Mexam-se!
Carlos Claudinei Talli
Dia destes eu estive pensando sobre as seis edições por pontos corridos que já aconteceram no Campeonato Brasileiro. E uma coisa saltou aos olhos imediatamente. Até o ano de 2005 ainda existiam alguns craques foras de série jogando no futebol brasileiro. Depois, foi uma secura de dar pena. Senão, vejamos:
Quando o Cruzeiro se tornou campeão em 2003, as atuações espetaculares do meia Alex, que hoje joga no Fenerbahçe da Turquia, deixaram os amantes do futebol bem jogado rindo de orelha a orelha. Ele fez de tudo e muito mais. Aqueles gols antológicos por cobertura ficaram na memória de todos.
Em 2004, jogavam no time campeão, o Santos, Robinho e Ricardinho, outros dois jogadores foras de série. Foi o ano em que seqüestraram a mãe do Robinho. Apesar disso, o Peixe, com dificuldades, pois o título só veio na última rodada, jogou e agradou. Nem tanto quanto em 2002, mas...
O Corinthians-MSI de 2005, apesar da confusão que o dinheiro russo de origem desconhecida provocou, se tornou o campeão tendo no seu elenco vários jogadores acima da média, casos de Tevez, Mascherano, Marcelo Matos, Roger etc. etc. Inclusive, o argentino Carlitos Tevez foi eleito o melhor jogador do torneio.
A partir de 2006, ano emblemático, não encontramos nenhum fora de série no futebol brasileiro, mesmo procurando com uma lanterna de Diógenes! E de lá pra cá, o mesmo quadro desolador se repete ano após ano, num ritual enfadonho e sem graça que irrita profundamente aos amantes do futebol bem jogado. Infelizmente, este colunista é um deles. E eu não agüento mais.
Um fato curioso se apresenta como corolário dessa situação: nesses três últimos anos, de vacas magras, o São Paulo nadou de braçada, e se tornou tricampeão brasileiro com todos os méritos. Será que é uma coincidência? Ou tem tudo a ver com a falta de craques no nosso futebol?
Inclusive, em outro artigo que escrevi há algum tempo, eu apelidara o tricolor paulista de ‘o campeão do bom e do barato’. Realmente, desde aquele time que o técnico Cuca montou com alguns jogadores vindos do Goiás, que serviu de base para os outros que vieram a seguir, o São Paulo se especializou em montar times com jogadores tecnicamente medianos já revelados em times menores. E de lá pra cá, não teve pra mais ninguém.
Eu quero deixar claro para todos os felizes torcedores são-paulinos que essa minha constatação não é uma crítica, muito pelo contrário, um tremendo elogio à forma de administrar da diretoria do tricolor paulista. Se recordarmos um pouco, apesar de o atual técnico Muricy Ramalho ser um baita treinador, também o Emerson Leão e o Paulo Autuori deram certo no Morumbi. Isso mostra que a forma de administrar, diferente de qualquer outro clube no Brasil, é o mais importante. Quando o clube proporciona um ambiente sadio e bom para o trabalho de todos, comissão técnica e jogadores, o desempenho do técnico fica enormemente facilitado.
E se os outros clubes brasileiros não se mexerem para mudar a forma de administração, me parece que essa hegemonia tricolor vai perdurar por mais algum tempo. Do jeito que a carruagem anda, o tetracampeonato é apenas uma questão de tempo.
Palmas para o tricolor paulista!
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