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Contos-->HISTÓRIAS DE AMOR E DE DESENCANTO - MICROCONTOS -- 30/07/2002 - 23:22 (Nelson Ricardo Cândido dos Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A HISTÓRIA QUE NÃO FOI ESCRITA

— A saudade mata a gente!
Disse isso no instante em que uma lágrima deslizava pela face abatida.
Cerrou os olhos, cerrou-se a vida. Daquele defunto, sabia apenas tratar-se de um jovem. Quem era ou o que o levara a definhar até a morte? Segredo que levou consigo!
Fiquei imaginando mil histórias para completar aquele final. De repente, desisti. Outro que o fizesse.
O final era tão tragicamente lindo, que bastava por si. Era como a vida que nos apresenta tantos retalhos, mas não nos dá a agulha e a linha com que juntá-los.
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DECISÃO

Desencantou-se da vida. E tomou a decisão de pôr termo a ela. A mesma decisão do amante abandonado, que jura nunca mais rever sua amada, mesmo que ela implore por seu amor.
Deitou-se em sua cama e já caminhava o suicídio em sua direção, quando um pássaro pousou na janela do quarto e cantou.
Imediatamente, apaixonou-se de novo pela vida.
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SUICÍDIO

Tantos problemas fizeram-no decidir-se pelo suicídio. Abriu a janela do apartamento e pulou.
Durante a queda, que parecia interminável, reviu toda sua vida, da infância à atualidade, descobrindo que não fora tão infeliz quanto pensara, e que em todos os momentos de aflição sempre surgira uma mão para confortá-lo.
Alegrou-se com sua descoberta e pensou que, desta vez, não seria diferente. Daria tempo ao tempo, sonhando viver feliz a partir de agora.
O choque de seu corpo contra o chão encerrou-lhe a vida e os sonhos.
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MÚSICA

Perambula pelas ruas, sem destino ou identidade.
Conta o povo que amava música. Para cada momento de sua vida havia uma música para recordá-lo.
No dia em que roubaram sua discoteca, esqueceu seu passado e saiu pelo mundo à procura de si mesmo.
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NOITE DE NÚPCIAS

Enterrou a noiva no quintal e, sobre o corpo, plantou uma macieira.
Anos passaram-se até a primeira colheita.
Vestiu seu fraque, arrumou as frutas num cesto ornado com renda; no quarto nupcial, saboreou-as com antropofágico prazer.
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SOLIDÃO

Passou a vida tendo por única e fiel companheira a solidão.
De tempos em tempos, ia a sórdidos locais à procura de um fugaz prazer. Mas com uma pessoa passou a encontrar-se constantemente.
Jamais se falavam; apenas se olhavam e se tocavam, com um prazer cada vez mais intenso.
Um dia, ouviu da outra: “Eu te amo!”
Ante a revelação, saiu e não mais tornou a vê-la.
Não poderia retribuir o amor, a não ser àquela a quem dera seu coração por toda a vida.
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JURAMENTO

Após a última desilusão, jurou a si mesma que seria um mico de circo se voltasse a se apaixonar.
Passou o resto da vida em total felicidade ao lado de um equilibrista.
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TRAIÇÃO

Era fiel. Durante anos submeteu-se aos diferentes estados de espírito do marido, suportando os maltratos e as também já indesejadas carícias, sem procurar outro homem.
A chuva de verão trouxe consigo um amante.
A ele entregou-se e descobriu-se mulher, desejada.
Após este, outros seguiram-se.
Jamais abandonou o marido. Só sua presença podia proporcionar-lhe o prazer de traí-lo.
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BODAS

O discurso era inevitável. Em presença de filhos, genros, noras, netos, parentes e amigos, além, é claro, da esposa, o anfitrião discursou em homenagem aos quarenta anos de casamento.
Emocionada, a esposa chorou copiosamente quando o marido agradeceu-lhe, perante todos, pelo exemplo que dera cuidando da casa, dos filhos e dele próprio, sem jamais discutir, suportando resignadamente todas as provações da vida.
Findando sua fala, arrematou dizendo que, se voltasse à juventude, faria tudo exatamente igual.
Uma vistosa senhora de cabelos grisalhos piscou-lhe maliciosamente, em retribuição à sutil referência a ela, que era sua amante a também quatro décadas.
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DORIAN GRAY

Por viver à margem da vida, reclusa em seu mundo, preservou em sua fisionomia a ingenuidade e a pureza de sua alma.
Já era uma mulher madura, quando o primeiro homem entrou em seu mundo. Com ele entraram também as desilusões. Quando ele a abandonou, sentiu que não poderia mais viver sozinha, sem um homem ao lado. E passou a procurá-lo.
De frustrações em frustrações, enganos em enganos, aprendeu com cada um a mentir, a enganar, a usá-los em proveito próprio.
As marcas de sua decadência moral estampavam-se em sua fisionomia. No seu caso, não havia um retrato escondendo as maldades de sua alma.
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SÁDICA

Quando a criança morreu, ela apagou o cigarro e chorou sincera e sentidamente. Não teria mais o prazer de aspirar o aroma da tenra carne queimando, ponto a ponto.
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MORTAL

Ao sentir-se solitária, saía à noite à procura de companhia. Sempre encontrava alguém que lhe dava carinho e prazer.
Após o gozo, matava o amante.
Evitava, assim, as desilusões futuras.
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ANTROPOFAGIA

Após suas mortes, comeu a sabedoria dos avós, a paciência da mãe, a alegria do pai e até o carinho do filho.
Mas agora, com a morte do marido, mandou cremar o corpo.
Não poderia comer mais frustrações além das que tivera durante o casamento.
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CORRESPONDÊNCIAS

Conheceram-se através de um anúncio no correio sentimental de uma revista. Resolveram, de comum acordo, por serem ambos casados, jamais se encontrarem pessoalmente, citar nomes ou endereços. O número da caixa postal e o pseudônimo eram as únicas referências que possuíam um do outro. Mas a correspondência constante por anos a fio fê-los conhecerem-se mutuamente de forma profunda e íntima, e se apaixonarem.
Os desabafos e consolos nas cartas foram responsáveis pela manutenção de seus casamentos.
Após a morte do homem, sua esposa, vasculhando seus pertences, encontrou as cartas e descobriu que, sem o saber, estivera tantos anos apaixonada pelo marido, com quem secretamente se correspondia.
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MASOQUISMO

O marido era masoquista. A esposa amava-o tão intensamente, que se deixou morrer para que ele sofresse sua ausência para sempre.
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INTERESSES

Sempre tinha companhia.
Numa das raras oportunidades em que conseguiu ficar sozinho, abriu a carteira e retirou de dentro a esposa, a amante, os parentes e os amigos.
Por mais que procurasse, não encontrou amor.
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ESPERA

De tempos em tempos, a traição lhe telefonava. Se não cedia a seu chamado, também não a dispensava de vez.
Quando a monotonia invadiu sua casa, passou a atender o telefone com voz de ansiosa namorada.
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VIDA VAZIA

Todos os dias, entrava no quarto e encontrava-o lá, olhando para ela fixamente, o peito musculoso à mostra.
Dia após dia, ela desejava que ele se dirigisse a ela, que a beijasse, a amasse, a cobrisse de promessas de amor.
Porém, ele jamais dizia palavra.
Cansada de sonhar com o amor não correspondido, entrou no quarto certa manhã e retirou o pôster da parede, deixando-a vazia como sua vida.
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APAIXONADO

Seu único desejo era amar e ser amado. Inúmeras vezes tentou, mas sempre era, ao final, desprezado. E a cada final, a morte lhe acenava, convidativa, convite que ele recusava.
Da última vez em que lhe abandonaram, a morte o abraçou e ele, finalmente, seguiu em sua companhia, apaixonado.

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