
Abrem-se as cortinas, o público aplaude, as gravadoras faturam alto, as emissoras tocam até furar o disco com o sucesso do momento. Os fãs deliram.
És irreverente ao regime, aos costumes...
É MULHER SÓ. A SÓS.
A paixão surge com o colega mais próximo. É o trabalho de rotina que os aproxima.
CASAMENTOS FALIDOS, FILHOS DIVIDIDOS. Entregues às mães substitutas. O palco é mais importante, o publico, a mídia... Vem a estafa. Não pode parar.
É um país distante, um Brasil enorme a percorrer, és CAMPEÃ...
Tua voz vai de Norte a Sul.
A mão que eleva é a mesma que te leva ao túmulo.
Inicia com uma dose de “coca”, estimulante... Vence o cansaço por instante.
Logo após passa a ser necessidade, os traficantes nada tem a perder. Precisas te manter de pé, firme, forte como as leoas dos circos...
Depois a solidão, o cansaço, ninguém. Nenhum irmão!...
__Amigos? Onde estarão? Gritaras tantas vezes...
_Por favor, me ajudem. Preciso descansar.
Viraste robô em suas mãos. Horário, ensaios, tudo eles. Os incomodas. A última dose é bem maior, É OVERDOSE... Num quarto sozinha, após o show, as luzes se apagam, olhas a seringa, aprendeste a conviver com ela, com as luzes do palco, o microfone do rádio... a TV.
Só um pouco dará ânimo. É triste. Nesta hora vem a revolta. Você busca Deus, precisa falar-Lhe. Ele está longe, distante.
__ Não existe um Deus em cada lugar como nos ensinam...
Ligas a um “Amigo”. Do outro lado uma voz gravada: __ Saí. Deixe o recado... Eles nunca estão. Choras. Soluças alto, precisas dormir. Amanhã é dia de “branco”.
__ NÃO TIVESTES E NEM NUNCA MAIS TERÁS AMANHÃ!...
Vinte e seis anos sem Elis. Morreu a “Pimentinha” O Brasil chorou! Calou!
Nada temias. Teu canto de Guerreira que não se curva às flechas. É canto de guerra... Quem não lembra: “Poetas. Seresteiros. Namorados. Correi! (Lunik 9)
É chegada a hora...
Upa neguinho -- (Upa Neguinho na estrada. Upa pra lá e pra cá. Vixe que coisa mais linda. É o neguinho começando andar, começando andar, começando andar e já começa apanhar.
Arrastão__ “Minha Santa Barbara. Me abençoai. Quero me casar com Janaina”
Romaria__ “Como eu não sei rezar só queria mostrar, meu olhar, meu olhar, meu olhar. Sou caipora, pira, porá nossa. Senhora de Aparecida. Ilumina a minha escura e funda o trem da minha vida”.
Corrida de Jangada__!Meu mestre deu a partida, é hora vamos embora.
Ah! Elis. O mundo continua pior, o Brasil nem se fala.
Roda- “Seu moço tenha vergonha, acabe a descaração, deixe o dinheiro do pobre e roube outro ladrão”.
Carinhoso- “Meu coração, não sei por que, bate feliz quando te ver.”
Travessia_ “Solto a voz nas estradas. Já não quero parar meu caminho é de pedras, como posso sonhar.”
Prá dizer adeus_ Adeus. Vou pra não voltar e onde quer que eu vá, sei que vou sozinha, tão sozinha amor”
Prá falar com Deus tivestes que partir...
Se eu quiser falar com Deus. Tenho que calar a voz, tenho que encontrar a paz, tenho que dizer ADEUS...
Elis Regina- “Pimentinha”, nasceu em 17 de março de 1945.
“ ADEUS NÃO EXISTE. Existe sim, uma grande saudade, saudade esta que nos coloca sempre juntos, não permitindo nunca dizer Adeus”.
Até breve.
Manaus, rádio, 17/janeiro de 1992 (10 anos “sem Pimentinha”. A maior interprete deste país, como fã, estava devendo esta publicação. Ana Zélia (Manaus- 13 de outubro de 2008)
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