Ainda lembro, era muito jovem, e me encontrava com Flávio na minha varanda. Naquela época não dava importància a poesia de gestos que adormeciam em nossos corações. Mas agora, sentada no mesmo lugar, descubro que os momentos não se perderam, e secretamente agradeço por isso.
Flávio me comove, me faz rir e me faz ter a sensação de que, mesmo com o passar dos anos, podemos continuar juntos, seguindo o mesmo caminho. Ele tem um jeito muito especial. Uma inteligência diferente. Há poucas pessoas assim no mundo. Muito poucos são capazes de transformar um dia de conversa em uma boa lembrança.
Fico tonta, Ã s vezes. São tantas informações para poucos dias. Os anos correm, sem deixar o rastro. Mesmo com essa junção de coisas, conseguimos ainda alinhar nosso tempo, para que a recordação seja perfeita.
Rimos as lembranças dos velhos tempos. Colocamos no chão nossas diferenças. Agradamos, quando possível e sentimos a amizade nos telefonemas de final de semana.
Um vida simples, mas dividida. Não é isso que esperamos? Pois bem. Flávio ainda está por aqui. Entre um agrado e outro: um dia é a água com gás que chega geladinha, depois os filmes escolhidos com carinho. O livro deixado na portaria com o bilhete: "não deixe de ler, vou cobrar depois". As juras de tempo para ver aquela exposição que prometemos e todas aquelas pequenas alegrias que cultivamos com o passar do tempo.
Hoje estou sozinha na varanda. Sentindo saudade, é bem verdade. Quem sabe amanhã Flavio apareça para fazer uma visita. Deixo o mistério se encarregar disso. Vou apenas lembrar mais um vez daquele que amo.