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Cronicas-->SOU LINDO! -- 01/06/2002 - 13:31 (José Roberto Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Sou lindo.

Ele estava certo.

Rosto romano: mandíbula perfeita, nariz reto, sombrancelhas grossas, olhos azuis, sem veias brancas no fundo.
Boca que esteve em lugares apaixonados. Lábios que se abriam numa janela de portinhas brancas como cal.
Hálito de menta.
Testa média, pelinhos pretos que seguiam numa cabeleira penteada para o lado, caindo sobre ombros largos.

Na sua mão direita, um saca-rolha.

- Hoje vai! Agora vai! - balbuciou ele, tremendo de emoção, medo, antecipação. - Você consegue, Getúlio. Você consegue.

Começar por onde, por onde começar?

Num ímpedo, ele enfia o saca-rolha na testa. O osso desvia a trajetória do negócio e a pele se rasga numa curva em meia lua, um pouco cima da sombrancelha esquerda. Um cano de sangue abre e jorra na pia e no espelho.

- Agora...

Getúlio enfia o cabo da escova de dentes na ferida em sentido horizontal. Enfia a danada até metade, puxando-a para fora. A pele resiste pouco e vai se abrindo, expondo uma coisa branca debaixo de uma carne vermelha. Getúlio coloca o dedo na ferida.

- Osso que osso osso, osso que osso!

Com as duas mãos, ele segura a pele da testa, respira fundo, rilha os dentes e começa a puxa-la para baixo. A pele não resiste e se descola da cara de Getúlio, que nem papel de propaganda velha colada em poste.
Amaciada por anos de creme, massagens, tratamentos e pó compactos, a pele do rosto de Getúlio se soltou dos músculos fácil. Agora ele não tinha mais um rosto: tinha uma massa de carne vermelha e branca aqui e ali, com pedaços de gordura.

47 anos teatro, cinema, televisão estava na pia, com sangue, pele, pelos, uma máscara de filme de terror jogada.

- Huiho Ohiiihóó! Hohem hohiitooo! - disse Getúlio. Mas sem lábios, faltando músculos, saia apenas um barulho borbulhante de entre seus dentes. Seus olhos queimavam e ele via tudo vermelho.

Ele pegou seu antigo lindo rosto e esfregou-o nas paredes do banheiro. Guardou-o no bolso.
Ajeitou sua gravata, afastou o sangue que do nó, acendeu um cigarro, colocou-o entre os dentes e saiu para o corredor da empresa com o saca-rolha na mão e um serviço a terminar.
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