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Contos-->Fé e poeira -- 16/06/2000 - 07:56 (Edson Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




O dia era mais que perfeito. A natureza havia combinado todos os matizes e nuanças das cores para que o resultado fosse impecável. O azul do céu, o verde de todas as árvores que, malgrado a estação seca, teimava em mostrar-se presente. Conspirando como um agente revelador, naquele dia também o sol apareceu mais vivo , mais dourado, como se fosse o maior responsável por toda aquela beleza, que quase todos os dias se encontrava ali, ao alcance de todos nós, mortais , mas que nem sempre era notada.

O contraste que o quadro sugeria era interessante, pois estávamos em Brasília. Lá, onde tudo tem uma razão de ser como é. As cores naturais emolduravam a cidade que contribuía com o branco das fachadas de seus prédios, tão conhecidos pela arquitetura modernista. E não só o branco, como também o cinza esverdeado do concreto armado, que surgia em prédios que são verdadeiras odes à arte e ao bom gosto. O espetáculo podia ser bem apreciado sem o tumulto de todos os dias, pois a cidade estava praticamente deserta, numa manhã temperada pelo vento frio da madrugada, que dava lugar ao calor que se instalava sem cerimônia.

As primeiras pessoas já passeavam pelo Eixo Monumental, outras se encaminhavam ao trabalho por ali mesmo, eram os guardas, guias turísticos, vendedores. Reinando absoluta, em virtude de suas linhas arquitetônicas tão incomuns, lá estava ela, sem dúvida um dos mais belos monumentos de Brasília ; a Catedral. Protegidos pelos profetas do mestre Aleijadinho , seus arcos brancos que brotavam do chão vermelho, coberto de concreto e grama, se elevavam a uma altura perfeita, sendo enfeixados numa simetria irrepreensível, buscavam levemente os céus e tornavam ao encontro da terra como se desmaiassem. O branco das colunas dispostas numa circunferência bem acabada emolduravam um mosaico moderno em vários tons de azul.

À entrada um policial, que não estava ali para prender, fazia as vezes de guardião do templo. Mas o guardião era moderno : pistola, óculos escuros. Os menos favorecidos eram representados por dois mendigos, que teimavam numa conversa junto ao policial.

Entrando na igreja , os azuis do mosaico tornavam-se mais intensos e revelavam ainda mais o mármore de que era revestido o templo. Um fiel rezava sentado no último banco, tentando, grosso modo, mostrar sua fraqueza diante do Pai. O tapete vermelho, que dividia as duas colunas de bancos, seguia da entrada ao altar, que era simples : dois ou três arranjos de flores , comuns àquela região, uma grande cruz de madeira onde um Jesus olhava e se apiedava de quem se aproximava um pouco mais.

Num movimento negligente, percebemos a imagem da Virgem Maria, com o filho no colo, a pedir piedade , misericórdia e alento para as dores do filho. A estátua era concebida em mármore branco e frio, mas não admitia frieza e insensibilidade de quem a observava. Os traços simples, a tristeza e a dor eram quase reais e por um momento ouvia-se um murmúrio pedindo a paz.

Os anjos, que pendiam do teto, suspensos por poderosos cabos de aço, não anunciavam nenhuma boa nova, eram de concreto e suas fisionomias pareciam estéreis e incapazes de transmitir algum sentimento. Não, o artista não fora infeliz ao esculpi-los, fora perfeito, não lhes definiu o sexo, deu-lhes uma beleza diáfana e uma leveza que não se conjuga com o concreto. Mas os anjos não conseguiam transmitir nada, nem se pudessem falar não poderiam , porque estavam sufocados, não pela fé , mas pela poeira , que além da beleza , reinava no lugar.
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