As folhas mínimas balançaram-se e as maiores quase não mudaram de posição. Foi tão pequeno este vento que passou! Depois, apenas depois, soou um ar movimentando-se mais rápido, mais rápido... Tudo mexeu-se. Tudo se agitou e fez ruído. Muitos movimentos balançados, reprimidos por um ponto: a ligação com os vegetais. Mas não fosse isto, a paisagem se desfaria em folhas, no chão deste quadro. Ao Outono permanece o poder de arrancar folhas e fazer um chão com elas. Agora era Verão e o ar enchia-se da expectativa tempestuosa. O ruído ainda ausente do temporal que vinha mandava à frente o vácuo silencioso que fazia do vento um poder invisível. E as rajadas passavam intermitentes. As manifestações sonoras volteavam em torno, presentes e ausentes ao mesmo tempo. Faltavam quinze minutos para Hételo chegar na casa.
Era interessante ampliar o tempo compreendido entre a partida e a chegada, como a querer que a chuva me atingisse em meio ao percurso. Dava a sensação de que me aproximava de um ponto sorrateiramente, sem querer ser descoberta.
Subitamente, a água-do-céu atacou-me pelo alto, zangada. O vento dizia sons que não conseguia decifrar. Encharcada, inundada pela chuva, desorientada, muda. Estava no vértice do tempo, no ponto em que não podemos fazê-lo voltar mas que também tudo nos impede de fazê-lo transcorrer. Nós, do outro lado de fora da janela que, nem sequer, está perto. De fato encontrava-me dentro de uma nuvem de chuva amarrada pelos elos de relâmpagos e ouvia minha condenação na zanga dos trovões.
Hételo cai. Grudada no solo, vencida, apagada. A chuva ensopa seu corpo inerte. Amendrontada, amordaçada. O vento estilhaça seus cabelos aderindo terra a eles. Hételo gira no vértice do ângulo-temporal. Desaparecida Hételo!...