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Discursos-->Quando nada é tudo -- 03/12/2001 - 02:29 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ela recebeu um e-mail, um semi-texto longo. Foi lendo e a cabeça trabalhando, os olhos se revirando nas órbitas. A cada frase ia comentando, apurando, respondendo mentalmente aos fatos descritos. Opinando, com os dedos em prontidão, sobre cada palavra que lhe ia além dos tímpanos.

Leu o primeiro parágrafo, releu, deu scroll na tela. Não havia tempo para anotações futuras, mesmo que esse tempo fosse um logo após. Ia respondendo, decifrando as idéias ali mesmo, in loco, em tempo real.

Verteu mil filósofos e livros, citou tudo que jamais lhe saíra do pensamento. Teceu elogios, despaupérios. Chutou o saco, xingou a mãe. Ficou rubra de raiva: - Onde já se viu dizer uma coisa dessas!

Certos parágrafos, lia-os várias vezes, de cabo a rabo, de frente pra trás. Tingia as letras de vermelho, grifava inconscientemente. Rasgava a tela num faiscar de olhos.

Depois se emocionava, tudo via em fonte azul, ciano, brilhante. Acariciava as palavras com cílios sorridentes. Sentia-se mais amada, mais querida. Sabia-se compreendida e aceita: - Eu sabia! Finalmente!

Mas a um ponto e vírgula menos leal, esmurrava a mesa: - Não, por que tem de ser assim? Pára! Não diga mais nada. E as linhas corriam céleres por trás da testa enrugada, em ondas encrespadas de um mar revolto.

Não ia imprimir aquilo. Não juntaria às pilhas de A4 que lhe trouxeram tantos sonhos, tantas vontades. Daria um ponto final antes do fim. Um tecla, e aquela tortura seria triturada entre os chips. De que lhe valia ler tudo, arrastar-se em prantos até a assinatura digital?

Levantou-se, tomou um café, pensou em ir até a rua. Olhava de longe a tela. Estava ali, ainda incompleta, invadindo-lhe os olhos com todas as polegadas possíveis. Engoliu seco, voltou até o monitor - tentou voltar. O choro inundou-a no caminho. Correu ao banheiro, socorreu-se na toalha felpuda, absorvente daquele medo que ia se formando, tal qual tempestade que chega lenta, à espreita no horizonte, que jorra trovões quando não há mais abrigo que buscar.

Desceu a página com a tecla: três parágrafos a ler ainda. Já se alongara demais, não teria forças para aquele sprint, para os metros finais. Desistiria ali mesmo? Deixaria órfãs aquelas linhas que restavam?

Lembrou-se de uma velha Olimpíada, da atleta da maratona, já sem pernas, arrastando-se, amparada pelas lágrimas emocionadas do estádio inteiro, caindo exausta em cima da linha de chegada, nos braços dos fiscais de pista emocionados pela grandeza daquele ato.

Não, leria tudo. Não deixaria escapar uma vírgula, parênteses sequer. Iria até o ponto final, o derradeiro.

Recompôs-se, foi caminhando passos cautelosos. Leu as palavras embaçadas pelas lágrimas ciganas, sabedoras do golpe de misericórdia.

Sem perceber, foi-se-lhe abrindo um sorriso, as lágrimas foram-se inflando mais, gotejadas em sulcos que lhe desciam aos lábios em meia-lua-crescente. O coração golfando a mil motores, as mãos trêmulas, molhadas de suor frio.

Explodiu num choro de felicidade. Deu um urro pré-histórico. Apertou o botão. A resposta se foi, plena de espaços. Tudo estava dito...



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