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Cronicas-->Não posso mais contar outra história -- 01/06/2002 - 19:23 (Maria José Limeira Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NÃO POSSO MAIS CONTAR OUTRA HISTÓRIA
Maria José Limeira

O lago escuro que cobre meu corpo é o último leito onde me deito para viver o adeus.
Será o único, o derradeiro sopro, o assombro, talvez meus grito.
Mas, meu brado é silêncio, pois minha voz é somente um fio de sangue que me escorre no canto da boca.
Como o fim de um rio.
Vi milhares de lenços desfilando no velho cais mal-assombrado.
Tantas foram as lágrimas que, se contadas gota a gota, formariam um verdadeiro oceano Pacífico.
De Pacífico meu oceano tem somente o nome.
Talvez agora, nos umbrais do inexorável, eu encontre, finalmente, a pacificação.
Resolvi meu enigma.
Sou chão. Carne humana. Ossos. Olhos. Boca. Braços e pernas. Sexo e sentimento. Vísceras e coração. O sim e o não. Talvez nem tanto. Pelo tempo, perdi as contas.
Já não sou nada.
Sentei-me à mesa do relacionamento humano, sem realmente estar ali.
Deitei-me com homens.
Homens, homens e mais homens.
Sem conhecê-los, e sem saber quem eu era.
Mas, quando chegaste, amor, eu bem sabia, que meu destino era teu abraço.
Minha perdição no teu cansaço era intuir que, mal chegasses, partirias.
Quando nossos corpos se encontravam, eu roubava os ponteiros do relógio, para transformar instante em eternidade.
Sabendo que nosso fim era saudade.
E quando a porta se abriu e se fechou sobre tua partida, o adeus foi memória.
Andei.
Visitei parques, em longos percursos dentro de mim.
Frequentei bailes.
Vi carrosséis rodando, crianças brincando.
Chuva, vento, sol, lua, subjugaram meu corpo.
Conheci solidão.
Ouvi gritos varando as noites.
As paredes da casa eram túmulo que meu corpo não podia suportar.
Fui embora.
Retornei.
Tornei a sair e voltar.
Mas, o que mais doía não eram as luzes brilhantes da madrugada.
Nem a explosão do sol durante o dia.
Nem mesmo as longas tardes quando eu me aquietava na varanda, olhando para além do céu azul, onde talvez estivesses esperando que eu fosse te buscar.
O mais difícil de aguentar é que eu estivera plena, depois vazia.
Pois quando foste embora, devolveste flores que te dei, cartas antigas, lágrimas, nossa grande felicidade.
Mas, esqueceste de me entregar meu-eu, guardado no bolso da camisa que levaste na viagem.
Por isso é que sinto tanto frio aqui dentro de mim.
Não tendo mais nada, que tudo me roubaste, não sou mais eu, serei outra que, no fundo escuro do lago, estendeu seu leito, e desistiu da espera e do arrependimento.
Pois, ao destruir o que um dia virá, levaste meu amanhecer, e não posso mais contar outra história.
A não ser este relato dolorido de nós dois.
Do que não vem mais depois.
Do meu barco naufragado em alto mar.
Do cais mal-assombrado onde minh´alma vagueia.
Do meu enigma.
Do chão que procuro e onde não piso.
De braços, pernas e homens.
Do Big-Ben em marcha desesperada na direção do Nada.
Da minha chegada.
Da tua despedida.
Do teu instante.
Da minha eternidade.
E desse fundo lago escuro, onde se deitam, lado a lado - irreconhecíveis e irreconciliáveis - teu esquecimento e minha saudade...

(Do livro "Cronicas do amanhecer").
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB.
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