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Cartas-->25. SÁVIO -- 13/08/2002 - 08:45 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fui sempre exageradamente cuidadoso com tudo. Essa qualidade poderia ter superior sentido, se não onerasse demasiadamente as pessoas.

Antes de incorporar-me à matéria, azucrinei a paciência dos estruturantes cromossômicos, pois desejava perfeito o aparelho físico, capaz de agüentar o suplício de vida centenária. E me desejava lúcido até o fim.

O fato de pertencer a esta turma está a indicar que dei com os burros n’água, na saborosa expressão portuguesa. Ao atingir o quinto ano de vida, caí do muro e espatifei o crânio. Se não conhecesse a proverbial atenção dos dignos protetores e a misericordiosa justiça divina, poderia pensar que o castigo chegara “a cavalo”.

Até meu nome incluí na lista das pretensões e quis que os progenitores me dessem o nome de Sábio. Não me entenderam ou o mais próximo era Sávio, de forma que acabei ficando com o nome adulterado.

Hoje, respeito o apelido e gosto de ser lembrado como Savinho, que era como mamãe me chamava, desde bebê. Quando ora por mim e me chama carinhosamente, enterneço-me e lhe mando todas as vibrações amorosas de que sou capaz.

Não tenho muitos assuntos para desenvolver, uma vez que, ao reingressar no etéreo, vim muitíssimo envergonhado pela redução do tempo de vida. A primeira reação foi querer saber quem me deu o “trança-pé”, posto não admitisse que meu anjo da guarda não estivesse atento. Depois, vim a compreender, com muito esforço da parte dos bisavós, que toda criança é traquinas e se sente atraída pela aventura, para o natural teste da capacidade de desafio.

Fora eu quem subira no muro. Devo dizer que à revelia de todos os assistentes da espiritualidade. Quando refiz o fatídico dia, presenciei o filme mais bonito que tive oportunidade de reverenciar no plano do socorrismo aos encarnados.

Estava determinado a copiar o que vira um primo fazer. Chamara-me de covarde, por ter tido medo de trepar no muro. Quando me pilhei sozinho, quis me aventurar, sem medo, para comprovar a mim mesmo que iria subir na vida às próprias custas. Não utilizava esses termos ou esses pensamentos, mas a personalidade voluntariosa só poderia levar-me a esse tipo de reação espontânea.

Bem que ouvia vozinha na consciência, pedindo-me para ser atento e prudente. Na reprodução das lembranças, percebi que os protetores afastaram todos os seres que me poderiam induzir ao tentâmen desastrado. Por outro lado, os familiares foram insistentemente chamados, mas eu me aproveitara do fato de haver visitas em casa, de sorte que mamãe se envolvera em conversa muito absorvente, relegando os avisos do etéreo para o campo das suspeitas que se abafam por improváveis. Por duas ou três vezes, desejou saber onde eu estava e me chamou, preventivamente. Respondi que estava brincando, disfarçando a intenção fatal.

O mais, qualquer um poderá supor.

Deixei a pobre mãezinha absolutamente sensibilizada. Deu-se culpa pelo descuido, mais ainda com a crise matrimonial adveniente das acusações de papai, que não a perdoou. Mas essa é outra história, pois havia seis anos que se casaram e estavam passando por difícil fase do relacionamento matrimonial. O desenrolar dos acontecimentos os separou, definitivamente.

Essa questão esteve a pique de me inquietar para além do que seria de minha responsabilidade. Ao compreender, um ano depois, que a culpa pelo acidente se deveria atribuir unicamente ao meu modo normal de reagir aos estímulos exteriores, quis assumir o papel de pivô, no entrechoque entre meus pais.

O ano seguinte passei sob forte narcótico, que me impediu de sair da colônia para a desesperação. Havia recobrado a idade adulta e me imputava inúmeros crimes, dando-lhes feição muito mais dramática e pungente. Queria a perfeição em todos os atos, por que não haveria de suspeitar de que minha criminalidade fosse superior?

Como os beneméritos auxiliares do Irmão José e meus bisavôs estavam cônscios da fraqueza, revezaram-se durante todo o tempo, para me insinuarem, telepaticamente, do modo que se faz quando as pessoas estão hipnotizadas, as normas evangélicas superiores, especialmente a do perdão, que o Pai nos dá se formos capazes de perdoarmo-nos a nós mesmos.

Não cheguei a lamentar os dois primeiros anos de sofreguidão após o desencarne. Na verdade, bastou que me inteirasse dos sofrimentos da maioria arremessada ao caos umbrático, para me ver apaniguado por especial deferência socorrista.

O que lhes posso dizer a mais é que, se me tivesse mantido com o espírito alucinado pela ânsia da perfeição, iriam deparar-se com exaustiva reprodução de todos os fatos, em dissertação que não iria dispensar o descritivismo e o narrado, para além das conveniências e dos limites estabelecidos para cada membro do grupo.

Atualmente, estou dedicando-me aos estudos das causas prováveis do litígio familiar. Decidi que deverei tornar-me auxiliar dos benfeitores paternos, mas não quero precipitar-me em tarefa superior aos conhecimentos. Sei que o amor supriria muito da ignorância, pois quem age sob o influxo da boa vontade alcança sucesso, ainda mais sob a vigilância de pessoal mais experiente. Mas, como meus pais estão em boas mãos, acredito que os estudos e as investigações práticas me darão definitivas normas de conduta em tais circunstâncias, podendo adaptar-me às condições específicas dos progenitores, sob a orientação segura dos companheiros e mentores.

Se forem argutos, os bons amigos deverão estar concluindo que estou tentando usufruir a vantagem de conhecer a forte tendência às minúcias para aplicar-me, com sagacidade, aos trabalhos determinados para a “Turma dos Primeiros Socorros”. Antes, tudo fazia de maneira torpe, inconseqüente, impensada; agora, pretendo tornar as atividades banhadas pela luz de precavida inteligência, no aproveitamento integral do recente sofrimento cármico.

Não estará aí a “dica” para futuras meditações dos amigos?

Para finalizar, devo advertir que não desconheço os percalços materiais dos encarnados, de modo que não estou sugerindo a imediata aplicação de tão novas orientações no campo filosófico ou teleológico. Como sei que a memória registra indelevelmente todas as impressões que se obtêm na vida, haverá um dia, depois do trespasse, em que considerarão os amigos a possibilidade de estar certo aquele espírito empolado da mensagem que se pretendia sábia. Aí, poderão fazer valer estas noções, na descoberta da própria personalidade e na maneira mais adequada para se vencerem as eventuais dificuldades.

Oremos ao Pai, com fervor, para que a previsão esteja errada, no sentido de que todos os bons leitores regressem à espiritualidade perfeitamente conscientes do alto valor de suas atuações, em benefício de seu próprio progresso.

Valha-nos Jesus!

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