O que seria o saber? Sabemos que dependendo da filosofia pedagógica onde este saber é buscado há várias respostas. Assim, na abordagem tradicional ser capaz de reproduzir o que foi ensinado é prova de saber, na behaviorista a simples aquisição de um novo hábito reforçada pela capacidade de resposta treinada é sinal de que o saber foi adquirido. Quando o conhecimento não é oriundo nem do objeto conhecido e nem do sujeito consciente mas da operação mental processada, na teoria cognitivista, é o que é visado na busca do saber. Já a abordagem sócio-cultural defende o desenvolvimento do processo de conscientização onde o sujeito deve evoluir de um estágio de consciência intransitiva para o de transitiva crítica como sendo o vetor do saber, enquanto que a abordagem humanista aparece defendendo que o conhecimento é construído a partir da experiência pessoal do sujeito.
Sem intenções de defender esta ou aquela abordagem e até propondo uma postura mais eclética com relação a isto, gostaria de chamar a atenção de que há vários tipos de conhecimentos. Há o saber de informações, a capacidade de executar algo, a habilidade de falar idiomas, a análise crítica sobre um determinado fato histórico e até a transcendência da percepção das coisas. Neste sentido, não seria demasiado pobre agarrar-se a uma dessas teorias e elegê-la como sendo única e total? Não seria uma atitude reducionista anular complemente todas as outras correntes sem levar em conta o que exatamente se está ensinando e quais os seus objetivos?
Parece-nos então que há questões anteriores à o que é o saber. É preciso que se pergunte o que se pretende, ou o que é justo e honesto se pretender, com o que se está lecionando. Em outras palavras, uma vez que tenhamos uma visão clara e crítica do papel do ensino é que poderemos escolher a abordagem pedagógica que a partir daí estará adequada ou inadequada à uma determinada atividade didática.
Entretanto, num mundo de mudanças tão rápidas, parece-nos incoerente trabalhar com o saber como um resgate de coisas passadas, embora isto tenha o seu lugar. A capacidade de saber do passado é importante, mas poder adequar e projetar novas idéias no presente é de fundamental para que o saber se preste a alguma coisa. O futuro apenas intuitivo não é sinônimo de transcendência, mas o presente vivido sob as lições do passado não é nenhuma garantia de comportamento científico.
O saber deve, com efeito, ser o inesperado, pois resulta numa terceira entidade, além da fonte de conhecimento e da sua percepção. É o novo, que feito do velho com uma projeção do atual se apresenta como um saber não só adquirido, e nem tampouco transmitido, mas um saber construído.
Quantos de nós, professores, têm provido oportunidades de construção do saber em nossas aulas?