Hoje minha casa habita dentro de mim
e eu a levo comigo como um caramujo
que se recolhe em seu aconchego.
A minha casa não é deserta:
é povoada de seres, ancestrais, mitos, amores.
Na minha casa não me faltam o alimento e a poesia e a música,
que fluem de suas paredes porque são parte dela,
assim como são partes de mim meus braços, minhas pernas,
minhas sobrancelhas arqueadas em pensamentos.
Não, a minha casa não tem paredes.
É generosa, minha casa,
e dá acolhida àqueles que dela se aproximam
com um ramo de flores nas mãos
como mais um tributo a meu jardim.
Minha casa não recebe quem não quero
e nem quem a mim não queira.
É honesta e simples e limpa
como se fosse toda caiada de branco,
e todos os retratos nas paredes doces e eternos.
Na minha casa não há tempo, ganho ou perdido.
Há apenas espaço para os movimentos de meu coração.
Em minha casa as pessoas deixam os sapatos à porta
porque gosto que elas pisem em um chão
sem nada de entremeio.
O material de que minha casa é feito é a vida,
que cultivada durará para muito além dela mesma.
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