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Artigos-->memória em tentação -- 12/06/2000 - 15:57 (jorge pieiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Memória em Tentação

- imagem e poesia inundam a contemplação de um josé



"bendito é o lugar onde não somos"

jorge pieiro





Em certo sentido, as manifestações artísticas representam o desejo coletivo da humanidade, impulsionadas pelas metáforas que concretizam uma possível experiência de futuro ou a transformação vigorosa do passado. Nesse conceito, reúnem-se os espíritos da inovação e da tradição, convergindo para uma realização do tempo presente.



Como afirma George Steiner, em uma das conferências reunidas no livro "No castelo do Barba Azul", "as imagens e sínteses mentais do passado são impressas, quase à maneira da informação genética, em nossa sensibilidade". Se tratamos da sensibilidade que se transforma em Arte, podemos encontrar a certeza dessa informação no trabalho que vem sendo desfiado, pacientemente, pelo premiado cineasta cearense José Araújo (1952).



Há mais de 25 anos entre Brasil e Estados Unidos, José Araújo nunca se distanciou do simbolismo salutar e eficaz do espaço da sua infância na cidade de Miraíma e da adolescência segmentada entre o Seminário da Prainha e a perseguida sobrevivência em um Banco do Nordeste do Brasil.



A sensibilidade poética do artista sempre o deixou à vontade naquela terra mecanizada, estranha e compulsivamente hipócrita e conservadora para representar as imagens e a síntese do seu povo. Se, por um lado, sobreviveu - um atestado de inteligência -, por outro, formou-se e tornou-se mestre em cinema, transferindo-se para sets como técnico de som em filmes internacionais ("Salmonberries" e "Younger and Younger", dirigidos pelo Percy Adlon de "Bagdad Café"; "Minha Família", de Greg Nava, produzido por Coppola; e "Mallrats", de Kevin Smith) e como astuto colaborador e observador no aprendizado prático dessa Arte. Com esse sutil delírio de predestinado, roteirizou e dirigiu seus documentários e curtas repletos de poesia, dentre os quais o "Salve a Umbanda", premiado nos festivais Margaret Mead Film, Nova York; San Antonio Cine, Texas; e Film Arts, San Francisco.



Até que "O Sertão das Memórias" desafiou e deu novas forças ao Cinema. O que disseram a crítica mundial e o resultado dos grandes festivais?! Vale dizer, em se tratando de José Araújo, que a grande metáfora não está na ficção, no roteiro, nas alegorias, mas no fundamento que antecipa a criação cinematográfica, no argumento e na tese do seu autor: o mundo todo é o que fui e com quem passei...



Assim, quem precisaria de atores globais para uma revelação, se por si bastava transformar em heroína, Jesus de saias da sua obra-prima, a sua própria mãe? Ou o silêncio mascado do pai, enquanto ator, juntamente com o verdadeiro Prefeito, o verdadeiro Padre e a população da sua Miraíma, desconhecido sertão cearense, e que num passe de mágica sensibilidade, passara a ser repetida nas telas do mundo inteiro?



Há, decerto, rumores de discórdia e defesas passionais, mas o produto vem demonstrando o seu poder de tal forma, que muitas vezes se dissocia o José Araújo, roteirista e diretor, da obra premiada. Ou, por outro lado, aperta-se o cerco ao fato de que, provavelmente, o cineasta de – até agora – um longa só, premiadíssimo, jamais repetirá tal façanha. Interferindo nessa inócua discussão, acrescentamos que isso é o menos interessante. A glória dessa memória e obra, ninguém pode renegar. À parte isso, polêmicas são sempre benéficas...



E o que veremos no próximo longa-metragem? Roteiro já definido, burocracia reinando, verbas caçadas, "As Tentações de São Sebastião" (título provisório?)tem todas as condições de mudar o rumo da trajetória do cineasta, embora nela já esteja encravada a marca, a atração pelo recorrente, pelo passado, pela história que se ficciona e se recria metaforicamente.



O que podemos, então, dizer de José Araújo e de suas aventuras, se não a mancha apenas daquilo que não podemos precisar em originalidade e exatidão? O cineasta nos demonstra ser um verdadeiro poeta, e como tal, um estranho nesse universo de imposições e grosserias burocráticas; e como tal, um saudável arlequim de Deus cumprindo sua missão de transformar a sua aldeia e memória no grande universo mítico; e como tal, o homem que permite o vínculo com a miragem e sua realização.



Se consideramos o José também um poeta é porque nos detemos na lucidez da sua perseverança como criador e criatura, portanto um ser mais que imperfeito e que interessa. É essa representação que ele reflete nas telas de cinema, que nos instiga a perseguir o itinerário da ilusão e da profecia, sem vender peixes em templos ou consumir-se de neons. Afinal, a poesia deve ater-se também aos limites da ética e da infinitude, como descritas nas "ima®gens" das ilusões do cineasta.



O José de Araújo de "O Sertão das Memórias" e d’As Tentações de São Sebastião" - por vir a se realizar - nos homenageia com uma poesia plena de mistério, como se proclamasse a ação dos versos de Píndaro, para quem "na glória da poesia a realização dos homens floresce longa; mas disso a realização a poucos é dada."



Quem saberá contemplá-la?



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fragmentos da crítica a "O Sertão das Memórias"



"(O ‘Sertão das Memórias’ é uma)...narrativa poderosa, (tendo em vista) o lirismo de seu imaginário, a utilização econômica de recursos e o rico uso da alegoria." Júri do Sundance Festival.



"Esse é daqueles filmes que quando você dá conta, está totalmente tomado por ele". Alfonso Cuarón, cineasta mexicano.



"O Sertão das Memórias" é um daqueles raros filmes que se prolongam por muito tempo depois do seu final na mente dos seus espectadores, fazendo com que todos formem suas interpretações individuais sobre aquilo que viram. (...) É um maravilhoso testemunho da cultura do José Araújo, seu amor pela terra seca e suas memórias, poesia e espiritualidade." Ramiro Puerta, cineasta colombiano



"Sem concessões às exigências do cinema entretenimento, trata-se de abordagem erudita e rigorosa levada às última conseqüências em termos de estilo e de conteúdo filosófico, méritos reconhecidos pelo prêmio Wolfgang Staudte (Festival de Berlim)" José Tavares de Barros, da Organização Católica Internacional de Cinema.



"Profundamente fincado no solo nordestino, "O Sertão das Memórias" é um dos filmes brasileiros menos provincianos (leia-se colonizados) dos últimos tempos." José GeraldoCouto, jornalista e crítico de cinema.



"Dado o seu tom místico, ricamente tecido em preto e branco, em partitura de Naná Vasconcelos, ‘O Sertão das Memórias’ pode bem conseguir o status cult de ‘Koyaanisqatsi’." B. Ruby Rich, the village voice.

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