Usina de Letras
Usina de Letras
287 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62174 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50578)

Humor (20028)

Infantil (5424)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Eu odeio brócolis! -- 14/05/2002 - 14:54 (Walquíria R. S. Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu odeio brócolis!


Aquele que não traz de sua infància traumas alimentares que atire a primeira pedra. Ou o primeiro brócolis. A imagem da minha mãe fazendo suco de acerola e querendo me fazer acreditar que era laranja fere profundamente a minha dignidade. Quem ela pensa que eu sou, ou era? E aquele feijão, que mais parecia uma sopa, de tanta coisa - na convicção dela - "escondida" dentro dele? Isso sem falar no malfadado dia do fígado! Ainda hoje, quando ouço essa palavra, sinto um gosto de bílis na boca. Em nome da nossa saúde, elas, as mães, nos causaram problemas mentais terríveis e traumas profundos.
Desce a cortina. Vinte ou trinta anos e milhões de dólares em terapias depois...

- Mãe, eu não gosto de beterraba!
- Mas tem que comer, filha! A beterraba tem ferro, faz bem para o sangue e para os ossos!
- Ferro? Igual ao ferro de passar ou ao ferro dos portões?
- Esse mesmo!
- Quer dizer que você quer que eu coma ISSO? Mãe, você quer me matar?
- Claro que não sua boba. É o mesmo ferro sim, mas na forma molecular (que me perdoem os químicos se falei alguma asneira).
- Ah, tá legal, forma molecular...Eu não vou comer isso!
- Tá bom, então come a cenoura que faz bem para os olhos...

(Ei, psiu, leitores, vocês perceberam que a mesma pessoa que contou de suas lembranças traumáticas é hoje aquela que traumatiza sua pobre e indefesa filha? Vamos ver no que vai dar essa história).

- Ó mãe, como é que você pode querer que eu coma uma coisa que nem você come, hein?
- Quem disse que eu não como?
- Ué, tó vendo você botar os brócolis pro cantinho do prato...
- Ah, mas esses estão meio passados...
- Então, todos os legumes que eu não gosto estão passados!
- Espertinha! Pode comer pelo menos metade desse prato se quiser as batatas fritas!
- Saco!!!!!!

Um belo dia, essa ex-filha e atual mãe que vos fala estava fazendo sua "feira de supermercado" quando olhou distraidamente para a prateleira de verduras e, mecanicamente, pegou alface, agrião, rúcula...Já ia dirigindo suas mãos para o brócolis, mas subitamente foi tomada por uma espécie de "paralisia filosófica": começou a indagar-se sobre o sentido do brócolis. Toda a sua vida fugira dessa verdura esquisita, amarga, dura, com gosto de (argh!) fígado. (Ah,falando em fígado, eu consegui superar meu trauma gostando e fazendo minha filha gostar de fígado de galinha). Por que insisto tanto nesse absurdo, quando sei que o brócolis vai acabar estragando ou ficando ressecado na geladeira? E, pior, obrigo minha filha a comer essa coisa? Como dizia o sábio Belchior: "minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais".
No dia seguinte, organizei com minha filha e seus amigos uma passeata pelo calçadão do Leme intitulada: "eu odeio brócolis!". Fizemos cartazes com essas e outras palavras de ordem, tais como "abaixo o brócolis, eu quero viver"! Ou:"pela liberdade de escolher os alimentos!" Um sucesso a passeata. As crianças e adolescentes que estavam no calçadão aderiram imediatamente, gritando as palavras de ordem. Acharam meio estranho aquela mulher com cara de mãe liderando o movimento, mas tudo bem. Minha filha, claro, ficou orgulhosíssima da mãe . Só que, no dia seguinte, passada a empolgação do ato, chega a hora fatal: o almoço.

- Filha, escolhe um legume ou uma verdura.
- Pó mãe, você não disse que era pra gente ter a liberdade de escolher os nossos alimentos?
- Então, eu falei pra você escolher alguma coisa...
- Mas eu escolho nada!
- Ah,não. Essa opção não existe. Tem que escolher pelo menos um!

E assim, tudo voltou ao normal no seio daquela família. Pelo menos, para a felicidade de todos, o brócolis foi banido da lista de compras....

Walquíria R. S. Guimarães
Maio/2002

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui