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Artigos-->Por que não estamos numa Matriz -- 02/03/2009 - 12:24 (Mauro Bartolomeu) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
22/5/2004



A idéia central do filme Matrix (Andy e Larry Wachowski, EUA/Austrália, 1999) não é original nem nova. Já há alguns milênios os hindus acreditam que o que vulgarmente chamamos de realidade ou de mundo exterior é apenas uma ilusão, enquanto que a verdade mesmo está oculta sob o “véu de Maia”. Trata-se, naturalmente, de um platonismo avant la lettre. Para Platão, tudo o que vemos são apenas “sombras” ou projeções do mundo real, inacessível aos nossos sentidos. Também Descartes, na sua primeira Meditação, imagina a possibilidade de que tudo o que consideramos real seja apenas ilusão produzida por algum “demônio maligno” cujo objetivo é nos manter nessa ignorância. De qualquer maneira, alguma coisa tem de forçosamente existir, conclui Descartes, uma vez que podemos pensar. Não é possível saber exatamente o que sou, se um ser como me vejo ao espelho ou se apenas um cérebro sonhando ser isso, mas é certo que sou algo que pensa, e que, portanto, existe. Peter Unger substituiu a idéia do “demônio maligno” pela de um “cientista maligno” capaz de fazer precisamente o que faz a Matriz: alimentar o cérebro com ilusões. Isso é descrito em seu romance Ignorance, publicado em 1975. É claro que daí para imaginarmos um cérebro sem corpo, mantido vivo dentro de um barril em meio de um composto nutritivo, é só um passo, e esse passo foi dado por Hilary Putnam, em Reason, Truth and History, publicado em 1981.

Seria inútil entrar na discussão sobre se nosso mundo é de fato “real” ou “ilusório”, pois me parece ser esta uma discussão mais metafísica (e portanto obscura) que o sexo dos anjos. Mesmo salvando essa dúvida radical, é claro que não vou abandonar minhas verdades cotidianas, a menos, talvez, que eu consiga entortar uma colher apenas com a “força do pensamento”. Seja como for, do ponto de vista estritamente científico há uma série de pressupostos absurdos na idéia da Matriz. Em primeiro lugar, não existe qualquer razão para que todas as pessoas mantidas na Matriz estejam interligadas numa rede virtual. Se a máquina pode alimentar meu cérebro com a ilusão de um mundo como este em que vivo, todas as pessoas com quem penso conviver poderiam ser tão ilusórias quanto um aparelho telefônico ou uma colher. Além disso, aquela bobagem de que ao se morrer na Matriz também se morre na vida “real” não faz sentido para qualquer pessoa que esteja “fora” das banheiras, apenas “navegando” na “rede virtual” da Matriz, como Neo experimenta inúmeras vezes. O filme não apresenta qualquer explicação convincente para esse fenômeno, que mais lembra um pesadelo de Fred Krueger. Outro ponto extremamente questionável é o argumento que tenta justificar porque não vivemos numa ilusão paradisíaca, mas sim nesse inferno. A justificativa é de o ser humano não suporta a felicidade, mas que, ao contrário, necessita do conflito. Argumento aceitável do ponto de vista da psicologia experimental, mas do qual muito se pode duvidar. O próprio Cypher, depois de ter logrado sair da Matriz, decide voltar para ela, desde que fosse para ser alimentado apenas de prazeres, mesmo sabendo que nada daquilo era “real”. A posição desse personagem já é suficiente para demonstrar, no mínimo, que a regra não tem aplicação universal.

Mas o ponto central ainda está por vir. O verdadeiro absurdo da hipótese Matriz está na razão pela qual as máquinas manteriam tantos seres humanos naquelas banheiras. Vimos que a hipótese de Putnam, a do “cérebro num barril” exigia que o recipiente fosse cheio de um líquido nutritivo, para mantê-lo vivo. Na Matriz, ao contrário, o corpo humano misteriosamente serve de “pilha” para alimentação dos circuitos das máquinas. Ora, é natural que se possa gerar energia a partir da digestão de um corpo, mas para manter um organismo vivo é preciso injetar energia, não sendo possível fazer o contrário. É claro que se isso fosse possível, não seria necessário tampouco um organismo humano, pois qualquer animal serviria para gerar essa energia, mas isso é apenas mais um absurdo periférico da hipótese Matriz. O que importa de fato é que não faz qualquer sentido uma humanidade mantida viva para gerar energia. Ela apenas serviria, como efetivamente acontece nesse nosso mundo (seja ele “real” ou não…) para gerar trabalho, mas trabalho equivale a transformação de energia, nunca “criação” dela.

Esse erro é absolutamente fatal para a hipótese – e por isso o melhor argumento contra ela. Seja nosso mundo “real” ou ilusório, definitivamente não estamos numa Matriz.



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