Usina de Letras
Usina de Letras
25 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62275 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10382)

Erótico (13574)

Frases (50664)

Humor (20039)

Infantil (5454)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140817)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6206)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->A Violência no futebol! Parte I -- 14/02/2009 - 10:10 (Carlos Claudinei Talli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Violência no futebol – Parte I

Carlos Claudinei Talli



Do início dos anos 1950 até fins dos 1970, no Brasil já existiam pessoas com uma condição financeira precária, porém, diferente do que ocorre hoje, tinham identidade e dignidade, e aceitavam essa circunstância porque enxergavam a real possibilidade de conseguir uma vida melhor para seus filhos.



Nos colégios estaduais, que na época apresentavam a melhor qualidade de ensino, misturavam-se alunos advindos de todas as classes sociais. Nas universidades do estado, do mesmo modo, no mínimo 25% das vagas eram ocupadas por alunos provenientes da base da pirâmide social.



No lazer, a mesma coisa acontecia. No time infantil de futebol da cidade, por exemplo, via-se também a mesma miscigenação de classes sociais e o convívio pacífico entre elas. Os filhos das famílias mais abastadas freqüentavam amiúde as casas dos amigos mais pobres, e vice-versa. Alienação era uma palavra que não existia no vocabulário daquele tempo. Era uma época em que a amizade valia mais que as posses.



Com o êxodo rural, a migração interna e o advento da sociedade de consumo de massa, as pessoas perderam a identidade, a dignidade, e o reconhecimento passou a ser feito apenas pela quantidade de recursos que cada uma possuía. As demais qualidades do ser humano perderam totalmente sua importância e, atualmente, mesmo aqueles que alcançaram sucesso na obtenção de bens, se tiverem a infelicidade de perdê-los, imediatamente passam a ser desconsiderados e saem da posição social que tinham conquistado. Isso acontece inclusive entre parentes. A exclusão social, por isso mesmo, campeia à solta.



Ao apartheid racial tradicional, que infelizmente ainda existe, acrescentou-se o odioso apartheid social que é a marca registrada dos nossos dias.



Como conseqüência, as pessoas menos abastadas de hoje perderam a esperança de sair dessa difícil situação. Uma vez excluído, definitivamente excluído. E nunca se deve deixar um ser humano sem saída. Quando isso acontece, uma ocasião explosiva é criada. E a violência urbana é o corolário máximo desse contra-senso.



Quando alguém é mantido por um longo período sem qualquer esperança, pode ver todo o seu arcabouço ético desaparecer e, depois de algum tempo, encontrar dentro de si justificativa para qualquer ato que venha a praticar, inclusive crimes violentos que antes abominava.



Aproximadamente entre 5 a 10% das pessoas nessa situação passam a ter essa conduta ‘ética’.



Pichar paredes, depredar prédios públicos, jogar uma bomba numa lanchonete, matar para se apoderar de pertences alheios, traficar drogas etc. passam a não representar crime algum, mas somente o jeito de mostrar que ele – o autor - tem o direito de a qualquer custo se inserir na sociedade. É simplesmente uma maneira de dizer - eu existo, portanto, tenho direito a ter o que vocês têm.

E se essas condições não mudarem ao longo do tempo, a tendência é essa porcentagem ir aumentando gradativamente, cada vez com maior velocidade, e, finalmente, se tornar um problema extremamente sério. Novas pessoas são aliciadas – principalmente as mais jovens -, e quadrilhas passam a se multiplicar por toda parte. Aliás, no Brasil, acredito que já atingimos esse ponto.



No futebol, por ser um espelho do que ocorre na sociedade, não poderia ser diferente. Apenas o palco do espetáculo de violência sai das ruas e é deslocado para dentro – e para as imediações - dos estádios.



Até fins da década de 1970, famílias inteiras, inclusive crianças, iam aos campos de futebol para se divertir de uma maneira sadia. E as derrotas eram encaradas como fatos normais que acontecem dentro de uma competição esportiva.



Talvez a demonstração mais expressiva do que acima afirmamos ocorreu com a torcida do Corinthians, que ficou simplesmente 22 anos sem comemorar nenhuma conquista, e nem por isso cometeu atos violentos. Por causa desse comportamento ela passou a ser chamada ‘fiel torcida’.



Porém, já em 1997, esses mesmos torcedores deram sinais de que as coisas tinham mudado radicalmente. No campeonato brasileiro do mesmo ano, quando o Corinthians ficou entre os últimos colocados e a ameaça do rebaixamento era iminente, após um jogo em Santos, o ônibus do clube foi cercado e quase incendiado no meio da Serra do Mar, com todos os jogadores deitados no assoalho.



Ultimamente, o modo como as torcidas se comportam é ainda mais hostil. A violência é o carro chefe de qualquer uma que se preze. Quando as pessoas se dirigem a um estádio de futebol parece que estão indo para um campo de guerra. E por qualquer motivo, e mesmo na ausência de um, aquela minoria parte para o vandalismo com a maior facilidade. Matar ou morrer num estádio passou a ser – para essa parcela - um fato extremamente normal, pois a vida humana deixou de ser importante.



Com toda certeza uma causa muito grave está por trás de fato tão absurdo. E eu me aventuro a conjeturar que o motivo verdadeiro é exatamente o que foi abordado no início desse artigo. A perda da identidade, da dignidade e da esperança pelas camadas menos favorecidas da nossa sociedade, ocasionada pelo advento do odioso apartheid social que se instalou em nosso país, e em todos os países subdesenvolvidos do mundo, é a raiz desse grave problema.





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui