As casas desta vila
são muito estranhas
Há crianças com barrigas inchadas,
ventres de batráquios,
que possuem olhar
negro e parado,
como jabuticabas
maduras, presas aos galhos
altos, nunca dadas ao abraço
Há forno de barro
e panelas de ferro
tratados por mãos de velhas
Tão velhas quanto
à própria terra vermelha
E um cheiro bom
de mel com guaco,
xarope açucarado,
de chás de romãs, de picão,
remédios de ervas bravas,
das cascas das árvores
e das raízes moídas
arrancadas com a mão
Um cheiro que lembra
cabelo de mãe lavado
com chuva e sabão
Mas há sons
de miado, chiado de peito,
tosse, rangido de cadeiras
que se arrastam, lástimas
que acompanham o malefício
da doença, dias espremidos
entre duas noites compridas
A febre faz suar as gentes
Tinge-lhes a face
de rosa triste
Dá-lhes um olhar dormente
Amortece-lhes as palavras
Torná-os lento
como vento de verão
que acarinha a coisas do chão
E eu pisava
sobre coisas esquecidas
caídas de cima
Ovos atirados de ninhos
Frutas bicadas
Pés de salsa e de cebolinha
que ali, cresciam,à toa-
paraquedistas das patas de rolinhas
E a vida resumía-se
nos "perigos"
invisíveis
que estavam no ar:
O desamor
e duas asas de mosquito
|