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cronicas-->E Como Brincar? -- 10/05/2002 - 01:14 (Abilio Terra Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
E Como Brincar?

Abilio Terra Junior

Brincava de esbarrar nela na cozinha, e, de súbito, sorriram espontaneamente. Caso raro de acontecer entre eles. Tomara alguns copos d água e se dirigira para o computador. Ainda sentia, vez por outra, aquele incómodo no peito e no braço que tanto o incomodara dias atrás. Passara a semana fazendo exames e fora ao dentista, há poucas horas.
Anunciavam chuvas e raios, ouvira de relance no noticiário. Muitas pessoas haviam morrido no último fim de semana. A maioria, vítimas de traficantes de drogas, segundo a polícia.
Os últimos dias haviam sido tensos, tantos exames, dúvidas, espera, preocupações. Achava que, de certa forma, estava pagando o preço pelo distanciamento dos seus sentimentos. E, quando surgia uma oportunidade, um momento, deles aflorarem, criava-se um tamanho conflito interno que poderia até dar no que dera. Não sabia lidar com os seus sentimentos e emoções, nunca soubera. Ali, no peito, sentira aquela ardência. Bem na sede das emoções. E também no braço direito, a necessidade de agir... e não agira.
Mais uma vez refreara seus impulsos. Não deixara a emoção fluir. Seus condicionamentos, cultivados desde a infància, haviam preponderado. E como deixar a criança gritar? Se ela não gritara? E como deixar a criança chorar? Se ela não chorara? E como brincar? Se a criança ficara presa àquela proteção desnecessária e inútil, além de prejudicial, que lhe dera absurdos privilégios que tanto a distanciaram dos demais?
Privilégios mascarados, encobertos por outros interesses, que lhe sabotavam a cada instante, trazendo-lhe um estigma pungente e cruel, de se ver excluído em seu próprio lar.
E, sozinho em suas cíclicas elucubrações, criara o seu próprio tormento, em seu inferno particular e exclusivo, que se tornara parte de si mesmo. E, desse inferno ele sorria, e dançava, e lia, e sonhava, e amava, e trabalhava, e levava a vida, carregando aquele peso formidável.
A grossa casca de condicionamentos criada em sua psique para protegê-lo do mundo. Do mundo exterior, reflexo do seu mundo interior. Que, também como esse, era infernal.
Não havia desculpas e nem queria desculpas. A linha direta e, ao mesmo tempo, sinuosa, daquele seu fantástico labirinto, o ligava a tudo e a todos, e o separava de tudo e de todos. A ambiguidade perene era, sem dúvida, parte do universo. Naquele momento mesmo em que estava próximo, estava distante. Como se, perante o juiz, lhe escapara a senha fatal. e ele ali ficara à espera, sentado, inerte. A senha lhe era um mistério, pois ninguém lhe dera.
Mas, por outro lado, também pensava em outra possibilidade. Talvez nada daquilo havia sido uma cilada do destino. Ao contrário, essa seria, de fato a sua sina. Sem senha, vítima de uma proteção que nunca o protegera. Pois que, na verdade, não era uma proteção.
Porque? Haveria um motivo para isso. Que lhe escapava, mas que era tão real quanto as suas próprias experiências. Subjacente a tudo, inescrutável, uma ordem, um decreto, que jazia no fundo do seu inconsciente.
Como se um deus poderoso, ou melhor, o seu deus poderoso, ordenasse que assim deveria ser. Para que ele aprendesse o seu caminho, único e pessoal. Um caminho de descoberta, de busca, penoso, espinhoso, em que, passo a passo, fosse reconhecendo, descobrindo a sua própria identidade individual. A despeito de todas as barreiras colocadas pelos condicionamentos, preconceitos, ensinos de todos os tipos, apelos emocionais com variadas intenções, massificação, distrações ilusórias, jogos de egos com todas as suas complexas, dúbias, incansáveis e destrutivas propriedades.
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