Lucia foi entrando na minha casa e encontrou Mônica abraçando livros.
—Uma amiga?
Eu e Mônica trabalhávamos juntos.
—Ela é poeta? Que legal.
Mônica tinha dois livros publicados, difíceis de serem encontrados nas livrarias.
—Você que é a Mônica Puzzi? Aquela que escreveu os livros NUANCES DE UM MUNDO e A TERNURA É DESCONCERTANTE? — Perguntou Lucia.
—Isso mesmo.
—Eu só li NUANCES DE UM MUNDO.
Era uma editora pequena de tiragem limitada, dedicada a publicação de poesias e obscuridades literárias da Alemanha seiscentista. Logo, Lucia e Mônica conversavam, trocavam elogios e riam como duas crianças. Mônica foi embora e Lucia começou um papo besta sobre monogamia, heteronímia, quem eu comia.
—Pode dizer, eu não ligo. Um homem pode amar duas mulheres. Eu entendo. É da natureza. Ame as mulheres e transe comigo na roda-gigante.
Mônica tinha 42 anos, era uma mulher com curvas no corpo, mas eu não sentia atração por ela.
—Pensa que eu não vi você de pau duro quando ela mexia nos livros?
Talvez a única coisa que me atraia nela era sua relação com a literatura. Quando a conheci, assistia uma palestra em Porto Alegre sobre “Assassinatos Friamente Literários”. Ela sentou-se do meu lado, achou que eu fosse o cínico do organizador, enfim, depois fomos ao meu apartamento, aquelas coisas...Uma autora ou uma pessoa medíocre talvez. Mas sempre com aquele eco de Diderot “dans toute production poétique ily a toujours um peu de mensonge” (Em toda produção poética há sempre um pouco de mentira).