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cronicas-->DIGA NÃO ÀS NOVELAS -- 27/05/2002 - 18:49 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Muita gente anda festejando a trama da novela da Globo por abordar o tema dos viciados em droga de forma tão incisiva e dramática. De fato, O Clone é uma novela que parece estar, pela primeira vez, sendo útil em alguma coisa. Palmas para a autora. Porém, como sou extremamente chato e estraga-prazeres por natureza (como todo bom antidançarino que, enquanto todos se divertem dançando, fica na cadeira resmungando), vou expor uma opinião que talvez incite algumas pessoas a me xingarem nas ruas ou, em casos mais drásticos, a jogarem frutas podres em mim (não façam isso, por favor!).

Eu acho novela uma droga. Literalmente, eu digo. Aquela lenga-lenga de casais que vão e voltam, de empresários que nunca trabalham e de vilões caricaturais, parece causar uma dependência nas pessoas, que se esquecem frequentemente das suas próprias relações sociais e largam tudo para ficarem em casa vendo uma marroquina ninfomaníaca não ter a mais pálida idéia do que fazer com sua vida e - pior - com a dos seus filhos. Grande exemplo.

Você pode pensar que eu não sei do que estou falando, mas eu te digo que sim, porque eu já fui um viciado. Sim, eu levava a janta pra frente da televisão, sim, eu tomava banho correndo pra não perder nada, e (ohh!) sim, eu cheguei no fundo do poço: eu já GRAVEI novela no vídeo. Eu confesso. Tem três novelas que eu me lembro bem de ter "seguido" (pra usar um termo próprio daquela época): Roque Santeiro, Mulheres de Areia e O Dono do Mundo. Roque Santeiro era engraçada, Mulheres eu assistia porque era a hora que eu chegava da faculdade e ficava sentado na frente da TV fumando sem pensar em nada. O Dono do Mundo eu não me lembro bem por que eu assistia. Não, ao inferno, felizmente, nunca fui: nunca vi mais de 5 minutos de uma novela mexicana.

Foi no meu primeiro ano de faculdade que eu comecei a perceber que as novelas eram, na verdade, sempre a mesma história com cenários e figurinos diferentes. Clones umas das outras. Por isso os mesmos elementos estavam lá: moça boazinha que se apaixona por moço bonzinho mas vulnerável ao ataque de moça interesseira e invejosa; os pobres e os ricos; empresário tratado com nome e sobrenome, tipo Vitor Ferraz ou Doutor Roberto Galvão (às vezes um audacioso Otávio Vasconcelos); mulher escrachada e desbocada, que não leva desaforo pra casa; moça feinha que se dá bem no último capítulo, casando com um cara rico que tem um helicóptero ou um conversível. Agora os gays estão na moda. Dificilmente aparece um anão, e nunca, nunca (reparem) um japonês participa das tramas (a não ser figurante Sushi-man).

E não é só isso. Eu acho que o roteiro de uma novela é muito pobre sob o aspecto da criatividade. As coisas acontecem (quando acontecem) muito devagar, sempre obedecendo ao ritmo mercenário do Ibope, que dita a velocidade e a longevidade de uma novela. Pegue um primeiro capítulo qualquer, por exemplo, e assista, logo depois, ao último. Pronto, você já viu a novela inteira! Sim, no final o carinha fica com a mocinha que não conseguiu ter durante toda a novela. Sim, a moça malévola que fez de tudo para estragar a vida da mocinha se deu mal. Sim, alguém morreu, sim, eles eram irmãos e - oh! - ela não estava grávida de verdade! O miolo da história é uma pasta insossa e inócua, um amontoado de lixo que não serve pra nada e não ajuda ninguém. Só atrapalha, na verdade. Os personagens se tornam modelos, e o que eles usam ou, pior, fazem é imitado pelas crianças e pelos pais, contribuindo para a massificação intelectual que está aniquilando nossa criatividade. Tudo vem mastigadinho, pronto para o consumo rápido, como um Big Mac.

Por isso acho irónica a situação dessa novela da Globo, O Clone. Ela desperta a atenção para a destruição que a droga traz para as pessoas, mas, para isso, usa uma tática exatamente igual à da droga: tenta nos anestesiar e nos tornar incapazes de raciocinar mediante sua utilização. É a dependência química da fórmula da Globo. Ainda bem que só sou dependente da fórmula ultra-secreta da Coca-cola.


Renato Cambraia, apesar de não gostar de novelas, é viciado nos Simpsons.e no grande Corinthians - o único time verdadeiramente Campeão Mundial de futebol.
11/05/2002
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