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Discursos-->George Harrison, um Beatle -- 30/11/2001 - 12:42 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Duvido que tenha havido no mundo alguém que mais amou os Beatles do que eu. Diga espelho meu! Alguém foi mais feliz que eu? Diga, diga, não fique assim calado! Não pode essa tristeza, esse choro baixinho, essa desilusão de criança. Acorda, espelho! É quase Natal, é 1964, quando todos éramos imortais!

Não foi aquele amor das histerias coletivas, foi muito mais que isso. E foi à primeira vista de "I Wanna Hold Your Hand" em compacto simples, quando eles entraram pra valer no Brasil. Naquele tempo não era como hoje, com lançamentos mundiais. Demorava um pouco até chegar por aqui. Depois fomos atrás de tudo que chegava: From me to you; Please, Please Me; A Taste of Honey; e nunca mais parou.

Sim, nunca mais parou, continua até hoje, e a herança já está amalgamada nos filhos; em vida porque, há melhor usufruto do que tocar e cantar Beatles com seu filho? E ouvir sua filha, ainda criança, dizer que sentia alguma coisa no peito ao ouvir "If I Fell", e que dava vontade de chorar. E ver sua filha, já moça, ir aprendendo uns acordes no violão com uma música deles. E sentir suas vozes murcharem ao contar que George, que o George morreu, como se repartissem essa tristeza tão íntima, tão pessoal...

E assim era mesmo. A cada novo disco, a cada nova canção, sempre aquela emoção inexplicável que nos fazia chorar, ou disparar. Quando saímos do cinema depois de assistir, da sessão das 14h até a última do dia, "A Hard Day s Night" - Os Reis do Iê, Iê, Iê - a única coisa que conseguimos fazer foi sair correndo em disparada, pulando pelas ruas e cantando as músicas, até chegar à casa do baterista e tocar, e tocar, e tocar a alegria de ser um eterno aprendiz.

Isso, aprendiz. Com eles aprendi inglês, pois só o repertório deles já era um vocabulário razoável. Até hoje, quando encontro alguma palavra, tempo de verbo de que não me lembro, trato de repensar alguma música deles e quase sempre me vem a frase, a pronúncia, a expressão idiomática: - I ve been tired of here waiting, Mr. Postman. Olha o uso do gerúndio! Quer outro exemplo? - And I do appreciate you being round (Help). E expressões informais, gírias: - Send me a postcard, drop me a line (When I m Sixty-Four).

E "Till there was you", que nos ensinou o acorde diminuto, e que tanto enriqueceu as melodias dali em diante. As músicas do George eram escassas, tamanho o ego e a genialidade da dupla Lennon/McCartney. Das citadas aí em cima nenhuma era dele. Mas sempre se destacavam, traziam um toque diferente, de classe, serenidade. Depois que eles terminaram, George lançou um álbum triplo; era muita energia acumulada.

Quantas vezes dançamos nos bailinhos ao embalo do George cantando "Do you want to know a secret". E como ele, e seu amigo Eric Clapton, fizeram a guitarra chorar, num grito gutural, em "While my guittar gently weeps". Depois o amigo roubou-lhe a esposa, a Patti. Mas artistas são esquisitos mesmo, eles se entendem. Alias, a Patti era uma das quatro garotas que ficavam penteando os cabelos deles no set de filmagem de "A Hard Day s Night". Claro, ela penteou os do futuro marido.

Depois ele se embrenhou pelas filosofias indianas e de lá não mais saiu. Talvez tenha feito bem pra ele, mas as músicas com a cítara, salvo duas ou três, não eram lá essas coisas, a bem da verdade. Talvez orientais demais para o meu ouvido de velho oeste. Mas ele devia curtir muito suas "jam sessions" com o Ravi Shankar, então quem sou eu pra opinar.

E George se espiritualizou, saiu daquela busca que tanto atormentou John Lennon: - All I want is the truth, just gimme some truth (Gimme some truth). O solo de "My Sweet Lord", onde a guitarra toca uma verdadeira prece a Jesus, é um ato de fé tranqüila, serena, provavelmente adquirida em meditação sobre o Universo infinito. Como o solo de "Something" é um afago no rosto da mulher amada.

O George era o mais ingênuo deles. Não tinha o ego do Paul, nem a impertinência do John. E o Ringo ficava na dele, afinal tinha sido o "homem mais sortudo do mundo", ao entrar para os Beatles já no limiar do sucesso, quando o almofadinha topetudo do Pete passou a ser o "mais azarado do mundo". Destino é destino.

E tão ingênuo era que caiu na esparrela daquele Maharashi cara de pau. Foi por indicação do George que os outros levaram as esposas ao retiro espiritual. E o guru safado tentou jogar o lero nas meninas. Mas isso rendeu "Sexy Sadie", que o John fez para o guru de araque: - Sexy Sadie, what have you done? You made a fool of everyone! De araque ou não, em cima dos Beatles ele virou guru milionário. Aliás, é dele, o Sexy Sadie, o fundo que queria financiar aquele prédio lá no Brás, o nosso "Empire States" tupiniquim. Os Beatles eram Midas; ainda são, sempre serão.

Hoje, vamos ouvir "Something" o dia inteiro no rádio. Vamos ouvir declarações de artistas, jornalistas, de todo mundo. Amanhã, tudo já terá passado, como ele mesmo disse em "All Things Must Pass".

Mas no coração daqueles que amaram, e amam os Beatles em silêncio, ele é eterno, como John, e como um dia serão Paul e Ringo. Guardados em nossos CDs, nos velhos LPs, sendo lembrados a cada vez que pegarmos no violão.

Continuará trazendo emoções, lágrimas que às vezes invadem uma crônica sendo escrita, e nos enche de amor o coração, e de sonhos a cabeça dura..

Não vou mentir não, meus olhos estão chorando sim, o coração apertado, porque é uma perda pessoal, um ente querido que se vai. Mas ainda são vestígios dessa filosofia boba, a acreditar teimosa que a vida se esgota tão rápido, como se 58 anos fossem suficientes. Não são, nem a eternidade seria...
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