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Contos-->"BOCA", O AVENTUREIRO -- 18/07/2002 - 17:58 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“BOCA”, O AVENTUREIRO

Drinques servidos à mancheia, sob fausto, elegante desfile, de parva e exibicionista classe média alta. Inauguração mais badalada e espera-se a qualquer momento a chegada da Princesa, que viera exclusivamente da Suécia, para rever amigos e parentes.
A polícia havia interditado as ruas circunvizinhas, somente permitindo a entrada dos elegantes e pequeno-burgueses moradores, cujos ar e vestuário, dão uma exata dimensão de suas posses, obtidas antanho. O Boca, bem vestido e a bordo de um desses perfumes franceses detectáveis à distância, procura se fazer amigo de infância do empresário da soja, do empresário da exportação, enfim, do empresário de...
Boca rebolou assaz para conseguir ter em mãos esse convite, coisa de grã-fino, mecenas, xeleléu e que tais. Posta-se, por ofício, à margem do garçom mais simpático. Em princípio, conhece todos, que pese o olhar de “quem é?” de alguns deslumbrados convivas. O desfile propriamente dito só começará dentro de mais uns três Chivas, quando o Boca reduzirá o quilométrico nome de família, para simplesmente: “ BOCA, seu integral parceiro”, como habitualmente faz nesses eventos. A mulher, no canto da sala principal, hall de entrada do espaço donde se dará o desfile beneficente, vestida em preto e ouro, mantém aquele olhar que nem dois holofotes digitais, fixando nenhures.
Boca já notou-a, assim como todos os machos do local, em torno de meros dez porcento, se se considerar uma grande proporção de GLS que acorreu ao evento. O colar de pérolas, discreto, sobre o colo inefavelmente belo, faz parte do tráfego de olhos, ensejados pelos cabelos negros bem cuidados, as mãos de Ísis e o rosto... este, impecável. Apinha-se demais o salão, à medida em que se aproxima a hora do desfile. A televisão foca e ilumina insistentemente a bela dama do canto da sala, junto a uma escultura de RODIN, reprodução. Ela continua fixando um ponto, longe dali, dando ao Boca a impressão de que, se descoberto, a charada estaria decifrada, o diálogo começa, a noite se alonga mais do que o devido e ele, a essa altura, já deverá ter declinado seu invulgar nome: JAMES WILLIAM DE PONTES SALGADO DE MENDONÇA. Bem soletrado e pronunciado, trata-se muito mais de um ritual, do que propriamente de um mero nome de família. Está lá no RG, cuja naturalidade ele faz questão de mencionar:
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, bem no ano da revolução redentora: 1964. Chivas, o terceiro, impõe-se-lhe a coragem de sempre, fatal. O acompanhante, pleno de trejeitos cujo julgar seria desnecessário, já desconfiou que o olho verde do Boca, pretende incendiar o olhar negro dessa fêmea, desde que haja sintonia entre ele e o ponto distante para onde ela está mirando. Falas poucas, poucos sorrisos, pose de mulher fina, egressa de plaga desconhecida. Jamais falhara antes. Está tudo na ponta da língua e será dito com o imensurável coração. É provável que ele se apaixone antes do momento programado. Alguns pares, discretamente, olham-no e principalmente nos olhos verdes de canavial de Catende, Pernambuco, onde o pai mantivera por longo tempo, a usina de cana de açúcar, herança do avô materno. Entre os diversos “com licença” ao longo do tortuoso caminho que leva até sua musa, deusa e objeto de desejo, duraram uns cinco goles. Dera certo antes e desta vez não será diferente.
Enfim, aporta diante daquele monumento greco-romano e... subitamente, uma mulher, cara amarrada, sem que o Boca pudesse esboçar qualquer reação, põe a mão no braço da bela fêmea e com voz rouca e determinada, diz:”Vamos Beatriz, o show já terminou”. Boca, entre perplexo, constrangido e açodado, apaga o cigarro na parede e deglute timidamente, o derradeiro gole de sua aventura.



Olinda Pernambuco 1998
Extraído de “22 contos de rés”






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