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Discursos-->Anjos e feras -- 07/12/2001 - 20:16 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Foi jogada quase nua na areia grossa. Prostrou-se de olhos fechados, a mente já entorpecida por carinhos queridos. Ouvia ao longe o rugir da multidão, enquanto sentia o coração apalpado por mãos carinhosas.

Lembrou-se dos últimos instantes, afagando a mãe doente. Trazia-lhe frutas frescas, tâmaras e vinho puro. O sol implacável tingia a face da mãe querida. Ela a protegia com panos leves, alvos, transparentes. Tornava gotas frescas naquele rosto cansado, exaurido. Sentia-lhe o sorriso tênue.

Lembrou-se dela jovem ainda, sorridente. Viua-a flanar pelas campinas orvalhadas, colhendo uvas rubras e gotejantes. O pai preparando o vinho paciente, colhido nos pés macios da esposa adorada.

Ainda podia ver as ovelhas felpudas, ruminando a relva curta, tenra. Beijava-lhes a pele nas noites frias, de longas ventanias. O uivo da noite a levava a tantos sonhos. Via jovens mancebos, cavalgando nas vias pedregosas, imponentes em sua juventude frondosa.

Voltou mais a lembrança. Era um jovem, de cabelos ainda encaracolados. Cavalgava bravo corcel branco. Levou-a um dia a cavalgar, vararam longas trilhas perfumadas, breves desertos. Trouxe-lhe uma flor, e lhe jurou amor eterno.

Beijou as pétalas do eterno compromisso, apertou-as junto ao peito. Era feliz, da felicidade mais inalcançável. Dançou em véus ao seu prometido.

Voltavam à casa ao anoitecer. Furtavam-se nas sombras até a cabana. Seu beijo de despedida fazia brotar nova estrela no céu. Sonhava entre as flores que lha presenteara.

Foram dias de sua felicidade, guardados no segredo do seu coração venturoso. Acordava em olhos límpidos, iluminados. Cuidava da água pura e das roupas a secar.

Muitos anos se passaram. Viu naquele menino um homem. Garboso, imponente, de olhos faiscantes. Percebeu que lhe evitava o olhar profundo, a erguer a espada de fina prata. Chorava nas noites, rezava-lhe preces de iluminar.

A mãe lhe sabia o amargor. Em vão lhe acariciava os cabelos longos e saudosos: - Venha, minha filha. Há tanto a fazer.

Saiam as duas a trazer leite das cabras. A mãe notava-lhe as lágrimas de amor puro. Juntava-se a elas, num pranto cúmplice de tamanha amargura. Enxugava-as, e a tomava pelas mãos: - Vem, vamos colher flores.

Ela via nos olhos crespos da mãe uma bondade infinita. Passava as noites a pensar se tal mãe seria de seus filhos. Dormia um sorriso de esperança.

Logo o pai se foi, em intriga com cavaleiros. Chorou muito, abraçou o peito calado do velho barbado. Beijou-lhe as mãos e cerrou uma porta no coração.

Os irmãos foram-se na vida, deixaram-lhe a mãe querida e alquebrada. Passou a se reunir entre amigos, guerreiros da mesma lida. Quando voltava, tarde da noite, pingava nos lábios da mãe a água ungida. Via-lhe a febre acalmar.

Num dia inesperado tudo perdeu. Arrancaram-na dos braços da mãe, já entregue ao criador. Arrastaram-na qual criminosa, sangrando-lhe os pés delicados.

Mal teve tempo para acordar. Ao abrir os olhos uma fera arrancou-lhe o coração num golpe violento. Caiu-lhe o órgão vermelho na areia cinza. Não pode nem imaginar a dor lancinante, já braços amorosos a recebiam.

Subiu lenta o iluminado caminho, enquanto atrás deixava um corpo em espasmos anímicos, na boca da inocente fera. Voltou os olhos e viu, entre a fumaça negra do planeta que deixava, as lágrimas intensas jorrando nos olhos do dourado amor. Seguiu tranqüila, sabendo que o tempo lhe seria infinito...





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