Véspera de Natal, andava pelas ruas e via pessoas irritadas, a buscar presentes adequados a cada orçamento.
No supermercado, levas de gourmets com carrinhos gulosos, bravejando pelos anos-luz até o caixa.
Nas ruas, a correria de gente com relógios apressados, no desespero do momento da largada.
Nas avenidas, multidões de veículos aglomerando-se ensurdecidos ao som de buzinas encolerizadas.
Nos becos, olhos revoltados com armas em punho, prontas para o ajuste anual.
Embaixo dos viadutos, casais operando milagres, a conter a prole inquieta.
Na favela, a mesa simples, pobremente enriquecida com refeição frugal.
No alto dos edifícios, luzes refletindo o sol recém-posto, a iluminar o banquete em black tie.
Voltou à casa, parou todos os relógios, apagou o fogão, tirou o telefone do gancho, abriu portas e janelas. Serviu-se de inebriante copo d água e afastou as cortinas. Olhou o céu com braços de anjo e brindou:
- Feliz Natal, Pai nosso que estais no céu!
|