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cronicas-->FUTEBOL É MESMO BOM PRA CACHORRO? -- 26/05/2002 - 23:08 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Olá! Meu nome é Willy, sou um poodle branco. Moro numa casa que às vezes parece um sanatório, com três donos homens e duas mulheres. As mulheres até que são boazinhas, apesar de a mais nova ter a mania de me dar banho e me espetar com agulhas de vez em quando. A mais velha é a que fica mais brava quando eu faço xixi dentro da casa. Mas eu não entendo, porque tomo o cuidado de fazer no mesmo lugar onde os homens fazem, em cima daquela coisa que parece uma cadeira sem pés. Mas um dia ela vai entender!

Eu disse que a casa parece um sanatório de vez em quando por causa do comportamento dos homens. Sou muito amigo deles, principalmente do mais velho, que é o que me dá comida. Ele coloca o prato numa caixa, aperta uns botões e, quando a caixa apita, eu sei que está pronto. Mas, em alguns dias da semana, os três se reúnem em frente a outra caixa, uma bem grande, que, além de apitar, solta também outros sons, vozes até, e luz colorida. Eu não enxergo nada ali, mas eles não desgrudam os olhos. Eu já aprendi, nesses 15 anos de vida de cachorro, que quando o vidro na frente da caixona está verde, é dia de loucura. Como é mesmo o nome daquilo que eles vêem? Já eu me lembro...

Nesses dias, eu escuto com frequência as mesmas palavras, como, "chuta logo", "passa a bola certo, vagabundo", "burro", "esse Gil é um merda" e várias outras que não posso dizer aqui. Mas uma frase eu ouço muito mais que as outras que é "vai Coríntia", em vários tons diferentes: de lamento, de alegria e de raiva. Esse Coríntia deve ser muito importante, pois eles parecem gostar mais dele do que de qualquer outra coisa no mundo. Como eu sou um cachorro, vocês devem saber que tenho ouvidos muito sensíveis. Eu os aviso, eu lato e resmungo que não gosto de barulho, mas eles ficam como que hipnotizados, e nem ligam pra mim. Me mandam calar a boca, às vezes.

Mas a pior hora acontece sempre de repente. Quando a voz da caixona começa a aumentar de intensidade, eu já me preparo, porque às vezes ela explode nuns berros insuportáveis, e aí eu tenho que latir alto e morder os pés do sofá onde eles estão sentados, para tentar manter alguma ordem. Mas não adianta! Eles pulam e gritam "Coríntia, Coríntia!". E o que é pior, da rua ouço sons de explosões, que machucam mais meu ouvido, aí eu tenho que me esconder em baixo das camas e nos cantinhos, pois tenho medo. Tem algumas vezes que a voz da caixona grita "goooooool" e eles não gritam, ficam só se contorcendo e se lamentando no sofá. Nessas horas eu também lato, pra tentar animá-los, mas eles me mandam calar a boca de novo. Aí as minhas donas riem, mas não gritam, pelo menos. Pelo que eu entendi, elas gostam de uma outra coisa, semelhante ao Coríntia, que não é tão importante assim, pois nunca aparece na caixona. Acho que é uma coisa verde, se não me engano.

Tenho notado que ultimamente eles têm repetido esse estranho ritual humano mais de uma vez por semana. Espero que isso não dure muito tempo, pois meus ouvidos já não estão aguentando mais. Esse tal de Coríntia podia aparecer menos na caixona, podia provocar menos momentos como aquele em que meus donos ficam gritando, podia fazê-los sofrer menos no sofá. Mas me parece que isso não vai acontecer tão cedo, porque eles sempre estão falando que "o Coríntia vai meter bucha domingo" e coisas assim. Será que isso vai continuar por muito tempo? De qualquer forma, não posso desejar isso, pois, na maioria das vezes, eles ficam felizes e satisfeitos depois que o negócio acaba... como na semana passada, que eles ficaram mais alegres do que o costume, dizendo algo sobre alguém que já era freguês...

Só espero que não aconteça tão cedo o que me aconteceu há quatro anos. Não gosto nem de lembrar. Todos os humanos pareciam ter enlouquecido e ficado iguais aos meus donos durante um tempo. Até as minhas donas ficavam sofrendo na frente da caixona preta e da luz verde. E quando a voz (que cara chato essa da voz, hein? como vocês aguentam?) gritava "goool", era um exagero enorme, e todo mundo da casa também gritava junto. Na verdade, meus ouvidos são tão sensíveis que eu ouvia toda a cidade gritar. E muitas explosões no céu também, que quase me deixaram doente. Eu ficava o dia todo escondido em baixo da cama. Tomara que isso nunca mais aconteça. Mas, vindo de vocês, humanos, não duvido nada. Ah, lembrei o nome dessa loucura toda: futebol!


Willy é sensível e inteligente. Vive com seus donos e procura uma parceira - poodle, de preferência - para fazer filhotes e, quem sabe, algo mais.
A SEMANA - 18/05/02
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