Usina de Letras
Usina de Letras
147 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62219 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50615)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140800)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Um certo dia de primavera -- 20/05/2002 - 01:07 (Orozimbo Herculano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fazia tempo que a gente não se via, e a sensação do encontro superava o bloco de pedras erguido pela distància, guindadas pela saudade. As semanas passavam, se arrastavam, criando sulcos numa terra tantas vezes cultivada, mas que ainda germinava sementes de pura gratidão.
E ainda não seria desta vez.
Esperar por estar, sentir que pudesse, e deixar que o dia encontrasse os caminhos de atração e realização. E num impulso pensei: Fazer a mala e... melhor não. A pressa é a filha predileta da aflição. Telefonar! Sim, mas a cumplicidade com os fios e tomadas nos custam caro e ocultam tantas preocupações. Melhor pensar num gesto de presença, falar através do simbolismo natural dos sentimentos, encantamento que aflora e perdura.
Era isto mesmo. Te mandaria flores, rosas de preferência. Era o meu jeito de colocar toda minha paixão a seus pés a soletrar cada palavra que meu coração pudesse lhe traduzir e invocaria a natureza, porque ela é eterna, assim como é eterna a sensação de sentir teu abraço, o compromisso de poder te fazer feliz, a grandeza de torná-la mulher.
E escolher a cor é favorecer o sóbrio sob o manto da beleza, prezar a consistência ensejando a realidade, edificar a arte pela vontade de brilhar.

Entretanto, o real e o imaginário se aceitam como elos de uma mesma corrente quando o ideário sonhador releva e expõe nossas visões remexidas do inconsciente. E nesta torrente de pensamentos, presentes e envolvidas por divagações, pensei em tantos encontros e desamores nesta selva de emoções. Certamente, apenas exercício logístico de nossas frustrações, em nada contribuindo com nossas idosas inquietações. O fato é que a nossa concepção de dar e receber, obscurecida pela nossa visão contínua de valor imediato, propicia reações de amor e ódio, levando-nos a trilhar pelos caminhos tortuosos da ilusão.
E assim me transportei para algum lugar do presente.

Saí bem disposto, e apesar da ameaça de mais chuva, deixe-me levar pela idéia fixa do compromisso. Olhar atento e algumas quadras adiante, entrei, acho mesmo que seduzido pelo aroma campestre de tantos arranjos na entrada, cena já vista em óleos na exposição da semana passada.
Sorriso gentil, e após breves cumprimentos com a senhora, sugeri que as rosas deveriam ser...Amarelas.

Saí e imaginei que ao receber tão delicado buquê, sua reação poderia ser de espanto, comoção, surpresa, e traria, claro, alguma mensagem refletida em intenções denunciadas pelos traços apressados, escritos talvez em azul que assim diziam:

"Terras distantes me aguardam, e nesta caminhada estou só, abraçado com minhas esperanças, meus desejos, meus fracassos. Não estou com você agora e não estarei com mais ninguém, mesmo porque o melhor que tive não foi o melhor que aconteceu. Sair e não voltar, são novas frases no meu diário, escritos à luz de minha própria escuridão, letras distoantes que nunca ouviu, mas que sempre estiveram entre nós. Estas flores murcharão com o tempo e se perderão. E perdida também foi nossa missão, que cansada dos dias tornar-se-á um pote de cinzas esquecidas. E se um dia voltar, será para recolher pedaços que insistiram em utopias, que como quis, nunca serão lembradas."

Como um filme de Goddard, minha mente travestia situações, como a brincar com o imponderável, o inexistente, e neste ritual de aforismo, declinei: as rosas seriam....brancas.

Dei uma olhada rápida na agenda, fiz algumas anotações e enquanto tomava a rua, tive uma breve percepção do olhar surpreso que faria, encenando logo um sorriso meigo pra disfarçar. Receberia estas flores, pensei, e ficaria enrubescida, pois jamais aceitara atitudes tão gentis de minha parte. Sua introspecção se refletia nitidamente nestes momentos.

Escreveria alguma coisa, qualquer coisa. Teria um toque pessoal, sem palavras rudes, nem trópegas frases, deixando que as flores transmitissem o que talvez sempre aceitamos. E escrevi:

"O que existiu entre nós foram bons momentos, lugares comum de uma existência bem sucedida. Foi bom te sentir tão perto, ingerir o líquido fresco e natural do teu saber, te ver como uma flor ainda por florir. E quando estivemos ausentes, a saudade soava como sinos distantes numa manhã de domingo. Criávamos um clima de afinidade e ternura, ao ponto de nos tocarmos com carícia e afeição. Não intencionamos o ato carnal, mesmo porque tudo era muito mais espiritual. Sempre quis que soubesse, embora me dissesse e não acreditasse, que nossa amizade foi maior que sentimos e o que não sentimos era maior por si só. O que poderia ser nunca foi escrito, e aconteceu o que nós mesmos ditamos. Como companheiros, como sempre seremos, assim estaremos para enfrentar nossas imperfeições, glorificar nossas virtudes, entender nossas causas. E essas flores restauram velhas incompreensões, amparadas por novas razões."

A verdade se solidifica com o passar do tempo, pois ela fragmenta as fantasias. Alguém pensou nisso? Pouco importa, pois ela, a verdade, se encerra e se basta.
No crepúsculo desta aventura, ressaltar uma verdade seria provocar outra ousadia. E tentando entender a linguagem dos sábios, preferi o pretexto dos apaixonados, que sonham com todas as flores, lindas pinturas, e na ànsia de mostrar sua paixão, elegem as rosas... e seriam vermelhas.
A ocasião sempre foi especial e a adrenalina marcava os batimentos de um coração que se proclamava vencedor, exultante pela razão divina de amar.
Tão especial seriam as rosas, como também seriam as palavras. Impossível em qualquer momento. A mão no peito sentindo o coração disparado e o brilho dos olhos... e todas as palavras já estariam ditas. Entretanto, a calmaria e o silêncio daquela hora me convidava a escrever, e assim foi feito:

"Eu sempre dediquei o nosso encontro a um capricho dos deuses, tão inusitado fóra. Encontro... não seria uma descoberta?! O encontro tem algo de casual, enquanto a descoberta tem propriedades de inusitado, de proibido, de risco. Acredito que num certo instante agregamos tudo isso, com motivos óbvios de parceria e aceitação.
Seria redundante interpretar nossos dias, pois uma história de paixão só se exala com os últimos suspiros de quem a viveu. Mas agora quero mesmo é te dizer o quanto te quero querer.
Me importar com nossas conquistas, nossas angústias, nossos desejos, nossas carências, os outros eus que nos surpreendem e o desígnio de cada ocasião que nos fortalece e nos harmoniza.
Abracemos nossa liberdade e façamos dela nossa aliada nos instantes de maior responsabilidade, porque no amor, temos a escolha como opção e o compromisso como razão.
Estar sempre presente e sentir você por perto, porque juntos somos prósperos.
Quero vibrar cada segundo seu, tomar tuas mãos, ouvir seus receios, te proteger das suas inseguranças, sentir teus medos, tocar sua face e enxugar tuas lágrimas, te acalentar no frio e...
Cada carinho trocado que seja saudado pela ternura de seu olhar, e cada beijo, sugado e correspondido com o ardor dos amantes. Que cada entrega seja a edificação de uma rara obra de arte, lapidada com prazer e sedução.
Que nosso amor se perpetue pelas gerações, e qual uma semente, resnaça no coração dos nossos filhos e se espalhe como pétalas numa brisa de primavera.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui