Usina de Letras
Usina de Letras
141 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62237 )

Cartas ( 21334)

Contos (13264)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10368)

Erótico (13570)

Frases (50636)

Humor (20031)

Infantil (5435)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140810)

Redação (3307)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6193)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->CRAVOS VERMELHOS -- 09/02/2003 - 22:02 (lira vargas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


CRAVOS VERMELHOS

Neco tocava no cavaquinho um samba melancólico, falava de amor, e de saudade, as pessoas acompanhavam suas músicas com entusiasmo. De longe, no silencio do morro, ouvia-se o cavaquinho chorando nos dedos delicados de Neco. As luzes da cidade brilhavam de longe, as estrelas pareciam mais próximas como celebrando aquela roda de samba. Só a cidade não conhecia Neco.
Mulato de olhos tristes, talvez sua alma era a responsável por aquela denúncia, de sorriso aberto e voz melodiosa, sua ordem era acatada desde os meninos aos idosos, ninguém ousava desobedece-lo.
Na comunidade, a ordem era respeitada, contam que Jeremias um jovem loiro, tinha o hábito de brigar com os vizinhos por ciúmes da namorada Beatriz, filha de Juraci. Um dia ele recebeu o recado de Neco que ele tinha apenas um dia para sair do morro e nunca mais voltar. Sua mãe, conhecida pelo apelido Black Flower, pronunciavam Maria Blaquiflaver foi prostituta nas calçadas de Copacabana, conheceu um americano e se apaixonara por ele, não falava uma palavra daquele idioma, mas dizem que foi um amor muito grande. Todas as vezes que ele vinha ao Brasil, a procurava.
Foi no carnaval em mil novecentos e oitenta e cinco, John chegou no aeroporto e telefonou para Maria “Blaquiflaver” morava num apartamento com mais oito mulheres em Copacabana. Ela atendeu ao telefone e apenas conheceu sua voz e já sabia qual o hotel ele ficaria. Maria sentiu a emoção do primeiro encontro, dispensou os clientes daquela noite, procurou Zé do Campo, negro como a noite, charmoso e malandro, usava chapéu de camurça, suas roupas eram brancas até mesmo quando voltava das bebedeiras, morava no morro, e quando sentia saudade, esperava Maria voltar nas madrugadas para descansar em seus braços. Pegava parte do que ela recebia, sustentado e apaixonado por ela.
Quando estava bêbado, manifestava ciúmes e a agredia, muitas vezes ela planejava sair do Rio de Janeiro e nunca mais voltar, mas ficava apenas nos planos. Foi até o bar da esquina, era carnaval, os turistas abarrotavam as calçadas a procura de uma mulher para os prazeres da magia do carnaval. Zé do Campo estava sentado numa mesa, batia no tamborim a música de uma escola de samba. Umas mulatas sambavam acompanhadas pelos passos desajeitados de alguns turistas. Maria se aproxima, o salto alto compunha aquela mulata de sorriso faceiro, o perfume exalou se misturando com a brisa do mar. As pessoas deram passagem, um sambista fez reverencia a sua entrada na roda de samba, mas ela recusou.
Zé do Campo parou de cantar e o som do tarô soou forte como ordem de silencio. Maria fala baixinho no ouvido de Zé do Campo, que naquela noite estaria com o americano, fingindo naturalidade de sua escolha de vida de prostituta. Zé do Campo a olhou enciumado desconfiou que ela estava muito interessada. Maria fingiu não perceber e saiu acenando um adeus. Na outra semana John foi embora, prometendo voltar na semana Santa.
E na semana Santa, Maria estava grávida. Zé do Campo a viu vomitar no banheiro do barraco, perguntou se era sinal de barriga, ela confirmou esperando pancadaria. Zé não queria filho, dizia que não nascera para ser pai, e ameaçou-a de morte, se ela não abortasse. Quando ele a surrou, ela caiu no chão e bravando como uma fera ferida, Maria se levantou, cuspiu no rosto dele e disse que o filho era do americano, que naquela noite de carnaval ela escolhera para marcar sua vida. Pois estava apaixonada por ele. Zé do Campo jogou a camisa no chão, cerrou os dentes, fechou um olho e do canto da boca meio torta escorreu uma saliva gosmenta, fechou uma mão armada para um soco, o sol castiga quente aquele dia. Maria tremeu, mas não tinha como sair e ele bateram tanto, que Maria temia pela vida do neném, defendia o ventre e desviava os pensamentos para não afeta-lo com a dor que sentia dos socos e pontapés.
Acordou no hospital, os hematomas pelo seu corpo, o rosto deformado. Quando teve alta já passara o feriado. Zé do Campo mandou flores pedindo perdão. Maria jogou fora e não atendeu a porta. As amigas disseram para ele ter paciência, que ela o perdoaria, mas falaram por medo para não enfurece-lo.Ele saiu assoviando a musica da escola de samba campeã. E dias depois, Maria recebeu o telefonema de John. Preparou-se com a roupa mais bonita, colocou o perfume que ele trouxera da última vez. Os cabelos molhados sobre o ombro, os lábios pintados e a roupa colada no corpo, torneava as curvas deixando a mostra os seios e as nádegas, o ventre ainda não mostrava a semente que ele deixara no carnaval, mas seus olhos brilhavam denunciando a alegria de ser mãe. Saiu do aeroporto abraçada com John, rumaram para o hotel, mas antes ele a convidou para beber shopp num bar na calçada de Copacabana.
Era noite de inverno, o vento balançava as árvores, as pessoas procuravam abrigo em lugares fechado, mas John era tão apaixonado pela praia, que fazia questão de ficar ali, acariciando o rosto de Maria Black Flower, ela correspondia sorrindo, ansiando o momento de apontar para o ventre e dizer que ali estava seu filho. Ele se aproximou de seus lábios, acariciando seus cabelos, de longe o vento trazia a voz de um cantor. Os dois abraçados pelo frio e pelo amor. John se levanta, paga a conta e vão até a calçada esperar um táxi. Dois homens se aproximam, os rostos cobertos por uma touca e um orifício nos olhos, assaltam o casal, ela sentiu um calafrio, se afastam o mais que podem, o vento trouxe uma chuva forte, o mar batia enfurecido nas areias de Copacabana o estampido de um tiro e Maria cai no chão, empurrada pelo corpo de John. Seu grito foi ouvido de longe. John a olhava sem entender, seus olhos azuis miraram o céu do Rio de Janeiro, Maria segura seu rosto ele se vira e a olha firme em seus olhos, ela pega sua mão e leva até seu ventre e diz baby, baby. John esboça um sorriso e fecha os olhos para sempre. Quando as pessoas se aproximam, Maria se afasta chorando e jurando vingança.
Nessa mesma noite foi para um ponto e ônibus sem destino, quando percebeu já estava em São Gonçalo. Desceu e subiu o morro pediu abrigo e nunca mais voltou para o Rio de Janeiro. Jeremias nasceu e ela fazia bolo de aniversários, para entrega em domicílio, às vezes virava a noite trabalhando. Cantava melodias tristes, não falava de seu passado, mas muita gente sabia e comentavam que ela se regenerara, não era mais a prostituta de Copacabana. Só não sabiam que ela não regenerara, para ser pura, mas porque perdera parte de sua alma naquela noite em que John deu um ultimo sorriso quando ela mostrou o ventre, mas será que ele entendera? Essas perguntas faziam Maria Black Flower, uma mulher serena e triste. trabalhava para cuidar de seu único filho, fruto de um amor das calçadas de Copacabana. Jeremias tinha apenas dezessete anos, mas tendera para o costume de brigar na redondeza.
Quando cismava que algum rapaz se interessava por Beatriz, arranjava confusão e sempre saia brigas provocando a vinda da policia. Quando Maria ficou sabendo da ordem de Neco, foi ao seu ao encontro para pedir perdão em nome de Jeremias, Neco falou em voz mansa que naquele morro as leis tinham que ser seguidas, e que não podia mudar a ordem. Ela desceu, foi no barraco, colocou as roupas do filho numa mochila e numa despedida breve, os olhos lacrimejando, despediu-se do filho, que desceu o morro sem olhar para trás. Contam que chegando na rua, ele olhou para trás e jurou vingança.
E ninguém soube qual seu paradeiro. Maria cantava canções de ninar todas noites de lua cheia. Dizem que uma jovem do Centro Espírita recebia uma entidade de nome Mariazinha, e ela trazia notícias de seu filho. Nessas noites ela dormia sem cantar canções de ninar. Beatriz sofreu por muitos dias amparada por Helena que a aconselhava a estudar e um dia sair a sua procura.
Neco odiava choro. As mulheres o amavam, e quando abandonadas, choramingavam em silencio. Quando engravidavam, não diziam que ele era o pai. Contam que muitas morriam misteriosamente quando insinuava que ele era o pai. Ele determinava qual mulher iria deitar com ele depois de cantar e beber. A mulher escolhida podia ter marido, mas ordem de Neco, era ordem, e nenhum marido reclamava. Ouvia-se apenas o esmurrar de um soco numa mesa ou numa parede de madeira de um barraco qualquer, mas nunca a voz do marido que naquela noite, sua mulher despertou o interesse de Neco, dizem que muitas vezes ele escolhia a mulher, bebia e cantava tanto que chegava tão cansado que a mandava ir embora. E quando isso acontecia à mulher nua descia ladeira abaixo, passava pelos becos correndo com as roupas enroladas em baixo do braço, e alguém assoviava, e ela assustada procurava o abrigo de sua casa, e quando entrava no barraco, ouvia-se ponta pés, gritos e choro, mesmo ela dizendo que não fora tocado por Neco, mas o ciúme do marido acusava-a de ter dado um sorriso ou mostrado os seios num decote, e muitas vezes esse marido morria dias depois. Outras aguardavam ansiosas no leito de Neco, o mulato de olhos tristes, fingindo estar assustada para que os desejos aflorassem em sua pele, deitada de bruços, choramingava dengosa como uma gata, exalava o cheiro de amor sedento de suor, e Neco chegava e também a mandava embora, e ela descia a ladeira completamente nua, deixando sua roupa, quem sabe ele a chamaria de volta, descia lentamente, na esperança de um assovio de Neco, tentava não dobrar uma esquina que teimava em se aproximar, mas era em vão, Neco não a chamava, e de longe se ouvia gritos de frustração, como gata no cio. Chegava em casa e quando o marido perguntava se ele a machucara, a mulher batia os pés no chão dizendo palavrões, e o marido silencioso sofria de ciúmes em pensar que Neco fizera amor no corpo de sua mulher, beijara sua boca sugando a saliva sabor de mel. Mal sabia ele, que Neco não tocara aquele corpo, mas o orgulho de fêmea, não permitia dizer ao marido que o samba e a bebida, foram mais forte que seus desejos. E o marido silencioso, chorava no travesseiro, a impotência do domínio de Neco, e a mulher chorava a dor de não ter sido amada por Neco. Outras, quando deitada em sua cama, às frestas do barraco eram uma vigia constante. O aparelho de ar condicionado colocado acima do espelho da cama, uma televisão e um vídeo, a cama com grandes edredons cobriam a cama e um pedaço do chão, um frigobar, compunha aquele quarto, e na parede uma fileira de cavaquinhos, como se aquele estoque o protegeria de nunca faltar uma inspiração para o samba, dizem que cantores famosos subiam o morro para ouvir sua voz, mas seu modo de vida, não permitia descer o morro para o mundo conhecer seu talento. Neco escolhia o cavaquinho que combinava com sua roupa, passava uma flanela, e testava uma nota musical antes de sair. Subia a ladeira afinando o cavaquinho ouvia as pessoas cumprimentando, ele não respondia, apenas com a cabeça para não passar indiferente aos cumprimentos de boa noite e nas noites de calor ou de frio, a mulher recebia do mulato de olhos tristes o maior dos prazeres, seus ais com a brisa que vinha levava até a subida do morro, que, todo em silencio imaginava que ali os gemidos de amor se findariam no amanhecer quem sabe selaria com a morte as horas de felicidade, e também com certeza, a mulher estaria sorrindo para a eternidade. Mas era só imaginação, de quem o idolatrava e o temia. O som dos atabaques do centro de umbanda acompanhava no ritmo, a cavalgada pela floresta infinda do amor que nascia e morria numa mesma noite. Quando a mulher desmaiava de prazer, Neco se levantava, ia até as frestas e seu olhar se perdia na vastidão da noite que era rompida pelos primeiros raios de sol. A luzes da cidade se apagando uma a uma, a brisa da manhã anunciando um novo dia, ficava ali absorto em pensamentos misteriosos, o corpo nu, a luz do sol contornava e o brilho do corpo fascinava quem o olhava, a cor da pele parecia o mais puro bronze podia-se até imaginar que exalava o perfume de Eros o deus do amor. E quando o sol brilhava nas folhas das árvores, a cidade desperta, Neco olhava a mulher e ela entendia que era hora de ir embora, a noite levara os prazeres daquele misterioso homem, e nas lembranças da mulher com certeza as carícias vindas com o cheiro de cerveja, os murmúrios de Neco ficariam em suas lembranças, se tivesse sorte seria escolhida para outra noite de amor, ou quem sabe, guardaria para sempre o segredo daquela felicidade, Neco não permitia que fosse revelado. Apenas seus olhos denunciariam a felicidade experimentada em apenas uma noite. Algumas até torciam que estivesse em período fértil para perpetuar a lembrança, mas, quando o ventre denunciasse uma outra vida, secretamente desceria do morro e nunca mais voltaria, as que se atrevessem falar, teria selado sua condenação.
Jacira é enfermeira do Pronto Socorro Municipal, antes de sair, fazem as recomendações para as três filhas. Sonia, Beatriz e Helena. Desce o morro cantando uma canção de saudade, dizem que já fora convidada a deitar com Neco, mas fazia parte da turma que ele mandara embora sem tocar seu corpo, por isso Jacira cantava nas rodadas de samba, canções de saudade e de amor frustrado.
De uniforme branco, Jacira era respeitada no morro, quando alguém se feria, lá ia para fazer os curativos, recomendando que era preciso tomar vacinas contra o tétano. Neco não dormira com ela, mas tinha por ela uma grande amizade, quando reunia o pessoal para cantar, mandava recado para Jacira subir, e quando estava de plantão, mandava alguém telefonar dizendo que era urgente sua volta, e Jacira sabia que era para cantar a noite toda. Sonia e Beatriz não gostavam de samba, faziam parte das organizações dos bailes Fank, elas mandavam convites para outras comunidades, encomendava ônibus e abastecia de bebidas os bares do salão para recepcionar os convidados. Descia o morro para comprar as roupas de marcas escolhidas por Neco e outros moradores. Em noites de baile, os ônibus paravam na subida do morro, e os convidados cantavam uma musica pedindo liberação para a entrada, e lá de cima, os anfitriões da comunidade, soltavam fogos, permitindo a visita. Os bailes tinham a segurança rígida, ali à lei era respeitada. Sonia e Beatriz eram mulatas fogosas, no carnaval, ganhavam lugar de destaque na escola de samba. Helena era a mais nova, repudiava o modo de vida da mãe e das irmãs, ainda com quinze anos, tinha planos de ser médica.
Helena passava o dia dentro de casa. Estudava a noite. Na escola municipal, era admirada pelos professores pelo aproveitamento e seriedade que levava os estudos. A Professora Dirce era sua confidente, ela falava que temia não conseguir concluir seus estudos, vivia numa comunidade que a lei era ditada pelo mais forte. Planejava sair de lá, morar em algum lugar seguro, mas e Dirce oferecia sua casa para quando precisasse, deu até seu endereço em caso de urgência. Helena agradecia e aceitava.
A tarde era de verão. Helena terminava um trabalho para entregar na escola. Sonia e Beatriz entram no pequeno barraco sorrindo, comentando sobre o baile do próximo sábado, falavam da visita de um morador de outro morro que era disputado por muitas mulheres. Jacira acabara de chegar e estava fazendo um café. Sob a mesa um copo de cerveja. Helena não compreendia como podia beber cerveja e café, repudiava aquele modo de vida, mas silenciava quando era criticada. Um menino bateu na porta da sala e foi atendido, ele trazia um buquê de cravos vermelhos enviado por Neco. Elas se olharam, Beatriz sentiu asco, mas Sonia e Juraci ansiedade e curiosidade as fizeram dar suspiros de prazer, quem seria a homenageada com tanta honra. Jacira tinha certeza que seria ela, seu coração disparou e em suas lembranças, à noite que fora escolhida para se deitar com Neco.Era noite de inverno, cantava em parceria com ele. Um cantor famoso fazia parte dos ouvintes do Bar Estrela do Morro, Jacira cantava olhando nos olhos de Neco, o cavaquinho soava canções de amor, a musica inebriava a todos, a fumaça de cigarro compunha aquele ambiente misturado a perfume e bebida alcoólica, era noite de boemia, algumas estrelas salpicavam timidamente o céu, quando a chuva dava uma trégua, o centro espírita parecia abrigar todos os orixás do planeta naquela noite de inverno, as cantoras do centro soltavam suas vozes clamando pelo amor e pela justiça e o vento carregava para longe como que contagiando todo o morro. Era à noite dos orixás, das Pombas Gira, dos Caboclos e de Iemanjá, que no mar prateava as ondas que se debatiam mansas na praia fazendo inveja aos orixás das matas e das pedras, Jacira sentia a presença de Oxum, a mulher de Oxossi, e em Neco parecia que Oxossi tomara forma em seu corpo, e na magia daquela noite esses orixás se encontravam para travar a guerra do amor, em que os guerreiros sairiam vitoriosos. Os olhos de Neco brilhavam, o sorriso era de desejos, a língua molhada de saliva, passeava pelos lábios como certa do sabor dos beijos de Jacira. A magia daqueles momentos era a promessa de uma noite de muito de prazer, os seios dela apontavam sob a blusa como uma fonte para saciar a sede do caboclo no corpo de Neco, seus cabelos crespos jogados pelo ombro, aguardavam as mãos dele para deixa-los ainda mais em desalinhos, pouco a pouco o centro foi silenciando para dar passagem ao encontro dos orixás, um a um foi se levantando, e Neco estendeu a mão para Jacira, viúva de Antonio, morto com um confronto com a polícia há tão pouco tempo, Jacira sentiu seu corpo levitar e os pelos de seus braços eriçados, seu coração bateu forte que na blusa de malha vermelha, dava pra perceber, o sorriso abriu-se largo, os lábios ressecados foram lambidos pela língua sedenta de amor, a chuva parou, no céu algumas estrelas bordavam o manto da noite. Caminharam para o barraco. Ele assoviava uma nova canção, nascida naquele momento, as mãos unidas entrelaçando os dedos trocando carícias ansiosas dos corpos dos amantes.
Jacira deitou na cama, as pernas a mostra, os seios esparramados agora sem a blusa de malha vermelha, Neco de pé a olhando, um suspiro iniciando o prazer de deitar em cima daquele corpo mulato cheirando a perfume e cigarro. Ele se aproxima lentamente sobre seu corpo, as bocas se unindo para um longo beijo. Do centro espírita, os atabaques dão os últimos toques para os orixás subirem aos astros para adormecerem no dia que se aproximava, os gritos das iaôs soaram morro acima como um lamento de dor. Oxossi se escondeu nas matas e Oxum foi chorar na cachoeira a saudade de seus braços, os guerreiros se perderam, seguindo outros caminhos sob a luz das estrelas. Neco se levanta e vai até as frestas do barraco, Jacira o olha, as lágrimas correm silenciosas, levanta da cama, as roupas sob o braço, desce ladeira abaixo cantando uma nova canção de saudade. Balança a cabeça como para se livrar daquelas lembranças, mas abre um sorriso de esperança. Sonia apostava em sua juventude, nos seios grandes que viviam a mostra, nos short apertados e curtos que faziam a rapaziada sorrir de desejos, nas pernas de pelos tingidos, nas tatuagens sob as nádegas, na carreira de brincos pontilhados nas orelhas, nos cabelos trançados como as africanas, tinha certeza que uma delas seria a princesa da noite nos braços de Neco. Beatriz esmurra a mesa, em suas lembranças o amor interrompido, Jeremias expulso sem tempo de uma despedida, nutria ódio e cede de vingança por Neco, mas eram sentimentos escondidos naquela nação. Jacira estende a mão para receber o buquê de cravos vermelhos, mas o menino recusa entregar, e na voz infantil e bem mandado, repete as palavras de Neco, esses cravos vermelhos são para Helena. Um vento forte bateu na pequena janela, o copo de cerveja quebrou derramando sobre a mesa o liquido que procurou o chão até a porta molhando os pés daquelas mulheres, o cheiro subiu e Jacira correu até a pia e pegou outro copo, a garrafa de cerveja ainda sobre a mesa esperava para ser despejada no copo, bebeu rapidamente, e não satisfeita, pegou uma garrafa de cachaça e deu uma talagada no gargalo mesmo. Sonia e Beatriz abriram a boca e o som não saiu. Helena levantou o rosto do livro que lia e seus olhos procuraram ansioso o apoio de Jacira para livra-la dos braços ameaçadores de Neco odiado por uns e amado por outros. Não encontrou abrigo nos olhos da mãe, que na mistura de ciúmes, inveja e piedade, declarou não ter outra saída. E de sua boca falou ao menino, a resposta como se fosse para ela, dizendo a Neco que à noite Helena iria estar com ele.
Helena volta os olhos para o livro, analisava o conto.
UM ANJO NAS NUVENS
Conheci Orlando numa feira de automóveis, trabalhando como recepcionista, seu jeito elegante e esportivo logo chamou minha atenção, ficamos numa paquera gostosa pôr muito tempo. Sempre que ele passava pôr perto nossos olhos se encontravam, e sorrisos, misturados com timidez e sensualidade marcava aqueles instantes entre um carro e outro. E sem surpresa, recebi seu cartão e um convite para um jantar, recusei informando que só ficaria livre no final de semana após a feira, Orlando abriu um sorriso e disse que não tinha problema, que aguardaria meu telefonema.
Na semana seguinte liguei e marcamos um encontro. Para minha alegria Orlando comprara exatamente o carro que estava em meu estande.Perguntando meu nome respondi: Helena. Fomos jantar e depois passeamos na calçada de Copacabana entre turistas e cariocas nossa alegria era notada pôr todos.
Voltei a minha vida normal, estudava fisioterapia e trabalhava em eventos.
Nosso relacionamento firmava cada vez mais, fiquei sabendo que Orlando era gerente administrativo de uma grande metalúrgica. Sem planos para o futuro, vivendo intensamente a vida de jovens namorados, nos finais de semana viajávamos para cidades próximas do Rio.
Foi numa manhã quando ia para a faculdade, senti mal estar e lembrei com desespero que não menstruara naquele mês. Fui ao médico sem nada dizer a Orlando e fiquei sabendo da gravidez. À noite voltei para meu apartamento, morava sozinha, meus pais ficaram em João Pessoa. Silenciosamente caminhei pelo minúsculo apartamento, pensando em ligar para Orlando, mas não tinha coragem, quando de repente o telefone tocou, era ele dizendo que estava com saudade. Conversamos rapidamente, mas não falei sobre a novidade. Não passou nem cinco minutos o porteiro informou que Orlando estava subindo, dei uma risada de surpresa, pois Orlando falara do celular na portaria do prédio. Aproveitei a noite, depois das carícias de nosso grande amor, falei da gravidez, para minha alegria e surpresa, Orlando abraçou-me e beijou minha barriga, dizendo que esse fora a melhor noite que ele vivia.
Passado os dias, Orlando providenciou nosso casamento, informando a família e foi uma cerimônia simples.
Fomos morar numa casa em Maricá, a casa de grandes janelas de vidro, os quartos tinha a paisagem do mar e das montanhas, escolhemos o quarto de nosso bebe onde na janela havia um grande boguenvile na cor maravilha, que contornava a janela exageradamente. Orlando mesmo podara para que ficasse só de um lado.
Decoramos o quarto com muitas cores, preferimos não querer saber o sexo do neném, seu bercinho colorido cortinas listradas, parecia um quarto de jardim.
Fui para a maternidade numa manhã de inverno com muita chuva, Orlando percebera aquela noite de insônia e não fora trabalhar, silenciosos numa expectativa natural, Orlando colocou a música de Kátia Ellen “Quando o segundo sol chegar, e realizar...” segurou sua mão numa mistura de medo e alegria. Entrei para a sala de cirurgia, nosso neném nasceu, mas pôr ironia do destino, uma falha médica, ele caiu da mão do cirurgião, fraturando gravemente a coluna. Dei um grito sem saber o que acontecia quando ouvi uns murmúrios na equipe, meio sonolenta, adormeci acho que pôr medo de saber do acidente.
Quando acordei no quarto, uma sensação de esperança que tivesse sido um sonho, mas meu pressentimento assustava-me. Ao abrir o olho, viu meu marido e uma equipe de médicos. Participaram o que acontecera, informando que o cirurgião seria punido e o hospital arcaria com uma indenização, pois meu bebe sofrera uma fratura e tinha sido operado e as esperanças eram remotas de sobrevivência, mas que se vivesse, seria tetraplégico. Chorei silenciosamente, virei as costas e fiquei olhando a parede a minha frente, era o que simboliza a minha vida naquele momento, sem saída sem alegria sem nada.
A luta foi desigual, meu neném suportou a cirurgia e em casa começou minha luta. Não terminei o curso de fisioterapia, mas já chegara a fazer estágios, e tinha alguma noção de como lidar com aquele problema. Minha vida passou a ser integralmente para meu bebe, ele era lindo, tinha os cabelos loirinhos e olhos.
Azuis. Posicionei sua cama de frente para a janela. Os meses foram passando, sua reação era limitado em sorrisos, choros, e doenças respiratórias, não movia nem a mão, e sobre meus esforços, lutava pôr algum progresso. Passados três anos, meu filhinho Leonardo naquela cama, minha vida com Orlando mudara muito, ele ia se afastando a cada dia, havia noites que ele não voltava para casa dizendo que havia muito serviço na metalúrgica. Seu afastamento foi tão lentamente que quase não notara.
Foi numa manhã em que adormecera no quarto de Leonardo, que Orlando foi até o quarto e perguntou o que acontecera, respondi que nosso filho passara mal a noite toda com febre e gripe. Vi Orlando balbuciar algo que não entendi, mentira pra ele, pois a verdade é que Leonardo tinha um problema respiratório crônico e eu tentava suavizar para não entristecer ainda mais a nossa vida. Orlando voltou para o quarto para se arrumar, e a demora foi maior que os outros dias, fiquei deitada na cama de Leo olhando as nuvens que formavam bichinhos e outras figuras, segurava suas mãozinhas fininhas, quando percebi Orlando na porta do quarto nos olhando. Virei e sorri, Orlando tinha a seus pés uma mala. Tomei um susto e levantei perguntando se ele ia viajar. Orlando não respondeu e foi caminhando para sala. Acompanhei assustada, pressentia a resposta, e meus pressentimentos não foram diferentes, Orlando abraçou-me dizendo, que não suportava mais aquela vida, que ele não tinha minha força, que estava indo embora e que não deixaria faltar nada. Chorei convulsivamente abraçada em seus braços imóveis, implorei que não nos deixasse. E num silencio sofrido, Orlando afasta-me de seus braços e sai fechando a porta sem olhar pela vidraça como sempre fazia.
Voltei para o quarto e fiquei sentada na cama olhando para Leonardo que nesse instante deu um sorriso inocente, debrucei-me sobre seu corpinho frágil e chorei muito tempo, ouvindo sua respiração, num abraço de mãe, jurei que jamais o deixaria, que nada nem ninguém poderia nos afastar.
Os dias foram passando, tentava ligar para Orlando e sua secretária dizia que ele estava em reunião ou viajando. Uma noite recebi sua ligação em palavras frias e distantes, Orlando pediu que eu não voltasse a ligar para a empresa, pois ele estava de casamento marcado com a filha do diretor da empresa. Desliguei o telefone como num choque elétrico, numa mistura de raiva e ciúmes fui até a janela e briguei com Deus. Mas arrependida retornei para dentro de casa e agradeci a Deus aquela paisagem, o céu estrelado com a lua refletindo no mar, meu filhinho adormecido de frente para o céu estrelado. Dei um sorriso e cheguei a sentir felicidade.
Passaram os anos, Leonardo já tinha doze anos, crescera, mas seu corpinho magrinho e a pele branquinha faziam suas feições angelicais. Minha luta era conhecida naquela pequena cidade, descia a ladeira de minha casa com Leo na cadeira de rodas, fazia compras ia aos Bancos, e sempre que retornava, tinha alguém para ajudar-me a subir a ladeira até minha casa. Raramente sabia de Orlando, a ultima notícia que tivera, ele continuava casado, mas não tinham filhos, pois viviam viajando.
Uma manhã de primavera, o céu estava com um azul maravilhoso o mar competia com o céu, formando ondas espumosas, as nuvens em blocos parecia o cenário de um espetáculo dos deuses. O boguenvile estava carregado de flores, fui até a janela do quarto de Leonardo, ele estava acordado com um longo olhar para o céu, dei um psiu pra ele e um beijo, liguei a televisão, era um Sábado, a Xuxa cantava alegremente, percebi uma mudança em suas feições, seus olhos brilharam, fui até o boguenvile e peguei com cuidado um ramo de flores e tentei colocar em suas mãos, seus olhos ficaram parados olhando as flores e num gesto único em sua vida, tentou pegar as flores, fiquei rindo e nesse instante, Leonardo olhou para o céu sorrindo como se estivesse vendo algo e lentamente fechou os olhos tombando a cabeça para o lado. Olhei para o céu nesse instante e vi uma grande nuvem na figura de um anjo. Olhei para Leo assustada e percebi seu corpinho frio. Dei um grito que acho Ter chegado até o céu, as nuvens se dissiparam e gritei pela casa, gritei tanto que os poucos vizinho daquela ladeira, vieram correndo a meu socorro.
Passaram os dias, tentei ligar para Orlando para dizer o que acontecera, mas como sempre não consegui.
Um ano depois, retornei minhas atividades, de casa e resolvi fazer trabalhos voluntários em hospitais.
Foi numa manhã de primavera, estava no quarto de Leo recordando sua vida, olhando suas fotos, o boguenville estava florido, o céu e o mar brincavam de fazer a beleza da natureza mais alegre, debruçada em recordações alegres e tristes, ouvi o telefone. Atendi sem entusiasmo, quando a voz de uma enfermeira desconhecida informou que Orlando estava internado naquele hospital há dois meses e pedira que fosse dado esse recado. Tomei um susto, perguntei o endereço e fui correndo visitá-lo.
Orlando sofrera um acidente de carro, ficou paralítico e foi abandonado pela esposa. Entrei no quarto daquele hospital, minha mente embranquecida, meu coração disparando dividido entre tristeza e piedade, nossos olhos se encontrou, silenciosamente fui até sua cama e segurei suas mãos dizendo em meu silencio que estaria ali para sempre com ele.
Levei Orlando para nossa casa, e como o quarto do Leonardo tinha cama especial, acomodei-o ali também. Minha luta retornou, nunca perguntei o que acontecera, nem ele. Apenas uma noite Orlando perguntou como Leonardo morreu, expliquei sem muitos detalhes, e vi umas lagrimas correrem em seus olhos.
Seu corpo estava maltratado com ferimentos, tanto do acidente como de Ter ficado em hospital sem uma fisioterapia. Tratava dos ferimentos e fazia fisioterapia em Orlando. Cuidava com o mesmo carinho da época em nos amávamos, mas não permitia que ele percebesse. E os dias foram passando.
Ainda era primavera, a manhã estava linda, o sol dourando as montanhas e o mar, as flores na janela, afastei ainda mais as cortinas e deparei com Orlando sorrindo olhando para o céu. Colhi um ramo de boguenvile e dei a ele, brincando, em gesto carinhoso, olhei para o céu e vi nas nuvens um anjo.
Sorri e fui até sua cama e dei um abraço de alegria e de perdão.”
Jacira falou para Helena que naquele momento nada era mais importante que atender ao convite de Neco. Helena comentou sobre o conto, dizendo que a personagem tinha seu nome. Recusava-se a falar no assunto, era como se falando, o fato se realizaria, era como se tivesse que ir para o altar para um casamento que repudiava. Na insistência de Jacira, ela percebeu medo nas palavras de sua mãe. Arquitetou rapidamente em sua mente uma maneira de se livrar daquela situação, colocou o livro ao lado da cama, olhou nos olhos de Jacira e das irmãs e disse, que a noite se encontraria com Neco.
Quando foi chegando a hora de sair para o colégio, Helena olhou pelas frestas da janela, abriu e tentou pular, pois essa janela era a da esquina, e mais perto da ladeira, mas quando colocou os pés no chão, ouviu um assovio, Neco estava exatamente naquele lado. No olhar de decepção, esboçou um sorriso de ameaça e raiva. Helena tremeu, e abraçou ainda mais os livros. Chegando perto, ela abaixou os olhos e disse que costumava pular pela janela, por causa do cachorrinho que quando a via sair, segui-a até a descida do morro. Neco segurou seu queixo com carinho, mas com rigor, perguntou se ela gostara dos cravos vermelha, Helena respondeu que colocara na água, e que tinham perfumes. Neco a segura pelos braços para que ela o seguisse até o bar Estrela do Morro. Mas Helena tenta explicar que tinha que entregar uma analise de um conto, que era a nota daquele mês na escola. E que estaria de volta às onze horas. Neco acende um cigarro, solta a fumaça em circulo, dá um suspiro e a olha longamente, silencioso, ele desvia o olhar e mira a cidade, as luzes acesas pareciam pisca pisca, ele dizia que era o dono da cidade, pois de lá via a beleza que compunha aquele cenário,amassa o maço de cigarro, joga pro alto e chuta, torna a suspirar e olha para ela. Helena tremula de medo, ansiava sua resposta. Neco então diz que a esperaria quando voltasse do colégio, mas aponta o dedo em sinal de ameaça, ele era astucioso, não confiava nem em sua sombra, costuma dizer que conheceu um malandro que perdeu a vida denunciado por sua sombra. Num confronto com a policia ele se escondeu num muro, a luz do poste o denunciou, ouviu os passos do policial, não imaginou que vinha em sua direção, que apontou a arma para ele, e disparou sem piedade, pois ele acabara de matar um amigo dele.
O ônibus parou, ela subiu e procurou um lugar na janela. O suor descia pelo rosto, e era noite de inverno. Seus pensamentos confusos, o pânico aflorando, mas Helena tentava achar calma naquela situação difícil. Quando desceu do ônibus, caminhou para o portão da escola, seus passos confusos, abraçava ainda mais os livros, em sua mente a certeza que ali acabava seus sonhos, ali todos os planos de sua vida estavam indo por água a baixo. Se julgou uma displicente, já tinha que ter saído há mais tempo de sua casa, foi imprudencia esperar chegar aquele extremo, essas palvras a feriam ainda mais. Os colegas conversavam animados na descontração de jovens, ela preferiu ficar sozinha e sentou num banco. Luiz se aproximou dela, percebeu tristeza em seu rosto e tentou saber se podia ajudar, ela nega, Luiz pega levemente sua mão e diz que há muito tempo gostaria de se encontrar com ela fora do colégio. Helena se afasta e diz para ele que era impossível, que seu coração já tinha dono. Luiz decepcionado se levanta. Ela mentira para salvar a vida dele, Neco selou sua vida com aqueles cravos vermelhos, estava condenada a viver sobre seu comando. A campainha tocou para o início da aula. Ela sobe as escadas e dá uma olhada para o portão da escola, e seu coração disparou, três rapazes que moravam no morro, estavam como de sentinela no portão, ela dá uma parada no basculante torcendo que fosse engano, mas confirmou quando um deles percebeu e a olhou seguido pelos outros. Ela desvia o olhar rapidamente e sente que o perigo era real, qualquer falha seria fatal. Na sala de aula, ela lembra que tinha dois colegas que também moravam no morro e eram amigos de Neco, Helena os olha de soslaio, e percebe um sorriso nos cantos de suas bocas. A professora Dirce entra na sala e solicita silencio, o coração de Helena batia tão acelerado que ela temia que as colegas ouvissem. A professora pedia as analises do conto, Helena rapidamente escreve na folha, que precisava de ajuda, que a professora a mandasse pegar algo na secretária, para ter motivo de sair da sala, e que estava correndo perigo. A Professora que era sua confidente entende e, discretamente, pede a Helena que vá apanhar uma pasta vermelha na sala dos professores. Helena se levanta, deixa o material da escola sob a mesa, abre a porta e sai o silencio das salas quebrado apenas pela fala dos professores, segue pelos corredores aumentando os passos, tendo cuidado para não fazer barulho. Desce as escadas silenciosamente, o pátio estava vazio, tinha que ganhar tempo, para no último degrau da escada, olha para todos os lados, e corre para atrás do colégio, ali tinha pouca luminosidade, se aproxima do muro, a altura era difícil transportar, mas a tentativa foi inútil, tentou pular foi impossível, ouve um assovio, e o pavor aumenta quando ela ouve um grito vindo dos corredores, ela sabe que não havia outra chance. Quando tentava escalar algumas reentrâncias do muro, suas mãos não resistem e ela cai. Com as mãos no rosto contendo o choro convulsivo, seus olhos mostravam o pavor, suas mãos tremiam e a respiração ofegante. Alguém se aproxima e a segura pelos braços, ela sente seu mundo desabar, agora suas chances acabaram, pressentiu que era o seu fim, mas era o supervisor Mauro que a vira descer as escadas em hora de aula, e viera para perguntar o que ela estava fazendo naquele local. Ela tenta explicar, ele segurava seus braços com rigor, ela implora baixinho que ele a ouça, num breve relato, conta sobre o Neco um poderoso morador do morro. O supervisor permanece calado sem acreditar e diz que aquela conversa não o convencera, e vai puxando Helena pelos braços, já dobravam a esquina do pátio, ela avistando os capangas que estavam sentados conversando distraídos. Ela então aponta para o portão e mostra os capangas de Neco. Mauro coça a cabeça em gesto de indecisão, dá meia volta e atende seu pedido, faz um calço com as mãos para ela subir no muro, quando ela estava quase transportando, Mauro já se afastara rapidamente, Helena lembra do que escrevera na análise do conto e deixara sobre a mesa escolar. Ela grita para Mauro, mas ela já se afastara. Em cima do muro, Helena vai se arrastando até conseguir ficar em direção de um carro estacionado. Pula em cima do mesmo. Não se importou com o estrago que causara. Na rua tentava se afastar o mais rápido possível. Foi para outro ponto de ônibus e quando estava a salvo, deu um suspiro de alivio, a esperança de liberdade voltara, por alguns momentos pensou que seus sonhos foram interrompidos, mas em outros, depois do pulo, outras expectativas se abriram naquela noite de horror, seguia para o Barreto no endereço que a Professora Dirce que lhe oferecera abrigo em caso de urgência. Procurou a rua sem perguntar a ninguém, sabia que qualquer vestígio, seria uma pista para ser achada. Passou por um bar, alguém cantava uma melodia triste, era a mesma que ela ouvia do Bar Estrela do Morro, sentiu uma ponta de saudade, lá viveu sua infância, as brincadeiras nas estreitas ruelas, as recomendações de sua mãe para ter cuidados, mas ela mesma não tinha nenhum, seu modo de viver era o oposto do que ensinava, quando chegava bêbada, jurava nunca mais beber um gole de cerveja, ia para a janela vomitar e sempre uma de suas filhas faziam chá para aliviar a ressaca. Quando chegava dos plantões, reclamava do cansaço, mas um simples recado de Neco, ela vestia um de seus vestidos decotados, de flores estampadas, soltava seus cabelos crespos, passava baton e se perfumava, nesse momento ela ficava tão linda que sempre uma de suas filhas dava um assovio, e Juraci sacodia o corpo fingindo não merecer, e soltava uma gargalhada e so voltava quando o dia estava amanhecendo. Suas irmãs também começaram a acompanhar sua mãe, mas elas gostavam mais dos bailes fank, só ela não se adaptava aquela vida, queria estudar e ser professora. Helena chegou a sorrir nessas lembranças. Encontrou a casa da professora, sentou no degrau do portão, colocou as mãos no queixo, e traçou os planos de uma nova vida,ficaria um tempo escondida e depois voltaria a estudar mas em outra escola. A professora Dirce chegou depois das onze horas, segurou suas mãos e |Helena chorou desabafando e contando o que aconteceu. A professora fez um carinho em seu rosto e ofereceu sua casa por tempo indeterminado.
Neco aguarda a chegada de Helena, no Bar Estrela do Morro. Cantava um samba de amor e de ódio, não entendera o porque da escolha, não sorria, parecia mal humorado. O morro estava silencioso, só a roda de samba parecia mostrar sinal de vida, as pessoas estavam recolhidas em suas casas. O céu foi coberto de nuvens, uma chuva fina caia como lágrimas, prenúncio de uma história triste de amor. Três rapazes subiam assustados, pararam em frente à mesa onde o samba continuava triste. Neco parou de cantar, dedilhava o cavaquinho lentamente e olhando os rapazes, acelerou ainda mais as notas como sinal de guerra. Não perguntou, porque sabia o que acontecera, seu instinto aguçado é que o fazia líder. Segurou no cabo do cavaquinho e o quebrou na ponta da mesa. Jogou longe o cigarro e cuspiu no chão. As pessoas silenciaram assustadas. Foi até o balcão e sem nada dizer, recebeu do Lino uma dose de cachaça. Foi até a porta e descarregou o revolver para o céu, como querendo acertar as estrelas escondidas nas nuvens. Deu um suspiro e gritou por Jacira, seu grito desceu morro abaixo e Jacira o olhava da porta com carinho e medo. Respondeu apenas que não sabia o que acontecera. Os rapazes unidos pelo pavor sentaram no único degrau do bar e olhavam para o chão aguardando um castigo. Neco se aproximou deles, e deu um prazo para acharem Helena, caso não achassem, para não voltar mais no morro nem pra pegar roupas. Ordenou a Juraci para ir aos jornais, fazer drama, levar fotos de Helena, fazer contato com a imprensa, oferecer recompensa, finalizou dizendo para Juraci virar o mundo de cabeça para baixo, era uma questão de honra. Era assim o mulato Neco, uma mistura de ódio, amor e poesia. Sua voz nas melodias do samba e os dedos no cavaquinho traziam esperanças e saudade, e não havia quem negasse esse mistério.
Os dias para Helena foram de tristeza, largara os estudos que tanto gostava. Uma noite, a Professora Dirce percebeu que ela estava ainda mais triste e prometeu dar aulas para ela nos finais de semana, mas não era a mesma coisa, não teria certificado de conclusão dos estudos.
Numa manhã Helena foi na padaria, e ao passar na banca do jornal, viu sua foto na pagina de desaparecidos, e sua mãe chorando implorando notícia se afastou da banca assustada, mas seu coração entristeceu ainda mais e ao chegar a Professora perguntou o que havia acontecido, depois de relatar, ela teve a iniciativa de telefonar para o celular de Jacira e dizer que ficasse tranqüila, pois Helena esta bem, mas que um dia ela voltaria.Helena concordou e chegou a esboçar um sorriso.
Jacira estava na roda de samba, cantava tentando afastar a saudade e a preocupação sobre o paradeiro de Helena. Neco cantava canção de amor frustrado, e num dos intervalos, confessou que aguardou Helena fazer quinze anos, pois sabia que um dia ela seria dele para sempre. As pessoas acenavam com a cabeça concordando com aquelas lamentações, e com certeza, todos ali torciam por Neco, mas Helena fora mais astuciosa, ousara fugir e não atender os desejos de Neco.
O telefone de Jacira esta sobre a mesa, no primeiro sinal de chamada, Jacira não atende, fala para Neco que pode ser do Hospital para substituir alguém que faltara ao plantão. Mas na insistência daquela ligação, Jacira olha o visor e percebe que era de telefone publico, atende. Seus olhos se abrem ainda mais, a voz embargada, as mãos tremulas e uma gota de suor desceu pelo seu rosto. Respondia em meias palavras, mas sentiu os olhos de Neco como que a perfurarem seus miolos, e lentamente entregou o telefone para ele. Do outro lado, Helena chorava e dizia que ela tinha o direito de escolha, que seus estudos eram mais importantes, que um dia ela marcaria um encontro para conversarem melhor, e que a Professora Dirce a acolhera em sua casa, e que ela sentia saudade de casa, mas ali estava segura para continuar seus estudos. Quando ela insistiu uma resposta de Jacira, Neco entregou o telefone de volta, e Jacira chorou, temendo por sua filha, não podia dizer que ele ouvira a conversa, e se ela falou onde estava, ele ia mata-la, seus pensamentos ficaram confusos, e num repente, ela pensou em dizer para Helena que Neco ouvira a conversa. Mas faltou coragem e os olhos de Neco brilharam, ela não sabia se de alegria ou ódio.Jacira bebe um copo após o outro, cantava sem o entusiasmo que todos conheciam. Quando a madrugada já se preparava para dar lugar ao sol, um galo cantou triste e outro bem longe respondeu também, eram cantigas de tristezas.Jacira se levanta da mesa e dá um despedida rápida, quando de pé, bebeu o ultimo gole de cerveja do copo, puxou para baixo a saia que deixara à mostra suas pernas, Neco silencia o cavaquinho e sugere em voz mansa e triste que ela deixe o celular com ele. Jacira sentiu o sangue sumir de seu rosto, as pernas bambas pela bebida, mas no consciente se formando uma tragédia. Sabia que ali estava na memória do aparelho o numero do telefone da Professora Dirce, e Neco iria localizar e despejar todo a frustração de ter sido rejeitado por uma mulher pela primeira vez em sua vida. Jacira entrega lentamente o aparelho, Neco estende a mão antes de largar o telefone, ela olha firme em seus olhos e diz que em nome de suas amizades, que confiasse nela, e que traria Helena de volta. Neco acredita em sua promessa e larga o telefone. Juraci dá um suspiro, sem despedida, vai a direção à saída e respira fundo o ar que prendera até ali. Os galos continuaram a cantar, mas dessa vez pareciam mais alegres talvez por Juraci convencer a Neco ou pela manhã que prometia ser de sol e muito calor.Ela descia a morta meio trôpego, conhecia os caminhos apertados como a palma de suas mãos. A sandália sob o braço era sinal de muita bebedeira, diziam os amigos dela, quando a viam assim. Juraci balbuciava palavras ininteligíveis, lentamente ela para, olhava para o céu e dava um sorriso de alivio, foi uma noite longa. Lembrou de Antonio Brigadeiro, era assim que o chamavam, quando tinha aniversário no morro, ele perguntava se tinha brigadeiro, se conheceram ainda jovens, Jacira num orfanato e Antonio no outro. Era natal, e o diretor do orfanato, resolvera fazer uma festa e convidara o Orfanato Bom Jesus a participar. Jacira com treze anos, olhos brilhantes e sorriso alegre. Antonio também da mesma idade, ao contrário, era triste de olhar infantil. A chegada dos convidados foi movimentada, o monitor do orfanato, Tio Mó, era carinhoso com todos e muito alegre, espalhou brinquedos pelo pátio arrecadado da comunidade, e na hora que deu o apito para procurar, Jacira correu até um local que ela observara que o presente era de grande volume, correu pelo pátio e Antonio a seguiu, e atrás de uma árvore lá estava o embrulho, era grande dado. Jacira o pegou e ficou olhando meio decepcionada, o que iria fazer com àquele grande dado. Antonio riu e conformou-as, dizendo que era para jogar pra cima e quem acertasse o número, ganharia a partida. Ficaram jogando, até que Antonio percebeu que não achara nenhum presente, e Jacira deu para ele o dado. Conversaram banalidades, não tinham muito que conversar, mas Jacira era falante, contava que estudava numa escola na trindade, a diretora e Professora Julita oferecia bolsas de estudos para as crianças do orfanato. Combinaram de se encontrar no final de semana. Os encontros se repetiram até que uma noite, resolveram dormir na praia das pedrinhas, e lá fizeram amor pela primeira vez, e outras vezes, até que Jacira aos quatorze anos estava grávida, fugiram do orfanato. Antonio foi vender balas junto com Jacira, alugaram um pequeno barraco no morro, tiveram as três filhas: Sonia Beatriz e Helena.
Foi numa noite de chuva, Antonio estava jogando dados no bar Estrela do Morro, a polícia invadiu, chegou perguntando onde tinha a boca de fumo, Antonio tremeu, lembrando de Jacira e das filhas que estavam sozinhas no barraco. Um policial chegou perto dele e perguntou o que jogavam, Antonio respondeu baixinho que não era jogo de azar, que apenas se distraiam. Nesse instante, Colega, um passador de drogas, entrou no bar, quando percebeu o ambiente, tentou fugir, os policiais tentaram detê-lo, mas ele foi mais rápido, correu pelo labirinto de barracos, foi formada confusão. Antonio tenta se levantar para se abrigar no balcão, foi travado um tiroteio, até granada explodiu, Antonio Poe as mãos na cabeça como assim, se defenderia dos tiros, as pessoas gritavam, os cachorros latiam crianças chamavam pelas mães. Antonio comete um grande erro, o desespero foi tão grande que ele saiu no meio à confusão, descia por uma ruela apertada, quando um policial gritou para ele levantar as mãos. Os dados caíram no chão fazendo um pequeno ruído, um tiro veio em sua direção, acertou em cheio seu coração. Antonio aparou o sangue como na tentativa de fazer voltar, de seus lábios saíram algumas palavras, dizem que ele chamou por Juraci. Horas depois, a policia desceu levando alguns suspeitos. Por um momento era silencio, mas alguém gritou outros acompanharam os choros de desespero. Jacira estava de plantão. As filhas sozinhas em casa. No dia seguinte, Jacira chorava tão alto que o morro todo ficava em silencio para ouvir seus lamentos.
Jacira trocou o choro por saudade e pela boemia, cantava no Bar Estrela do Morro e bebia muito, dizem que ela sempre deitava com o último homem que restasse depois que o morro adormecia. Ela entra no barraco, senta na cozinha, pega uma garrafa térmica sob a mesa, o café ainda quente, lembra que Helena era quem fazia café, sabia que ela voltaria bêbada, e o café lhe fazia bem. Sonia acorda e vai ao seu encontro.Ela percebe que algo a estava preocupando, Jacira se recusa a contar, mas Sonia insiste e ela relata o que acontecera. Sonia vai até a janela, suspira e se volta, diz que não permitiria que Neco descobrisse o endereço de Helena, mas Jacira revela a preocupação, pois todos estariam correndo risco de vida. Sonia concorda, mas sugere que no dia seguinte, quando o efeito da bebida passasse, teriam condições de conversar. Foram dormir. No dia seguinte, Jacira e Sonia que não comentaram com Beatriz, ficaram sentadas no degrau da sala, tentando achar uma saída. Jacira toma uma decisão, procura na memória do aparelho telefônico para retornar a ligação. Do outro lado a gravação informava fora de área. Horas depois que atenderam, era a professora Dirce, ela diz que na noite anterior, alguém ligara para o celular, e logo depois Helena fugira e ela não sabia para aonde. Jacira assustada passa as mãos pelo rosto em desespero, não tinha outra alternativa, iria avisar a Neco o ocorrido, mas antes de sair, olha desconfiada para Sonia, mas ela se defende dizendo que não fora ela. Beatriz, tinha o mesmo jeito de Juraci, então confessa que foi ela que avisou a Helena, que quando elas conversavam sobre o ocorrido, ela ouviu e não exitou em avisar Helena, ligara depois que elas foram dormir, e Helena disse que iria sair naquele momento para lugar ignorado, e que quando pudesse, mandaria noticias e que dessa vez seria de telefone publico. E que ela iria falar com Neco, contaria a verdade sob pena de ser morta por seus capangas.
Juraci da um soco na porta passa as mãos pelo cabelo temendo por suas vidas. Sonia a conforma, e diz que tudo se resolveria se continuasse a divulgar o desaparecimento de Helena. Beatriz lembra que deveriam procurar um programa de televisão que trata desses assuntos, talvez assim a achariam.
Helena passou no banco de uma praça no jardim São João.
Beatriz sobe o morro e vai a direção a casa de Neco. Foi abordada por alguns vigias, mas não deu importância, ao chegar perto de Neco, ele estava conversando com alguns ajudantes. Ela o olha de longe e pede licença. Sem rodeios ela diz que ligara para Helena fugir, pois ouvira Juraci dizes que quando ela telefonou, Juraci entregou o telefone e ele ouvira toda a conversa, e que ela tinha uma muita gratidão por Helena, que lhe dera muito apoio, e que acreditava que ele entenderia, pois no jogo da vida havia perdas e ganhos, e que ela fizera isso porque a solidariedade e a gratidão são sentimento muito nobre, estão acima da amizade, pois Helena a incentivava a estudar e que quando Jeremias fora embora, sofrera muito e Helena ficou ao seu lado dando apoio. E que guerra era guerra, que o desafio estava em sua potencialidade de achar Helena por seus próprios recursos, e que não seria a própria família que o ajudaria. Neco ficou silencioso ouvindo suas palavras, e com voz baixa respondeu que ela tinha razão, ele perdeu aquela batalha, mas que a guerra foi travada, e que a partir daquele momento ele provaria sua força, e que Beatriz tinha duas horas para sumir do morro, do contrário ela sairia num rabecão. Beatriz agradece e sem demonstrar medo desce lentamente e antes de se afastar, fala bem alto para Neco que ela estaria nessa guerra também. Neco apenas a olha e dá um sorriso, Beatriz não entendeu se era de sarcasmo ou concorrência.
Beatriz chega em casa e arruma suas roupas, Jacira já tinha ido para o hospital onde trabalhava. Sonia pergunta assustada o que acontecera, ela explica rapidamente e diz que o tempo era pouco para ela. Sonia implora que ela de noticias assim que puder. Beatriz diz que não sabe aonde vai, mas que iria procurar Jeremias pelo mundo, se uniria a ele para sempre.
Juraci chega do plantão, entra em casa já informando que aquela noite era de muita cerveja e cantoria, tinha seus desentendimentos com Neco, mas não deixavam de ser amigos. Lembra de uma noite, Antonio chegara tarde do jogo de dados, ela tinha exagerado na bebida, e quando ele chegou, se desentenderam e Antonio a agrediu, ela revidou, as crianças choravam no quarto pediam socorro, porque temiam que acontecesse uma desgraça, igual a da casa de Selminha mãe de Zelito e Quito que teve o corpo perfurado de tiros depois que Mauro Trombada, descobriu que ela transara com uma mulher, ele ficou tão indignado, que seus gritos de horror fazia eco nas noites de silencio, uns diziam que era de ódio outros de remorso. Jurara matar a amante de sua mulher. Uma noite de seção no Centro Espírita, os Orixás incorporavam um a um em seus médiuns, as iaôs saudavam os guias em cantos de lamentos, Oxum chegou chorando tanto, que suas lágrimas marcavam as vestes de seu médium. Ossayn, o orixá das folhas da mata chorou diante os orixás, contam que ele seduziu Oxossi com ervas e o conquistou por uma noite. Seu Zé Pelintra chegou chateado, bateu forte com a bengala no chão, deu uma risada de tristeza e falou que o destino estava cruzado, que naquela noite, alguém iria tentar lavar as honra com sangue, deu outra risada e disse, baixinhos “pobres moços”.
Nesse instante, Selminha no pequeno barraco, era surrada com socos e ponta pés pela ira de Mauro Trombada. Do lado de fora, as pessoas silenciaram, era a lei daquela comunidade, não se intrometer em brigas de casais, o som das pancadas eram ouvidas de longe, ela gritou por muito tempo dentro de casa acuada, ela sabia que Mauro Trombada ia mata-la, as crianças ficaram agachadas atrás do barraco, Zelito e Quito se abraçaram e apertaram os olhos quando os primeiros tiros disparados faziam Selminha se calar pouco a pouco, e de repente a porta do barraco se abriu, ela saiu cambaleando tentou chegar perto de seus filhos, mas não conseguiu, estendeu o braço na tentativa de alcança-los, mas eles se afastaram assustados com o sangue que escorria de seu corpo. No Centro Espírita, Ossayn o orixá, o Deus das folhas da mata, que uma noite seduzira Oxossi com ervas de encantos, chorava e jurava vingança ao homem da terra. Ninguém entendia o porque de tanta nostalgia naquela noite. Seu Zé Pilintra tornou a dar outra risada triste, e baixinho repetiu “pobre moço”.
Seus gritos ficaram nas lembranças de muitas pessoas. Seu corpo perfurado ficou no chão por muito tempo, foi se transformando com os passar das horas, inchou tanto que as pessoas diziam que ela ia explodir, fizeram o velório durante a noite toda, alguém acendia velas quando o vento apagava. Até que o serviço funerário levou Selminha para ser enterrada. Seus filhos foram levados para outro barraco para não sofrerem ainda mais. Quando Neco soube do ocorrido, mandou um recado a Mauro Trombada, o recado chegou por um menino de oito nos que trabalhava para Neco. Mauro estava no bar Estrela do Morro bebendo cerveja num canto do balcão, silencioso, de seus lábios saia murmúrios que ninguém ousava perguntar, entre uma golada ou outra ele dava um soco no balcão de madeira maciça. Disseram que nesse momento ele estava chorando, pagou a cerveja e atendeu ao chamado de Neco. Subiu o morro ofegante, antes de dobrar uma esquina, deu um grito na direção da casa de Laurinha dizendo que ela também ia morrer que ele não perdia pra mulher “sapatão”. Seu grito de ameaça chegou ao Centro Espírita e Seu Zé Pelintra falou baixinho “pobre moço” e Ossayn o Deus das folhas da mata saltou um degrau e gritou “as matas saúdam o sol que vai nascer trazendo a cura e a justiça”.
Dizem que Mauro Trombada chorou aos pés de Neco pedindo clemência, mas ele não admitia covardia, perfurou o corpo de Mauro lentamente, a cada tiro ele chorava como um bezerro desmamado, quando Neco achou que ele pagara com a mesma moeda o que fizera com Selminha, deu o último tiro e ele silenciou para sempre. De longe seu Zé Pelintra disse baixinho “pobres moços” dizem que seu corpo desceu em sacos de lixo e foi abandonado na rua do ônibus.
Nessa noite de briga com Antonio, Juraci teve um momento de lucidez foi pra perto das crianças e as abraçou na proteção de mãe guerreira. Dessas lembranças, Juraci não queria perder, mesmo quando brigava com Antonio, as brigas sempre acabavam em longas noites de amor. Mas Neco mandou um recado para Antonio para ele nunca mais bater em Juraci, pois ele não permitia que homem batesse em mulher, principalmente se tratando de Juraci, sua parceira de samba. Nunca mais Antonio brigou com ela. Envolvida nessas lembranças, Juraci sacudiu a cabeça, era assim que ela fazia quando era tomada por lembranças. Sonia estava sentada na pequena sala a televisão desligada, o silencia assustou Juraci que logo apressou a perguntar o que acontecera daquela vez. Sonia responde que Beatriz fora expulsa do morro sob ameaça de Neco, pois ela contou que avisara a Helena para fugir da casa da professora. Juraci dá um suspiro e lamenta que a vida era difícil. Mesmo assim foi para a roda de samba, ao chegar Neco a chamou e em poucas palavras relatou o que fizera, e que ele iria distribuir fotos de Helena nos jornais e nos programas de televisão e que ele fizera contato com alguém do Rio de Janeiro que iria cuidar dessa divulgação. Juraci aceita a idéia, pois assim reuniria sua família outra vez.
Dias depois os jornais noticiavam o desaparecimento de Helena. Juraci foi convidada a um programa de televisão para falar que Helena havia desaparecido sem motivos. E que ela sofria muito essa perda, chorava em frente às câmeras, era uma mistura de medo e saudade de sua filha, por alguns momentos pensou em dizer para ela se cuidar, que tudo aquilo era arranjado por Neco, mas não teve coragem.
Helena arranjou um emprego de venda de cachorro quente num quiosque. A noite dormia ali mesmo, foi o trato com Moacir, o dono do quiosque. Sua vida era difícil, suas lembranças de quando vivia no morro eram saudosas, embora sendo uma vida de expectativa, mas estudava, e contava com um destino diferente. Mas Neco transformara sua vida. Amanheceu, e Helena se arrumava dentro do quiosque para mais um dia de trabalho, quando arrumava o balcão, um homem se aproximou com um jornal sob o braço. Helena se preparou para perguntar o que ele desejava, seus olhos brilharam de satisfação, ali estava uma filha que abandonara uma pobre mãe ali estava uma chance de ficar famoso. Abriu o jornal e mostrou sua foto e disse que no dia anterior, sua mãe estava aos prantos no programa de televisão a sua procura. Helena outra vez sente o gosto amargo da vida. Olhou a foto silenciosamente, e disse baixinho que não era ela. Seu Pereira perguntou aonde ela morava para confirmar sua dúvida, ele era o tipo chato do bairro, diziam que ele era o maior fofoqueiro do local, contam que Mauricio Veloso, casado com Marilei Veloso, que era amante de Sergio Carneiro, famílias ricas do bairro. Quando Pereira descobriu o romance dos amantes, contou para Mauricio, E numa manhã ele saiu para trabalhar nas empresas de seu pai, Pereira viu Sergio Carneiro entrar na residência do marido traído, ele telefonou para Mauricio e contou o que estava acontecendo, Mauricio retornou e ao flagrar os amantes na cama, descarregou a arma que atingiu Sergio que morreu na cama despido como nasceu e Marilei envolvida por um lençol, foi levada em estado grave para o hospital. Mas ela teve mais sorte, conseguiu recuperar dos tiros, e tempos depois o casal se perdoaram e foram morar em Portugal. Seu Pereira tinha os olhos pequenos com a forma de olhos de gato, seu sorriso era acompanhado por uma baba que denunciava sua satisfação em complicar a vida das pessoas.
Exaltava-se quando falava do pecado do homem, não perdia missa e ainda arrecadava dinheiro dos fieis para ajudar a igreja, na missa, seus olhinhos felinos, passeavam pela igreja a procura de um olhar que escondesse algum caso de amante, procurava com tanta ansiedade que na frustração, avaliava algum olhar de uma solteirona que estivesse apaixonada pelo padre, quando não conseguia esse satisfazer a esse mórbido prazer, ficava tão frustrado que jurava ter visto alguém dar olhares insinuantes para o padre e que esse olhar foi retribuído, e quando perguntavam de quem eram esses olhares, ele respondia que foi numa missa passada, e que a mulher nunca mais aparecera, talvez a pedido do padre depois de uma tarde de caricias no confessionário. Ele vivia de maldades, mas contavam que ele é vivia cortejando as mulheres solteiras e casadas, se passava por muito cavalheiro, mas não perdia a oportunidade de acariciar as mãos de alguém, até que a pessoa percebia e puxava rapidamente a mão já molhada pela saliva maldosa de Pereira. Helena pediu licença para limpar o balcão. Empurrou braço para fora. Inventou um endereço qualquer, que Seu Pereira anotou cuidadosamente no jornal, e se despediu sorrindo, ele não acreditara, mas iria conferir o endereço que Helena lhe fornecera, era assim, ele vivia de fofocas e dizem que ele adorava dar noticias ruim, quando não tinha uma desgraça no bairro, ele procurava nos jornais algo bem chocante e ficava na praça comentando com as pessoas, fazia gestos de indignação, mas na verdade era de satisfação. Helena o esperou se afastar, mas antes de dobrar a esquina, Seu Pereira olhou para trás e acenou para Helena era um sinal de espera, era sinal de desgraça. Helena abaixou a marquise de madeira, pegou a pequena mochila e saiu assustada com os fatos, perambulou pelas ruas e permaneceu numa praça sentada numa banco de cabeça baixa temendo ser reconhecida. De tarde, ela saiu a procura de uma lanchonete, passou em frente a uma loja famosa de eletrodomésticos e todas as tv, estavam no mesmo canal. Helena sentiu um calafrio ao vir Juraci chorando apoiada pela apresentadora e sua foto com os dizeres “criança desaparecida”. Helena pensou que não tinha outra saída, entrou numa perfumaria, comprou uma tesoura e vários aparelhos de barbear. Quando anoiteceu, cortou o cabelo rente a cabeça e com o aparelho de barbear, raspou o mais que pode.
Jogou os cabelos numa lixeira na praça, sentiu pena, mas uma sensação de liberdade, nunca pensara que seus cabelos eram tão pesados, nem Seu Pereira a reconheceria naquele jeito. Nesse momento, se aproxima um grupo de adolescentes de rua. Ela permanece calada desejando que eles passem sem nota-la, mas foi inútil esse pensamento, eles param para provoca-la pensando que era um menino. Helena tenta se defender das provocações e um deles diz que ela era homossexual. Ela foi agredida e se defende com um pedaço de caixote que estava no chão. Deu uma pancada na cabeça de um deles e o sangue escorreu. E começa uma confusão. Alguém chamou a policia e eles são levados para a cadeia. Quando o delegado pergunta por que ela tinha a cabeça raspada ela diz foi por causa de piolhos. Eles ficam detidos por alguns dias e são encaminhados para uma casa de recuperação de menores. Neco continuava a procurar por ela. Helena fica sabendo que uma grande quantia era oferecida para quem a achasse.
Os dias foram de sofrimento na casa de menores.Tanto os meninos e as meninas a rejeitavam pensando que ela era homossexual. As que eram adeptas a cortejavam, por essa situação, Helena ficava cada dia mais revoltada.O tempo passou e ela conseguiu se livrar dos preconceitos e conquistou alguns amigos.
Uma tarde de domingo, algumas crianças receberam a visita de alguma mãe. Os não tinham ninguém para visitar, ficavam brincando no pátio. Uns meninos de outra ala jogavam bola. Helena se aproximou para se distrais, a bola rolou até seus pés e ela deu um chute desajeitado e a bola saltou para fora do muro. Eles vieram em sua direção enfurecidos, outros disseram que “ele” fizera de propósito para provoca-los. Helena ficou paralizada aguardando a pancadaria, em sua mente a lembrança de uma época tranqüila. O grupo fez um cerco. Helena tentou explicar que não foi proposital aquele chute, tentou explicar que ela era uma menina, que sua vida mudara por que um homem se apaixonara por ela, mas seu, plano era estudar e ser professora. Mas foram tarde de mais, os primeiros ponta pés, atingiram seus estomago, quando caiu, seu rosto foi cruelmente agredido. O sangue escorria misturado as lágrimas e os gritos de socorro não saiam, pois o choro não permitia.Quando sentia que ia desfalecer, percebeu dois meninos de sua idade, tentando ajuda-la, eles a defendiam gritando para os outros com autoridade. Foram atendidos, os grupos se dispersou e os dois lhe deram as mãos. Helena se levanta meio tonta, e reconhece, era Zelito e Quito, filhos de Selminha que traira Antonio Trombada e morreu cravada de balas pelo corpo. Helena sorriu, há muito não tivera motivo de sorrir. Conversaram durante algum tempo, mas Helena precisava de atendimento médico. Quando o monitor chegou os amigos perguntou qual a ala que ela ficava, Helena respondeu com dificuldade e foi levada para a enfermaria. A punição dos agressores foi 15 dias sem visita, e esse motivo não permitiu que no outra domingo, Helena se encontrasse com Zelito e Quito, ela sentiu outra vez a solidão pesar em sua alma.Passado o castigo, num domingo de inverno, Helena foi ansiosa encontrar seus amigos. Eles não quiseram saber nada sobre aquele morro, queriam esquecer a tragédia que acabou com a mãe e o pai. Helena concordou, mas relatou, todo o drama que vivera, da perseguição de Neco das fugas, explicou que raspara a cabeça para ao ser reconhecida.
Neco exigia noticias do paradeiro de Helena. Juraci colaborava com essa procura. Quando estavam na roda de samba. Neco cantava melodias de um grande amor frustrado. Juraci uma vez perguntou se ele sentia amor ou mágoa por ter sido rejeitado por Helena. Ele respondeu que amava Helena desde criança, e que esperara ela ter quinze anos para casar com ela. Que seu plano era escolher Helena para ser mãe de seus filhos e que um dia quando ela estivesse com mais idade ele ia largar aquela vida para viverem em outro país.
Juraci tenta convence-lo que há muitas moças no morro que tudo dariam para ter seu amor. Mas Neco rejeita essa sugestão e diz que nada vai mudar seu objetivo, que ele teria Helena para ele, mas se não conseguisse, a mataria. Juraci sente um arrepio subir pelas pernas, toma um gole de cerveja e suspira, na mesa as pessoas não ouviram a conversa, mas pela expressão do rosto de |Juraci, perceberam que ela sentia medo.
Maria Black Flawer, montara alugou um salão e com equipe de boleiras, terminava de confeitar um bolo para entregar a uma família que comemorava o aniversário de um de adolescente de dezesseis anos. Ela caprichou mais que costume era dia de aniversário de seu filho Jeremias, que partira e nunca mais dera notícias, Maria sabia que era para preservar sua vida, mas desejava muito revê-lo. Foi entregar o bolo em Icaraí. Chegando no apartamento da família. Dora veio atender e elogiou o bolo. Quando estava se despedindo, Maria perguntou o nome do aniversariante, Dora respondeu que é Felipe. Maria nesse instante tinha os olhos cheios dágua e disse naquele dia era aniversário de seu filho e que estava completando dezoito anos, mas que ele foi embora e nunca teve noticias dele. Dora para conforta-la disse que Felipe estava passando uma fase difícil, pois o pai cometera um crime e estava preso. Marina já acostumada com as dores da violência não demonstrou surpresa, então Dora convidou-a conversar mais pouco para tentar amenizar o sofrimento que ela estava passando naquele dia de aniversário de seu filho. Quando Dora tornou a falar do crime que Sinezio cometera e tentara roubar os bens dos próprios filhos, Maria lembrou que acompanhara nos jornais aquele caso. Dora confirma que acredita na justiça de Deus e do homem, que no dia do julgamento encontrou com um homem que fizera muito mal em sua juventude e que no dia do julgamento de Sinézio, aquele homem era avó da amante considerada o pivô do crime, e ele sentiu uma dor muito forte no peito e morreu de um enfarto fulminante. Marina ouviu aquela história e suspirou acreditando que Deus faria justiça, um dia o causador da saída de seu filho pagaria caro. Dora acaricia suas mãos e diz que ela não deveria cobrar justiça de Deus, pois Ele é sábio, e que sua justiça vinha das formas mais estranhas, que nós seres humanos, não tínhamos capacidade de entender, mas sim aceitar. Dora concorda e diz que acredita em Deus. Despedem-se e Dora convida Maria a voltar sempre que puder.
Na casa de recuperação um carro da Prefeitura trouxe mais um grupo de jovens de rua, Helena desistira de insistir que ela tinha objetivos de cidadã, que precisava estudar, mas não lhe davam atenção. Ela conversava com Zelito e Quito, usava um boné e muitos não sabiam definir as tendências sexuais de Helena, ela não fazia questão de explicar, pois sabia quanto mais anônimo sua identidade, maior as sua segurança. Um jovem conhecido por Orelhão, se aproximou e disse para o grupo com entusiasmo, que soube que nas comunidades corria uma noticia de que um dono do morro chamado de Neco estava oferecendo muito dinheiro se alguém achasse uma moça chamada Helena. Os três tremeram e fingiu indiferença àquela informação. Helena que se apelidara de Rosa, trocaram de assunto para que Orelhão saísse para conversar em outro grupo, mas antes de sair ele falou que ia procurar essa Helena para receber a grana e ganhar todas as mulheres da cidade, inclusive uma loirinha filha de um “bacana” que sentia que ela o amava, mas que não se permitia aquele sentimento. O grupo sorriu concordando sem outros comentários. Diziam por ali, que Orelhão fora abandonado pelos pais, que aos dezessete anos já perdera a conta de quantas pessoas ele matara, e que não existia um morro na cidade que ele pudesse morar, pois ele era chamado de X-9, ele se vendia a policia e aos bandidos, não merecia confiança, era jurado de morte, por isso ele não era vigiado, pois a diretoria sabia que ele não fazia a menor questão de fugir dali.Quando ele se afastou, Helena chamou Zelito e Quito para um plano de fuga. Com a informação que tivera que Neco oferecia dinheiro para o resgate dela. Eles combinaram que iriam até Neco dizer que sabiam onde encontrar Helena.
Era de madrugada, Zelito chegou até o quarto de Orelhão e disse que precisava de sua ajuda para sair dali com Quito e Rosa, sua namorada. Orelhão não levantou os olhos antes de perguntar o que ele ganharia com a ajuda. Zelito disse que traria um grande presente pra ele. Orelhão exigiu drogas e roupas. Zelito confirmou que traria. Enganou a Zelito que Rosa estava grávida. Diziam que era o único motivo que sensibilizava Orelhão. Nesse momento ele levantou os olhos e abriu um sorriso de felicidade, Zelito sentiu sinceridade nele. Orelhão, o tranqüilizou e disse que quando chegasse a hora ele informaria. Os dias passavam e a ansiedade aumentava nos três amigos, até que um dia misteriosamente, alguém veio até Zelito e Quito e disse que eles estavam livres. A mesma pessoa foi até Helena e disse a mesma coisa, quando os três se encontraram do lado de fora da casa de recuperação de menores, ficaram sem entender como Orelhão fizera aquilo. Mas antes de se afastarem, ouviram um assovio do alto do telhado, e lá estava Orelhão fazendo o sinal de uma grande barriga e sorrindo, mas depois fez o sinal da recompensa. Zelito acenou que não esqueceria e seguiram pelas ruas da cidade a procura de um abrigo que não os comprometesse com a policia.
Neco estava na roda de samba, aquele foi um dia tranqüilo, oferecia bebida a todos que entravam no Bar Estrelado Morro. No clube os jovens se amontoavam para uma noite de baile fank organizado por Sonia.
Carlinho um menino de cinco anos, se aproxima de Neco e entrega um bilhete que dizia saber onde encontrar Helena. Neco se levanta da cadeira e olha em todas as direções para saber a origem do bilhete. Chama alguns amigos e fala sobre o bilhete. Desconfiado vai até o clube a procura de um olhar que se condenasse. Sonia animava o publico dançando num pequeno palco. Três jovens, a observavam com admiração. Neco se aproxima do palco, pede licença aos jovens para olhar de perto todos os rostos, contando com sua experiência de vida. Helena sentiu o sangue queimar seu rosto, puxou ainda mais boné para esconder seu rosto, Neco palpou seu ombro pedindo passagem, se ele fosse mais sensível teria notado o tremor de seus nervos, a respiração ofegante parecia que o ar estava acabando. A boca seca dificultava engolir a saliva grossa que formava na garganta. Suas pernas tremiam tanto que quando Zelito e Quito perceberam, a convidou para os passos da musica apelativa de fank, que bastava sacudir o corpo para entrar no ritmo. E o tremor ajudou Helena a disfarçar o pavor que a envolvia.
Neco permaneceu no primeiro degrau que levava ao palco. Olhava todo o salão, pessoa por pessoa, mal sabia que ali aos seus pés estava a causa de sua angústia e frustrações. Eles sabiam que os olhos de Neco passeavam lentamente, e que chegariam até eles. Esssa certeza fizera que eles saíssem lentamente no ritmo da música se afastando na direção de onde Neco já não olhava mais. Por um momento Heleno olha para o palco numa despedida silenciosa, Sonia encontra aquele olhar, dá um sorriso, tentando lembrar de onde conhecia aquele rosto, será de algum namorado, será de um grande amigo? Sacudiu os ombros e continuou dançando. Helena de aproximava da saída em ritmo de dança, quando o JD, parou a música, alguém pegou o microfone. Pediu silencio, os três jovens se aproximam do grande portão de ferro, a voz do interlocutor soa com aspereza, que todos permaneçam no mesmo local, que ninguém saia nem entrava, todos seriam revistados, o portão ia se fechando e os três transpassaram fingindo não entenderem a ordem, os corações acelerados de pavor.
No clube os jovens não entendiam porque Neco parara o baile, falavam alto um perguntava ao outro, até que Neco exigiu silencio.
Os três, desceram o morro no mesmo ritmo, Helena passou por sua casa, a porta estava fechada, com certeza Juraci estava no Bar Estrela do Morro. Sentiu vontade de entrar, sabia que a janela da cozinha não tinha tranca, quando tentou parar, Zelito e Quito seguraram suas mãos num gesto de solidariedade e amizade. Os três silenciosamente permitiram as lágrimas descerem. Nas lembranças a dor de perdas era tão forte, que entre sorrisos e choro, o último era mais presente. Depois só ouviam o som dos passos acelerando há cada esquina que alcançavam. De longe ainda ouviam a voz no microfone, mas não decifravam mais as palavras, mas sabiam que eram ordens, revistas e quem sabe mortes.
A noite era fria, desciam angustiados para chegar na cidade, eles sabiam que se alguém os vira descer, poderia dar um sinal qualquer e os comparsas de Neco os alcançariam, pois àquela hora da noite, dificilmente um táxi pararia para eles. Dormiram no outro morro onde alugaram um barraco. Vendiam baterias de relógio numa banca de um camelô amigo de Quito. Só Helena ainda não arranjara emprego, mas ficava em casa arrumando e cozinhando para eles. E resolveram que ela evitaria sair para não ser descoberta por Neco.
Numa noite, Neco estava conversando com uns amigos, quando um menino entregou um bilhete no qual dizia que ele deveria levar o dinheiro da recompensa para quem informasse onde encontrar Helena, até um Shopping em Niterói, e que ele fosse até um orelhão no segundo piso às dezessete horas e lá encontraria algo. Neco chamou os comparsas, seu coração acelerado numa mistura de ódio e ansiedade. Levou uma maleta contendo a quantia. Chegou ao orelhão e percebeu que havia uma radio de comunicação. Ele pegou discretamente e aguardou.Alguém falou do outro lado que ele olhasse para um banco abaixo no segundo piso, perto da escada rolante que subia. E lá estava uma moça de costas. Neco faz movimento para descer, mas a voz do outro lado disse que havia uma arma apontada para ele, e que ele deixasse a maleta embaixo do orelhão, e depois poderia seguir até Helena que o aguardava. Neco não contava com essa estratégia tão bem planejada. Não teve outra escolha, deixou a maleta no chão, seguiu para a escada que descia, e olhando para todos os lados, não percebeu ninguém suspeito. Seus comparsas não sabiam o que estava acontecendo e permaneciam de longe olhando para Neco. Mas no ângulo que ele deixou a maleta, não dava para os comparsas avistarem. Neco sentiu as primeiras gotas de suor brotarem em seu rosto. Pela primeira vez em sua vida sentiu o sabor do medo, já não pensava na maleta, seus pensamentos era na arma que alguém lhe apontava. Já não sabia se Helena era tão importante para tanto risco. Quando chegou perto da escada para descer, ficou fora do ângulo do banco onde estaria Helena, mas a moça, não passava de Quito que deixara a peruca e uma bolsa feminina em seu lugar, Zelito passou de terno e pegou a maleta no orelhão. Quando Neco chegou no banco, e viu a peruca e a bolsa, disparou o revolver a ermo para cima, as pessoas entraram em pânico, os três jovens tiveram tempo para saírem do Shopping, a policia foi chamada e os comparsas de Neco fugiram, mas ele foi preso.
No morro a noticia chegou rápida. Juraci não gostou do ocorrido, saiu a procura de alguém para ajudar a resolver o problema de Neco, foi até a delegacia a sua procura, sabia que essa situação iria deixa-lo mais irado. Na delegacia não deram informação do fato, Juraci saiu pelas ruas sem destino, não sabia o que fazer tinha que achar Helena e dizer para ir para o mais longe possível, pois sabia que quando Neco saísse da cadeia ele iria virar o mundo para se vingar do ocorrido. Juraci sentia o cheiro de muito sangue.
Era sexta-feira, Beatriz acabou de arrumar a mesa dos convidados a volta da piscina.Foi para seu quarto se arrumar e ir ao encontro de suas amigas para o show de um grupo de fank no clube da cidade. Em cabo Frio. Voltou para se despedir dos patrões e dar o último retoque na mesa. Celeste era exigente com detalhes e nessa noite iria receber a visita de políticos em sua mansão. Any era peruana, e trabalhava há muitos anos com essa família tinha a função de governanta.
O casal estava à beira da piscina, era noite de verão. Quando Beatriz se aproximou e disse que já estava indo,pois deixara tudo pronto para os convidados. Celeste notou o olhar de cobiça de seu marido. Beatriz é mulata, os cabelos encaracolados, o corpo esguio, olhos brilhantes, a juventude contribuindo com sua beleza, mas o sorriso era triste, ninguém sabia a sua história. Chegara naquela cidade a procura de emprego, antes perambulou pelas ruas, sabia que ali estava uma chance de refazer sua vida, deixar para trás as amarguras e desistira de procurar Jeremias seu primeiro namorado.
Celeste era ciumenta, olhou para Fernando e para Beatriz a procura de alguma cumplicidade, mas Beatriz abaixou os olhos e seu coração disparou, temia que algo pudesse comprometer seu emprego, ali estava estabilizada, arranjara alguns amigos. Celeste com ar de maldade, diz que vai precisar que ela ajude Any a copeira pois os convidados eram exigentes e ela não queria que faltasse nada. Beatriz abaixa a cabeça e concorda.Volta para seu quarto e repõe o uniforme. Fernando tentou discordar de Celeste, mas essa o fulminou com o olhar.
Durante a noite os convidados conversavam animados, Beatriz tinha esperança que fossem embora para ela se encontrar com as amigas que a aguardavam no baile. De madrugada quando todos foram embora, Beatriz correu ao seu quarto, trocou de roupa e desceu as escadas do jardim. Encontrou Miler, o motorista da família, estava sem sono. Conversavam animados pela música do rádio do carro. Beatriz bailava em ritmo de fank, Miler acompanhava com maestria, o contato dos corpos os faziam mais sensuais. Por um instante Beatriz se entregou a magia daquele contato e desejou ser beijada. Miler a abraçou pela cintura, seus lábios encontraram os de beatriz que carente de amor, se entregou em um longo beijo, escorregou seu corpo junto ao de Miler, não sabiam que estavam sendo observados. Da varanda da sala, que ficava no segundo andar da mansão, alguém os olhava, Miler quando percebeu foi lentamente parando de dançar, quando Beatriz percebe que era o Sr. Fernando, ela fingiu que não percebeu e dançava ainda mais, até que Celeste flagrou o olhar de cobiça do marido. Ela desceu as escadas e chegando perto de Beatriz, em rápidas palavras, mandou que ela pegasse suas roupas e fosse embora naquela mesma noite. Beatriz explicou que não tinha para onde ir, mas ela não atendeu, o ciúme a fazia rígida. Miler lamentou e ofereceu ajuda, dizendo que a mandaria para a casa de sua tia em Niterói. Beatriz foi encontrar com as amigas e se despedir, no dia seguinte voltaria para Niterói.
O Baile estava animado, por alguns momentos ela lembrava das caricias de Miler. Sentiu alguém abraçar sua cintura e iniciou as caricias iniciadas nos jardins da mansão. Beberam e seguiram para a praia, Beatriz se entregou as caricias de Miler, amanheceram na praia, era domingo, não tinham compromisso com horário. Quando a tarde chegou, Miler acompanhou Beatriz até as casa dos patrões para apanhar suas roupas. Quando chegou encontrou Fernando na varanda. Quando entrou notou que ele a olhava. Celeste a olhou com desprezo e superioridade. Beatriz fingiu não perceber. Quando estava saindo, chegando no jardim, percebeu Fernando brincando com os cachorros, no alto da varanda, Celeste os vigiava, Beatriz se aproxima de Fernando, ele abre um sorriso e quando estava bem perto, retribuiu ao sorriso carinhoso e por um momento seus lábios se encontraram, quando terminou o beijo, falou baixinho para ele, que a felicidade estava ao seu alcance, e que Celeste o prendia mais que os cães de estimação, que a vida é curta, que o amor é um sentimento que dá mais liberdade ao ser , e que Celeste não o amava, mas o domava, que ele se libertasse de suas garras e fosse procurar alguém do nível dele para ser feliz. Da varanda, Celeste os olhava com ódio. Beatriz foi bem perto da varanda e disse para Celeste que ela não aprendera a ser feliz porque não aprendera a amar.Saiu pela rua cantando uma canção de felicidade. Miler a levou a rodoviária, numa despedida breve, Beatriz diz que foi feliz intensamente naquelas poucas horas que valeram muitas.
Era madrugada, e os gemidos de alguém rompiam o silencio da penitenciária. Pareciam dores muito fortes, mas a pessoa tentava abafar com um pano, para não incomodar os que dormiam. Neco tentava saber de onde vinham aqueles gemidos, mas a escuridão não permitia. Aquela madrugada o levou ao passado, quando uma noite de inverno, ele dividia o espaço do chão com seus dois irmãos, Mirinho, Lilinha. Era noite de verão, sua mãe saira sem dizer a hora de voltar, era sempre assim, às vezes voltava quando o dia amanhecia, ou bêbada e machucada por um tombo, ou por uma surra, ou acompanhada de um homem bêbado que chagavam fazendo barulho, e Neco junto com os irmãos se encolhiam no canto e fingiam estarem dormindo. Seu pai era desconhecido, nunca soubera quem onde morava, era assunto que Amélia não comentava. A chuva aumentava junto com o vento que levantava as frágeis telhas. Os relâmpagos cortavam o céu clareando o quarto, Mirinho e Lilinha choravam baixinho, e ele tentava acalma-los contando que Deus estava mandando chuva para as plantas e os animais
. O vento soprava forte, com uivos parecia trazer mal presságios, a chuva caia como lamento de dor, a enxurrada descia o morro levando roupas, e muita terra. A luz acabou com o estrondo de um trovão, os gritos no morro vieram junto aos trovões pareciam fantasmas. Os três se abraçaram, amedrontados. Alguém bateu na porta dizendo para eles saírem dali. Neco não sabia se acreditava ou não. Correu até a janela para olhar para longe, na esperança de sua mãe chegar para ajuda-los, os gritos aumentavam, junto com outros estrondos, que agora eram barracos rolando junto com terra e pessoas. Neco na janela a espera da mãe que não chegava para ajuda-los. Sentiu algo gelado em seu corpo frágil de menino, rolou morro abaixo junto com terra e muita chuva. A escuridão não o deixava ver o que havia acontecido, sentia apenas que não podia se mexer, pensou que estivesse dentro de uma caixa d’água, não entendia o que estava acontecendo. De repente ouviu os gemidos naquela escuridão, tentava saber o que acontecia, em seu rosto, o sangue quente se misturava numa poça d’água logo ali perto de seu rosto. Lembrou de Mirinho e Lilinha, chamou por eles, e só ouvia gemidos, até que Mirinho disse que estava preso sob uma pedra e Lilinha estava com muita terra em seu rosto. Neco tentou se livrar dos entulhos, mas foi inútil, pediu socorro com todas as forças de seus pulmões, e ninguém respondia, gritava pelo nome de seus vizinhos e finalmente chamou pela mãe, e nada, os gritos se transformaram em choro, onde andaria sua mãe, será que ela viria com aquele homem bêbado para salva-los, será que ela pegaria uma enxada para tirar aquelas coisas de seu corpo, as perguntas ficavam em sua mente, ouvia os gemidos de seus irmãos ficaram cada vez mais fracos, ele então chamava por eles, e quando Mirinho respondia, ele dizia para fechar os olhos e dormir, que os anjos viriam até ali, Lílian perguntou em voz fraquinha, se os anjos tinham forças para tirar aquelas terras que cobriam seu corpo, Neco respondeu que viriam muitos, mas muitos anjos e eles o tirariam dali. Neco fechou os olhos, o cansaço aumentava junto com o frio daquela poça dágua. Ouviu uma música melodiosa, uma luz azul foi clareando uma passagem para um vale de muitas flores. Um rio corria límpido e brilhante pela luz do sol, os pássaros voavam pelas flores, e as borboletas coloridas exibiam sua dança no ar.Mirinho e Liliam de mãos dadas caminhavam pela relva verde a beira do rio. Neco os chamou. Mas eles não obedeceram, iam se afastando, no céu as nuvens formaram um caminho e de lá o som de trombetas deram passagens para muitos anjos descerem com asas brancas e cabelos cacheados, uns negros outros brancos. Neco sorria diante aquele espetáculo, insistiu que os irmãos voltassem, mas eles apontaram para os anjos e sorrindo disse que ele tinha razão, muitos anjos viriam para salva-los, e que lá do céu, eles lembrariam dele para sempre. As horas passaram, eles adormeceram e os anjos vieram e os levaram. Neco acordou com o som de ferramentas tentando escavar, ainda não entendia o que acontecera, ainda permanecia escuro. Depois de muitas horas, em que ele dormia e acordava, o ar ficando cada vez mais difícil, já não pensava em nada de vez em quando ele chamava pelos irmãos, mas não ouvia resposta, pensava que eles deveriam estar dormindo, mas não entendia porque a noite estava tão longa. De repente ouviu alguém dizer que achou dois corpos, e finalmente alguém pegou em suas pernas, e ele foi puxado lentamente, do lado de fora, câmeras de tv, pessoas aplaudindo, ele nos braços de um bombeiro, ainda não entendia. Acordaram dias depois num hospital. Ficara sabendo tempos depois que Mirinho e Lilinha morreram soterrados, e quando foram achados, em seus lábios ainda tinha a expressão de um sorriso de felicidade. Soube também que sua mãe estava chegando em casa quando o morro desmoronou levando muitas casas. Seu corpo nunca foi achado. Neco dizia que um dia cavariam aquele morro até achar seu corpo, mas ficou apenas nos planos.Foram dias difíceis, chorava de raiva e saudade, as vezes sentia culpa por ter ficado na mesma cama de seus irmãos, mas se justificava pensando que fora até a janela a espera de sua mãe. Viveu pelo morro com a ajuda de algumas pessoas. As dificuldades aumentaram, e foi para a cidade. Perambulava pelo dia pedindo a uns e a outros, quem o ajudava não encostava em suas mãos, jogavam o dinheiro e muitas vezes caia no chão, e quando ele levantava olhava suas mãos, será que tinha alguma doença e ele não sabia? Não entendia porque a pessoas não encostavam nele. Quando passava alguma criança parecida com seus irmão, ele disfarçava em encostava no braço, como para sentir suas presenças, e muitas vezes acreditava que fazia efeito pois quando fazia isso, a criança retribuía com um sorriso. Conheceu outras crianças na rua, e quando anoitecia, eles ficavam conversando, uns falavam de seus pais outros dos irmãos, Neco nunca falava nada, sentia medo de lembrar aquela noite, sentia vergonha de falar que ele sobrevivera, e seus dois irmãos morreram. Quando sentia saudade, chorava baixinho para os colegas não ouvirem. Um dia eles perambulavam pelas ruas, quando viram uma mulher deixar uma menina de cinco anos dormindo sob um cobertor, Neco correu atrás dela para dizer que ela esqueceram a filha dela na calçada, ela olhou para trás e disse para ele deixa-la em paz. Neco não entendeu, tornou a insistir, mas ela ameaçou de surra-lo. Neco voltou nervoso e junto com os colegas, ficou ali velando o sono daquela menina. Quando ela acordou, foi traumatizante, ela chorava assustada e pedia pela mãe. Os dias passaram ela ficou com eles, viviam fugindo das assistentes sociais de instituições, os mais velhos diziam que elas eram más, que na rua pareciam boazinhas, mas quando os levavam obrigavam eles a tomar banho e escovar os dentes. Neco jurou que nunca seria pego por essas senhoras. Quando anoitecia, eles procuravam as marquizas, e Pedrita, assim a chamavam, era ajudada a subir, faziam “pé pé”. Ela já se acostumara a viver com eles. Os tempos cada vez mais difíceis, quando não ganhavam alimentos, começaram os primeiros furtos em camelos, depois nas pessoas. Pedrita era assustada, todas as vezes que iam repartir os roubos, ela sorria e dizia que Deus ia castigar. Neco gostava de dormir encostado nela, dizia que ela tinha o mesmo cheiro de sua irmã. Era perto do Natal, as ruas ficavam cheias de pessoas até tarde da noite, as pessoas davam mais dinheiro que de costume. Pedrita ganhou umas sandálias de plástico transparente que exalava um perfume de bala. Ela exibia aquele presente, parecia uma bailarina, seu corpo magrinho, os cabelos crespos, e o sorriso com os dentes tão branco que Neco as vezes fazia cócegas nela para ficar olhando a seus dentes. Caminhavam pelas ruas que iam ficando mais vazias, os prédios enfeitados de luzes, as árvores de natal das lojas naquela hora estavam com a luzes apagadas, não se ouvia músicas de sino, sentaram no degrau de um banco famoso, para contar o que haviam arrecadado durante o dia. Neco lembrou que a padaria da esquina estava aberta, daria pra comprar um frango assado e refrigerante para um jantar mais farto. Os amigos ficaram sentados ansiosos pela volta. Neco se levantou e foi apressado pela calçada, quando ia entrando o balconista gritou para ele voltar. Neco tentou insistir, mas foi em vão. Se dirigiu até uma lanchonete que estava fechando e já mostrando o dinheiro antes de entrar, foi atendido. O frango estava quente, a embalagem conduzia o calor até seu corpo, ali estava uma ceia de natal, mas ele não sabia que era assim que as famílias se reúnem, nunca nem ouvira falar em ceia. Voltou feliz com o embrulho para comemorar a noite de Natal. No bolso escondia uma pregadeira para Pedrita, para as outras crianças balas e chicletes. Foi se aproximando e percebeu um carro de bombeiro,algumas pessoas, carros da policia com lanternas de alarme, espalhavam luzes, que coloria todo o quarteirão. Seu coração disparou e correu, suas pernas batiam uma na outra aumentando a velocidade, chegando perto, deparou com a tragédia. A polícia perseguia uns jovens que tentaram assaltar o caixa eletrônico do banco que eles haviam sentado no degrau, foi travado um tiroteio e Pedrita e outras crianças foram atingidas mortalmente. Ela estava deitada, o tiro pegou em seu estomago vazio. O sangue escorria até o meio fio, era tanto sangue, que por alguns segundo Neco não acreditava que todo aquele sangue era do corpinho tão frágil e magro de Pedrita. Neco jogou o embrulho na calçada, um cachorro que assistia a tudo de longe, veio receber aquele jantar. A noite foi longa, não dormiu, outra vez a dor da perda fazendo parte de sua vida. Amanheceu e seu rosto estava tão triste, que ele passou as mãos pela face e sentiu sua pele endurecida. Perambulou sozinho pela cidade. Quando via um grupo de outros garotos, se afastava para não ter que explicar o que acontecera. Uma tarde ele assistia um programa nas tv de uma loja, quando reconheceu umas mulheres chorando e o repórter dizia que elas eram as mães das crianças que morreram na calçada na vespera de natal. O caso teve muita repecursao. Um advogado bem vestido representando as mães, dizia que ia processar o Estado e que elas seriam indenizadas. Neco sentiu ódio daquela mulher, lembrou de quando ela abandonara Pedrita dormindo na calçada. Mas nada podia fazer, ficou ali olhando a televisão e as pessoas solidárias ao falso sofrimento daquela mãe.
O tempo passou, conheceu outros meninos, já praticava assalto armado com facas, os companheiros o admiravam pela rapidez e coragem que ele tinha de ameaçar as pessoas.Ele surpreendia com seus atos. Uma vez os amigos combinaram de roubar pessoas no carro. Ficaram do outro lado da rua. Neco a espera do sinal fechar. Quando se aproximou do carro, exigiu a bolsa de duas mulheres, uma delas o olhou com carinho, e entregou uma carteira com um foto da imagem de São Judas Tadeu, imediatamente ele devolveu a carteira e saiu de perto do carro. O sinal abriu e ela ainda olhou para Neco. Outra vez ele estava na rodoviária de Niterói uns jovens falavam que desafiavam ser assaltados, todos pareciam praticantes de academias. Na distração deles, Neco encosto a faca na costela dele e exigiu a carteira, quando o rapaz que estava tremulo de pavou entregou a carteira, Neco devolveu e disse para ele nunca mais contar vantagens. Os amigos riam dessas atitudes dele, uns admiravam outro invejavam. Contam que um dia Neco não conseguira nada na rua, os amigos estavam famintos, ele disse que aguardassem que breve estaria de volta. ele foi numa igreja e assaltou o padre, isso foi numa segunda feira, no dia anterior, muitos fieis deixaram suas contribuições. Neco foi nas lanchonetes e tiveram, um jantar muito farto. E por muitos dias não precisaram roubar. Quando alguém tentava falar em Pedrita, Neco desviava o assunto e dizia que não queria falar pois sua mãe dizia que não se fala nos mortos. Pois suas almas precisam de silencio para seguirem os caminhos que os anjos abrem para o céu.
Conheceu um traficante que o levou para ajuda-lo na distribuição de drogas.E passado os anos, um outro traficante mandou que ele escolhesse entre morrer ou matar o primeiro que o levara para o morro, ele matou e ocupou seu lugar comandando aquela comunidade. Ajudava aos carentes, fazia justiças com suas próprias mãos, e se apaixonara por Helena, magra como uma bailarina parecida com Pedrita que morrera na noite de natal de estomago vazio perfurados por tiro. E essa jovem que recusara seu amor e por sua causa estava ali naquela cadeia, essa jovem que parecia mais sabida do que aparentava. Ela merecia ser castigada, quando saísse dali, faria justiça com suas próprias mãos.
Estava ali, ouvindo aquele gemido de dor, lembrando de seu passado, quem será? Será que estava soterrado também. O dia amanheceu, ouviu barulho de pessoas despertando, o cheiro de café chegava e trazia a sensação de enjôo. Ficou sabendo que os gemidos eram de um preso velhinho que todas noites sentia dores de dente. Neco planejou pagar um dentista para cuidar daquele velhinho.
Mais um dia ali atrás daquelas grades só por ter atirado num shopping e quebrado os vidros, pensava assim, sem contar que, se seu passado fosse avaliado, sua condenação seria muito maior.
Uma assistente social veio atender os pedidos dos presos, Neco pediu para falar sobre sua situação, pois estava ali não sabia quantos dias e não conseguia falar com um advogado. A assistente prometeu que breve viria alguém para atende-lo.
Helena, Zelito e Quito, contavam o que estava na mala, sorriam comentando sobre a expressão do rosto de Neco quando deixou a maleta no chão e quando pegou a peruca no banco. E faziam planos de gastarem aquele dinheiro, mas sabiam que não poderiam comprar nada definitivo. Zelito disse que poderiam comprar muitas roupas bonitas para os baile fank. De repente ouviram um som de um espirro. Assustados olharam para baixo da cama. Não reconheceram quem era, mas sabiam que a partir daquele momento não tinham outra escolha a não ser matar quem ouvira o que falaram. Helena pega uma faca, e se prepara, Zelito manda o espião sair, e para surpresa de todos era Orelhão. Ele explicou que resolvera sair da casa de recuperação de menores e acompanha-los, e que não foi difícil, nas ruas todos os garotos falavam deles três e diziam que Helena era mulher/macho. Orelhão, diz que ele teve sorte, pois agora participaria da divisão do dinheiro. Não tiveram outra saída a não ser concordar. Esconderam o dinheiro num buraco cavado sob a cama.
No sábado seguinte, combinaram de ir ao baile de outro morro. Orelhão disse que não iria pois naquele morro ele era jurado de morte. Preferiu ficar em casa. Quando retornaram de madrugada, Quito dizia que Helena deveria definir a vida dela, deixar os cabelos crescerem para arranjar um namorado. Zelito ria da sugestão do irmão, concordando, mas Helena disse que em seus planos não havia lugar para sonho.
Chegaram em casa, a porta do barraco estava encostada, chamaram por Orelhão, e para surpresa, ele estava deitado na cama, a roupa urinada, os olhos abertos de pavor, estava morto por enforcamento. Antes de darem alarmes, foram no esconderijo do dinheiro, precisavam sair daquele local antes que as pessoas invadissem para fazer velório como fizeram pra Selminha. Foram no local, e tomaram um susto, o dinheiro havia desaparecido.
Um guarda vem até a sela de Neco e diz que ele estava livre. O advogado o acompanhou até a saída, cumprimentou-o e desejou boa sorte. Neco suspirou e deu um sorriso, a liberdade era como as flores, bela e perfumada. Passou numa banca de flores, comprou cravos vermelhos e subiu o morro, quando passou pelo centro espírita,cumprimentou Seu Zé Pelintra e colocou os cravos vermelhos a seu pés.
A cada barraco que passava alguém o convidava para tomar café, mas ele recusava. Chegou em sua casa e trocou de roupa jogando aquela, fora para nunca mais lembrar da prisão. Chamou Nelsinho e mandou que ele procurasse a assistente social da prisão e disse que ela arranjasse um dentista para tratar do velhinho. Mandou uma grande quantia para ser entregue a ela. Mas Nelsinho voltou com o dinheiro, a assistente social, disse que já haviam tratado do velhinho.
Beatriz viaja para Niterói com o endereço de uma tia de Miler.Chegando na rodoviária segue para Icaraí, quando salta do ônibus na praia, encontra uma cabine de policia para pedir informação. Toma um susto ao encontrar Jeremias fardado. Ela se aproxima para abraça-lo, mas ele a afasta, no regulamento de policia, ele não podia abraçar uma mulher na rua. Mas seus olhos encontraram os de Beatriz, apenas encostaram as mãos para trocarem a emoção daquele encontro. Se encontram num quiosque em São Francisco, Beatriz fala de sua vida, e que saiu de casa por ter contrariado Neco. Ele abaixa a cabeça e diz que sente muita saudade da mãe, que não a procurou para não comprometer sua segurança, mas sabia que ela estava bem.
Juraci conversando com Maria Black Flawer, decidiram que desceriam para a cidade a procura de seus filhos, comentavam baixinho sobre seus planos. Dias depois elas começaram a freqüentar bailes em outras comunidade, voltavam tristes por não terem encontrados eles. Na comunidade todos comentavam sobre a procura delas. Disseram até que Neco concordava sem interferir, mas Juraci sabia que não era verdade. Quando voltava, deixava Maria em casa e subia para o Bar Estrela do Morro, bebia e cantava samba da autoria de Neco. E quando a noite estava acabando, procurava carinho em quem estivesse por ali, as vezes até com jovens, e nunca faltava carinhos, pois Juraci era muito amada naquela comunidade.
Helena e os amigos, desceram o morro assustados, quem matou Orelhão, também os mataria, e se estivessem espreitando eles na rua? Essas perguntas o fizeram arquitetar um plano, subiram numa árvore para esperar amanhecer o dia e descobrir alguém escondido. Quando tentavam subir na árvore, ouviram um tiro em suas direção. O pavor foi tanto, que desceram sem olhar para trás, e os tiros eram disparados, até que eles chegaram na rua e dominaram a fuga, eles conheciam os lugares onde se esconder.
Passado os dias uns meninos de rua comentavam sobre a morte de Orelhão, então, Helena e os amigos, ficaram sabendo que Orelhão já sabia que eles tinham aquele dinheiro e combinara com Moleza outro amigo de os roubarem, mas Moleza era egoísta e matou Orelhão para ficar com o dinheiro. Zelito falou para Helena que os tiros foram apenas para assusta-los, por isso não acertou neles.
Era sexta-feira, Juraci voltou do plantão, e não trocara a roupa, subiu para o bar, naquela noite a saudade foi muito forte. Chegou e pediu uma cerveja. Neco ainda não chegara. Juraci batucava na mesa uma canção, o bar estava cheio, as pessoas animadas cantavam junto com ela. Ouviram o som do cavaquinho se aproximando, sabiam que era Neco, silenciaram como que inebriados com notas tão melodiosas, o vento parou, as luzes acesas, davam passagem para aquele mulato todo de branco, sorriso triste e olhos brilhantes. Parecia que aquela noite era eterna, no centro espírita os atabaques silenciaram para que o som do cavaquinho de Neco, saudassem todos os Orixás, no céu as estrelas encantavam a terra e a lua já no alto, clareava todo o morro. As mulheres sorriam e os homens também.Naquele momento parecia que Eros estava ali, e os Orixás aguardavam lugar em seu corpo, para que Eros fosse embora e permitisse a bebida, o cigarro e a melodia se misturarem para dar encanto aquela noite. Juraci parou com o copo na boca, os seios sob as vestes branca do hospital. Seus cabelos estavam presos, seus lábios ainda guardavam um resto de baton. Neco se aproximou cantando e sorrindo. Na pausa das notas, soltou seus cabelos. Juraci deu um sorriso, dessa vez um sorriso maternal. As mulheres encantadas com aquela cena,esfregavam-se nos corpos de seus homens.
Três rapazes subiam o morro, os cachorros latiam dando sinal que eram pessoas estranhas. O silencio era quebrados pelos seus passos. Conheciam aqueles caminhos estreitos, os bonés compondo as roupas largas e desajeitadas, mas elegantes para eles. Subiam, mas os cachorros continuavam enfurecidos, eles olhavam para trás e aumentava os latidos. Parecia mal pressagio, os uivos pareciam lamentos. Helena sente no coração um aperto de medo. Zelito e Quito lembraram da noite que Selminha fora morta por Mario Trombada. Mas eles estavam decididos a acabar com o reinado de Neco. Mal sabiam que naquela noite Neco estava preparado para amar, sua voz soava como um vento quente numa madrugada fria. A roupa branca comemorando a vitória de ter saído da prisão, Neco não nascera para prisão, ele era livre, aquele morro tinha o mundo a sua escolha, apontava para o céu e lá estava o sol, as nuvens e a chuva, a noite a lua as estrelas e as tempestades, abaixo a cidade que o saudava com a luzes acesas. Neco era feliz, e a sua volta as mulheres que o amavam, os homens que o admiravam. Helena subia o morro, em suas lembranças a ultima vez que descera para fugir dele, precisou pular o muro do colégio, precisou raspar os cabelos para não ser reconhecida, precisou acabar com o sonho de ser professora para fugir dele. O sonho quando é interrompido, vira pesadelo, e Helena vivia o pesadelo de ter que viver escondida por um crime que não cometera. Se aproxima do bar Estrela do Morro. Os cachorros continuaram a latir enfurecidos. Juraci estava sentada, o copo de cerveja sobre a mesa, olhou aqueles rapazes se aproximando, o copo de cerveja estourou derramando o liquido até sua roupa. Neco cantava um samba canção, olhou para eles, continuou cantando mas o sorriso foi se fechando e lentamente parou de cantar e ficou de pé, tocou as últimas notas. Helena tirou o boné junto com um revolver. No centro espírita Pomba Gira deu uma gargalhada, a médium sentou de joelhos no chão, girou o corpo para todos os lados e no meio do sorriso a frase: aqui se faz aqui se paga. Helena apontava a arma e suas mãos tremendo, de seus lábios saiam palavras que Neco não entendia. Juraci se levantou lentamente e pediu a Helena que não atirasse. De repente alguém gritou que a policia estava invadindo o morro. Helena não deu importância e preparou o gatilho. Nesse momento um policial se aproximou e aponta um revolver para Helena. Neco se joga em sua frente e o tiro atinge seu coração. As pessoas gritavam, o tiroteio foi o mais intenso da história daquele morro. Os dois caíram no chão, ele estende a mão até Helena, o cavaquinho quebrado, ele consegue dizer que a amou e que naquela noite se encontraria com Pedrita. Helena viu algumas lágrimas escorrerem de seus olhos e se misturarem com o sangue na roupa branca. Os Orixás disputaram quem subiria ao céu com a alma de Neco. Juraci abraça Helena e chora. Quando amanhece as pessoas mortas foram levadas. O corpo de Neco foi velado a noite toda. Juraci pega seu cavaquinho dá um sorriso triste e diz que Neco era livre. Jeremias e Beatriz amanhecem na casa de Maria Black Flawer ouviram o tiroteio e pensaram que a vingança foi a justiça.
Helena voltou a estudar incentivando Zelito e Quito. Os anos se passaram, e dizem que em noite de sexta-feira, ainda se ouve o cavaquinho de Neco soltar umas notas musicais, dizem que compositores famosos, quando querem inspiração, vão ao bar Estrela do Morro, e lá compõem as canções que fazem muito sucesso. Juraci ainda vai para o bar tomar cerveja, não namora mais ninguém. Dizem que quando ela canta olhando para a cidade, é porque ela vê a alma de Neco de longe acenando para ela, por isso ela canta sorrindo.
Lira Vargas.
Iniciei – 28/03/2002
Terminei 08/04/2002.

CRAVOS VERMELHOS
Noite de tempestade, Neco (11) abraçado aos irmãos Lilinha (06) e Binho(03) há cada relâmpago e trovão, os gritos de pavor se perdiam no pequeno barraco da favela.Neco vai até as frestas na procura da mãe alcoólatra que só chegava de madrugada sempre com um novo amante.Um relâmpago mais intenso e o vento arrastam brutalmente o barraco morro abaixo.Neco acompanha os choros dos irmãos diminuindo na escuridão da noite.Acorda no hospital.Sabe mais tarde que seu irmão e sua mãe morreram soterrados.Ela tentara subir trôpega no morro para socorre-los.
Neco órfão, na rua, rouba pra comer até ser escolhido para tomar conta do trafico no morro.Mulato sensual tocava violão, amado e odiado, escolhia suas mulheres mesmo as casadas enviando CRAVOS VERMELHOS para as noites de amor.Juraci enfermeira e mãe de três adolescentes, foi escolhida, mas naquela noite, os orixás do centro não permitiram o encontro, e Juraci, também cantora das rodas de samba, mantinha aquele amor frustrado nos braços de outros amantes quando o samba terminava. Numa tarde Neco envia cravos vermelhos para o barraco de Juraci, em seus olhos brilham de felicidade, mas os cravos vermelhos eram para sua filha Helena (l6), mas ela o repudia e foge.Neco a persegue por toda a cidade,oferecendo recompensa para quem a encontrar, ela raspa a cabeça,depois de ser confundida por menino,é agredida por outros meninos numa praça,vai presa e reencontra dois meninos que moraram no morro e sua mãe foi morta por ter traído seu pai com uma mulher, e Neco ao saber, mata o marido, e as crianças vão para uma casa de recuperação de menores.Trama de amor e ódio, Helena se torna menina de rua, e seus por seus sonhos de ser professora teram sido interrompidos, ela jura vingança a Neco.Volta para mata-lo, e por coincidência nessa noite a polícia também subiu o morro. Helena travestida de homem é confundida por um policial que lhe apontava o revolver ordenando que deitasse no chão. Ela tenta fugir, Neco se joga na frente do policial para proteger Helena, e morre.
Juraci canta nas noites de boemia, sorrindo para a cidade, só ela via o rosto de Neco entre o céu e o morro.
Lira Vargas

Do romance CRAVOS VERMELHOS
Autora Lira Vargas.
Tel.021 2620-1358.

CRAVOS VERMELHOS
O leitor vai encontrar nos personagens desse romance, fragmentos da vida real. Não faço uma apologia ao mundo do crime, apenas criei personagens que amam, odeiam e sofrem, são sentimentos comum ao ser humano. O drama e o suspense, andam lado a lado, é uma característica marcante em minhas obras.
Crio meus personagens, e não tento manipula-los, pois assim afastaria no que acredito, que eles tem vida própria, mesmo que virtual. Apenas aguardo que o conjunto dos fatos os conduzam as conseqüências de seus destinos,
A tragédia é conseqüência de falhas mesmo que inconsciente, o sofrimento social dos governantes, os desencontros da incompreensão ou intolerância. O conjunto desses fatos











Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui