Ariosto nada mais tinha o que fazer.
Sua esposa estava na unidade do coração, no centro de atendimento intensivo do hospital. Sua rapidez nos primeiros socorros a Célia, foram fundamentais para que ela chagasse com vida no Pronto Socorro de Emergência. Neste momento só a angústia da espera causava seu desconforto. Embora aflição e preocupação tentam absorver seus pensamentos, sente léguas de esperança que lhe dão a certeza que tudo acabará bem.
- Rezo para que esta ansiedade termine logo, quero ver Célia sorrindo para mim. - comenta com um amigo ao seu lado.
Nestas longas horas de espera, os segundos passam como conta gotas. As lentas horas tropeçam nos minutos serenos da vida. A ampulheta do tempo gira vagarosamente para encher novamente o recipiente de areia, mais alguns segundos, gira, volta para encher novamente o recipiente de areia... e volta novamente e enche o recipiente de areia. As horas se arrastam no corredor da emergência. E a ampulheta imaginária atormenta seus pensamentos.
Ariosto tem um quadro em sua frente. E este quadro é uma imensa janela. Ao longe os carros sobem e descem a movimentada avenida. Neste dia carregado de cerração e angústia, Ariosto sente uma impotência que transforma seu desespero em culpa, pois a única coisa a fazer é esperar. Aguardar o retorno do médico. Rogando aos céus para que traga boas notícias.
Neste mesmo corredor da espera, dois homens compartilham este estado de espirito, um grisalho, falquejado pelos anos e um rapaz de porte atlético. Esperam em silêncio, talvez as mesmas notícias que Ariosto, impaciente, espera.
Nesta vida de correrias e desencantos, horários marcados, trabalhos vigiados e metas a cumprir, certamente, haverá momentos que teremos que sentar e esperar. Nossas ações ficam insignificantes e somem numa tarde que cai lentamente com o vaivém dos carros na avenida.
De repente o bip-bip do aparelho torna-se intenso, acelerado e abruptamente pára. Silêncio no interior da sala, apreensão e expectativa no corredor do hospital. O médico plantonista sai e coloca a mão sobre o ombro de Ariosto, um sorriso ilumina seu rosto. Não precisava dizer mais nada.
- Célia. - seus olhos já estão umedecidos de felicidade.