se um dia eu fosse chamado
pra cantar no céu, eu ia
de braço com Sá Luzia
numa nuvem amontado
riscava sertão, cerrado
varava a noite num dia
D. Pedro, rei do congado
vez em quando me ouvia
sapo, caçote e jia
Jesus nasceu coroado
se um dia eu fosse chamado
pra cantar no céu, eu ia
eu transo com livusia
lambuso e deixo marcado
tv é bicho escolado
esse mundo acaba um dia
meu jejum é recheado
de orvalho e poesia
chuva quente é na Bahia
amor só presta chorado
se um dia eu fosse chamado
pra cantar no céu, eu ia
mato a caça, lambo a cria
no Dilúvio fui treinado
Noé deixou tudo fiado
quem pagou foi Abdia
ando a pé, vou descansado
vou comendo cantoria
juntando beijo em bacia
rio Tejo, riachado
se um dia eu fosse chamado
pra cantar no céu, eu ia
(para Orlando Tejo)
(mote extraído do livro Zé Limeira, Poeta do Absurdo, de Orlando Tejo) |