Usina de Letras
Usina de Letras
19 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62280 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50667)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6207)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Colisão -- 13/06/2000 - 12:43 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“As vezes, é melhor morrer do que
continuar a perder a vida.”
Anônimo

O tempo não passa. Meu relógio de pulso faz um insuportável tic-tac. Os segundos estão cada vez mais lentos. Os minutos parecem horas. Não consigo me mover, tenho dificuldade para respirar... vou lhes contar como e o que aconteceu.
A menos de um mês, nosso filho de dois anos morreu de insuficiência respiratória. Minha mulher, caiu numa profunda depressão. Chorava o dia todo... eu também chorava. Não comíamos direito, passávamos horas sem dizer uma única palavra. A luz era mantida acessa para espantar o negrume da infelicidade. No último final de semana, resolvemos visitar uns parentes, que moram numa cidadezinha pacata próxima a nossa. Queríamos desviar os pensamentos de tantas lembranças.
Saímos de casa na Sexta-feira no início da tarde. Demoramos uma hora para chegar até o nosso destino. Normalmente essa viagem poderia ter sido feita em um pouco mais de trinta minutos. Sempre temi as estradas. Fomos muito bem recebidos pelos meus primos e tios, que lutavam para que nós não desanimássemos. Fizeram churrasco, nos levaram em boates, comemos pizza, jogamos cartas, contamos piadas e até batemos uma bolinha junto com a molecada. Foi um final de semana perfeito. Eu pude perceber um discreto sorriso no rosto de minha mulher.
Eu não sei se fizemos errado ou certo. Mas a vida é imprevisível, não podemos deixar que ela nos derrube. Então, na noite de Domingo, após o maravilhoso jantar servido pela minha tia, nos despedimos de todos. Colocamos as malas no carro. Naquele instante, não sei minha mulher, mas eu estava muito feliz. Eles conseguiram me animar.
Assim que entramos na estrada, minha esposa adormeceu. Liguei o rádio, sem acordá-la. Me encontrei pensando em toda a minha infância, de quando eu e meus primos andávamos juntos de bicicleta na chuva. Titia queria nos matar, ficava muito brava. Quando íamos jogar bola em outro bairro e brigávamos com o outro time. Coisas de moleque. Nós fomos crescendo, crescendo...sempre juntos. Sempre bons amigos. Dizem que amigos são para estas coisas mesmo... saíamos para paquerar nos fins semana. Passávamos gel no cabelo, vestíamos jaquetas de couro e íamos para o bar lá na frente da praça tomar refrigerantes misturados com o pessoal mais velho.
As principais coisas de minha vida passaram por minha cabeça, inclusive o nascimento, a morte de meu filho e este último final de semana que passamos com meus parentes. Quando estávamos chegando em nossa cidade, logo na saída do trevo, vi um carro se aproximando em alta velocidade e faróis baixos. Não soube o que fazer. Eu não tinha o que fazer. Acho que foi por isso que relembrei de toda a minha vida. O outro carro bateu bem no meio da porta, do lado de minha mulher. O nosso veículo foi parar no acostamento, na contramão. Daqui de onde estou, só posso perceber que o outro veículo fugiu. Estou preso nas ferragens, não consigo me mexer. Estou calmo, não consigo virar minha cabeça, mas acho que minha esposa morreu, sem ao menos ver a própria morte.
De onde estou, só vejo a escuridão da estrada e meu próprio rosto ensaguentado refletido no espelho retrovisor. Um carro parou, tenho a impressão de que um homem está falando com alguém, talvez pelo telefone... este homem veio até a mim, está dizendo que chamou os bombeiros e pergunta como estou. Não consigo responder, apenas pisco meus olhos para mostrar que ainda estou vivo. Ele entendeu o sinal e se dirigiu para fora da minha visão.
Quem poderia ter feito aquilo!? Causar um acidente e não socorrer. Meu Deus! Os minutos parecem horas e os segundos passam cada vez mais devagar... o homem está de volta, todo sujo com terra e sangue e muito nervoso. O tensão dele havia me confirmado o falecimento de minha esposa. Até agora ele não tocou em meu corpo. Sumiu novamente da minha vista. O carro de resgate do corpo de bombeiros chegou. Todos estão em minha volta, estão utilizando umas ferramentas enormes para rasgar a lataria. Um dos bombeiros fica gritando “vamos logo, vamos logo com isso! Se não vamos perdê-lo!”. Apesar do momento tenso, eu me mantinha calmo. Estava longe, parecia um sonho. Era como se a morte acariciasse o meu rosto, me pedindo para ficar tranquilo.
No fundo, atrás dos bombeiros, vejo o bondoso homem sentado do outro lado da estrada soluçando muito e com as duas mãos na nuca. Finalmente, os soldados conseguiram me tirar do carro. Me colocaram numa maca e em seguida dentro do carro de resgate. O bom homem está pedindo para me acompanhar até o hospital. O capitão autoriza, o homem entra, senta ao meu lado e pergunta colocando a mão sobre a minha testa: “Como ele vai ficar?” e um dos bombeiros responde friamente trazendo lágrimas aos meus olhos: “Paralítico!”
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui