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Poesias-->Um Poema Para Milene... -- 23/09/2002 - 23:49 (Quisera Jardins de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Balada da Neve



Batem leve, levemente,

Como quem chama por mim...

Será chuva? Será gente?

Gente não é certamente,

E a chuva não bate assim...



É talvez a ventania.;

Mas há pouco, há poucochinho

Nem uma agulha bulia

Na quieta melancolia

Dos pinheiros do caminho.



Quem bate assim levemente,

Com tão estranha leveza,

Que mal se ouve, mal se sente?

Não é chuva, nem é gente,

Nem é vento, com certeza.



Fui ver. A neve caía

Do azul cinzento do céu

Branca e leve, branca e fria...

Há quanto tempo a não via!



E que saudades, Deus Meu!

Olho-a através da vidraça,

Pôs tudo da cor do linho.

Passa gente e, quando passa,



Os passos imprime e traça,

Na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais

Da pobre gente que avança,



E noto por entre os mais,

Os traços miniaturais

Duns pèzinhos de criança...



E descalçinhos, doridos...

A neve deixa inda vê-los

Primeiro bem definidos,

Depois em sulcos compridos,

Porque não podia erguê-los!...



Que quem já é pecador

Sofra tormentos... enfim!

Mas as crianças, Senhor,

Porque lhes dais tanta dor?!...

Porque padecem assim?!...



E uma infinita tristeza,

Uma funda turbação

Entra em mim, fica em mim presa.

Cai neve na Natureza...

E cai no meu coração.





Augusto César Ferreira Gil

In Luar de Janeiro
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