Por ocasião de seu centésimo aniversário [o DIE WELT online aposta no dia 27/12; alguns jornais brasileiros online adiam a festa para o dia 28/12]: os melhores filmes de uma diva e suas muitas facetas. Os interessados que entrem no www.google.com.br, inscrevam Marlene Dietrich em busca , e depois nos contem como foi a viagem.
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Para Bruno Freitas, Beto Muniz e Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
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Por Hanns-Georg Rodek
[para o DIE WELT online, 26/12/2001]
Trad. e comentários: zé pedro antunes
[para Bruno Freitas, Beto Muniz e Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior, que não se cansam de saciar a nossa incurável, ainda bem, cinefilia]
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Depois dos 100 livros que todo alemão deveria ter lido [referência a uma lista elaborada pelo crítico Marcel Reich-Ranicki: "Das literarische Quartett"], já é mais do que tempo para uma outra lista de natureza cult: a que traz uma dúzia de filmes estrelados por Marlene Dietrich, e que, obrigatoriamente, todo mundo tem de ter visto para ainda dar palpite sobre o tema (alguém quer apostar como Reich-Ranicki não viu todos?). Nossa parada de sucessos cinematográficos começa pelo número 12 e termina com o campeão de todos os páreos.
Nr. 12: "Marlene" (1999). Pode-se cultuar o mito de Marlene, destroçá-lo, comentá-lo com ironia. Mas uma coisa o diretor Josehp Vilsmaier teria de ter evitado: rebaixar sua vida a uma novela. A um só tempo triste e típico dos tempos que correm, este é, de uma centena de filmes, o único a ser mostrado em horário nobre. Katja Flint desempenha bravamente o papel-título. (A ser exibido nesta sexta-feira, 27.12.2001, às 20.15, pelo canal ZDF)
Nr. 11: "O diabo feito mulher" [The Devil is a Woman] (1935). Joseph von Sternberg [O anjo azul], o criador, presta uma derradeira homenagem à criatura. Único filme do qual Marlene guardava uma cópia, por ter sido a síntese perfeita de uma parceria inigualável. Como um possesso, Sternberg burilou cada uma das imagens, e o resultado chegou a ser chamado por um crítico de "arte congelada, por cujo coração o sangue já não corre". (nesta sexta-feira, 27.12.2001, às 0.10, pelo canal BR)
Nr. 10: "Marlene" (1983). Num momento em que ela não mais se deixava fotografar, o ator/diretor Maximilian Schell entra no apartamento da atriz com uma fita de áudio, incitando-a a tecer comentários sobre sua carreira de atriz e cantora, para depois inseri-los como trilha sonora para um apanhado de cenas de filmes. Forma crítica e respeitosa de abordar um mito (27.12.2001, às 23.00, no ARD)
Nr. 9: "Testemunha de Acusação" [Witness for the Prosecution] (1957). Inicialmente subestimada como exercício virtuosístico do diretor alemão Billy Wilder, com estrelas que estariam além do seu zênit, a película conquistou um lugar proeminente como filme preferido de todos, aquele que todo mundo gostaria de ver mais uma vez. Billy Wilder trabalha agilmente com a imagem de seus atores. Marlene é a loura fria, a besta ordinária, a amante e a fúria vingadora – tudo isso numa só persona. (exibido em 25.12.2001., às 23.10, pelo ARD, voltando a ser mostrado hoje, 26.12.2001, às 21.50, pelo BR)
Nr. 8: "O Expresso de Xangai" [Shangai Express] (1932). Marlene Dietrich como dama de má reputação em meio a caracteres embaralhados, em perigosa viagem de trem de Pequim a Shangai: O cenário perfeito para Marlene, num estonteante body dress preto, estola de pele e penas de rabo de galos de briga mexicanos. (exibido em 25.12.2001, às 23.55, pelo canal BR)
Nr. 7: "Julgamento em Nuremberg" [Judgement at Nürnberg] (1961). No filme de Stanley Kramer sobre os processos contra os crimes de guerra praticados pelo nazismo, Marlene representa, ao mesmo tempo, aquilo que ela encarnou (uma mulher de formação prussiana) e combateu (uma mulher pertencente à casta germânica dos guerreiros).
Nr. 6: "Um affaire estrangeiro" [A foreign Affair] (1948). Três anos depois do final da guerra, uma sátira mordaz aos vencedores e aos vencidos, com Billy Wilder (direção) e Marlene Dietrich de volta à amada e destroçada Berlim do início de suas carreiras. E Marlene volta a cantar num Night Club, e Friedrich Holländer [também ao piano em "O anjo azul"] torna a acompanhá-la, e ela está tão tentadora, que, ao final, vai precisar de uma escolta de cinco homens [GI’s] para aprisioná-la. (em exibição hoje, quarta-feira, 26.12.2001, às 23.05, pelo BR)
Nr. 5: "A Vênus Loira" [Blonde Venus] (1932). Marlene nunca foi tão extravagante: do traje de gorila, mini-saia tipo selva e peruca loura, a fraque branco e cartola. A cada tomada, o diretor Erich von Sternberg acaricia sua fria beleza, e Cary Grant sucumbe direitinho ao seu "Hot Voodoo" (exibido no dia 22.12.2001)
Nr. 4: "Desire" [não encontrei o título em português] (1936). Filme que transformou La Dietrich, de pássaro exótico, em estrela do cinema americano: Nas mãos do diretor Ernst Lubitsch, ela deixou de ser a inatingível, em sua frieza, agora a encarnar a ladra de jóias elegante e coquete. Dos olhos azuis, um lampejo de ironia. (exibido em 23.12.2001)
Nr. 3: "Destry rides again" [Der grosse Bluff - talvez, "O grande blefe"?] (1939), dirigido por Georges Marshall. Mais uma troca de pele: a mundana dá lugar à gatinha de saloon, com um coração de ouro, a se pegar no tapa com James Stewart (e morre a morte do herói). Quem pode afirmar que Madonna seja a inventora do "eterno transformismo"? (exibido em 24.12.2001, às 22.55, pelo WDR e em 25.12., às 23.15, pelo ORB)
Nr. 2: "A imperatriz galante" [The Scarlet Emperess] (1934). Uma festa inusitada para a câmera de Joseph von Sternberg, que galopa em meio à austeridade dos saguões e escadarias do Kremlin: o bruxulear das velas dos intermináveis painéis e os figurinos de zibelina de Marlene, aliás, Catharina, a Grande. Deslumbrante e cruel. Tão inovador, que ainda hoje provoca espanto. (em 26. 12.2001, às 23.45, pelo BR)
Nr. 1: "O anjo azul" [Der blaue Engel] (1930) [baseado no romance de Heinrich Mann "Professor Unrat", com o grande Emmil Jannings assumindo o personagem título do livro]. Fonte e coração do mito: por muito tempo, Marlene afirmou ter sido esse o seu primeiro filme, apesar dos 17 filmes mudos constantes em seu currículo pregresso. Na noite da prémière triunfal em Berlim, o mito embarcava num trem, e a viagem só terminaria em Hollywood. (exibido em 26.12.2001, às 22.55, pelo ARD)
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