Este foi o título do artigo publicado originalmente em 05/09/2003. Como dissemos na semana passada, com o baixo nível do campeonato brasileiro de 2008, ele se tornou extremamente atual. Por isso, merece ser exposto novamente. É lógico que alguns fatos nele considerados ficaram fora do tempo, porém, o significado do que ali foi colocado permanece intacto ainda hoje. Assim, vamos a ele:
“Se a saída dos principais jogadores dos nossos clubes, levados principalmente pelo futebol europeu, continuar na mesma velocidade e com as mesmas características, o nosso principal campeonato perderá toda a sua importância, pois se transformará num torneio de 2ª categoria. Já em 2003 a queda na qualidade é facilmente percebida. Então, porque não pensarmos numa medida drástica que mostre toda a nossa indignação e o nosso inconformismo? Como o torcedor brasileiro de há muito vem sendo desrespeitado pelos cartolas do nosso futebol, que só se preocupam com os benefícios pessoais que esse esporte lhes proporciona, radicalizemos para valer. Pensemos mesmo num total ‘absurdo’!
Que tal a supressão pura e simples do Campeonato Brasileiro de Futebol da série A?
Essa seria a medida mais sensata e menos enganosa a ser tomada. A partir daí, com o vazio surgido no lazer dos finais de semana, as cadeias abertas de televisão poderiam transmitir para todos os torcedores as partidas dos principais campeonatos europeus, exatamente onde se encontra a maioria dos nossos grandes jogadores. Com essa atitude, todos sairiam ganhando: os torcedores, porque poderiam acompanhar o desempenho dos seus ídolos e assistir a jogos de melhor qualidade, e os canais de televisão, porque teriam uma audiência maior.
Como a mercantilização do futebol já transformou os nossos ex-grandes clubes em meros times de aluguel dos empresários de jogadores, essa seria sem dúvida a melhor alternativa. Poderíamos, então, acompanhar o excelente futebol que nossos principais jogadores mostrariam em outras plagas, e deixaríamos de aceitar as migalhas que atualmente sobram após a rapinagem perpetrada pelos gigolôs do futebol, certamente mancomunados com os nossos cartolas.
Para nosso deleite, imaginemos, por exemplo, uma partida da Liga dos Clubes Campeões da UEFA entre Real Madri e Milan transmitida para todo o Brasil. Veríamos em ação Dida, Cafú, Roque Júnior, Serginho, Kaká e Rivaldo pelo Milan, e Roberto Carlos, Flávio Conceição e Ronaldo – o fenômeno – pelo Real. Isso sem contar Maldini, Nesta, Rui Costa, Seedorf, Shevchenko, Beckham, Zidane, Figo e Raúl. Comparemos com um Fla x Flu ou com um Palmeiras x Corinthians. Aliás, vocês sabem as escalações atuais desses nossos ex-times grandes? Sinceramente, eu não sei, e, para ser sincero, nem quero saber!
Para salientar ainda mais o desastre que está acontecendo, suponhamos que o Cruzeiro, único time brasileiro que já garantiu uma vaga na próxima Taça Libertadores, consiga se tornar campeão sul-americano e ganhe o direito de disputar o Mundial Interclubes no Japão, no final de 2004. Fatalmente o seu adversário será um clube do nível de um Real Madri, de um Manchester United ou de um Milan. Como o êxodo verificado neste ano deverá se manter ou até mesmo se acentuar, alguém pode me adiantar com qual formação o Cruzeiro enfrentaria o campeão europeu? Do jeito que a coisa vai, o time mineiro só terá condição de segurar no país o seu plantel sub-10, porque o sub-12 com toda certeza já terá sido vendido para a Europa. Vocês podem prever o resultado dessa hipotética partida?
Pelo que foi colocado no parágrafo anterior, a extinção do CBF – Campeonato Brasileiro de Futebol – não é um absurdo tão grande como pode parecer à primeira vista. Podem crer, a vergonha será menor.
Vocês observaram que as letras CBF são as iniciais tanto da Confederação Brasileira de Futebol quanto do Campeonato Brasileiro de Futebol? Aquela, uma enorme farsa há vários anos, e esse, a partir de 2003, uma enganação do mesmo calibre!
Também, seria exigir muito que a criatura fosse diferente do seu criador!
