Está confirmado: para ser eleito, conseguir um cargo eletivo público, é mesmo necessário cooptar a consciência do eleitor com cestas básicas, churrascos e outros favores.
Quem garantiu a existência dessa prática foi o presidente da Câmara de Vereadores de Piracicaba vereador José Aparecido Longatto (PSDB), que num discurso para as demais autoridades do município, há algum tempo, explicou como funciona a prática.
É claro que a chamada compra de votos ocorre sob algumas circunstâncias. A primeira delas é haver a temporada de eleições. A segunda é a existência do político interessado no cargo público e, a terceira é preciso haver eleitores com “fome”, concordes em trocar o voto pelos presentes do candidato.
A aula explicativa do presidente da casa de leis de Piracicaba ocorreu numa reunião acontecida no Salão Nobre da Câmara Municipal, entre prefeitos e vereadores de outras cidades, convocada pelo deputado Estadual Roberto Morais (PPS).
Longatto ensinou que o vereador que não “ajuda” o eleitor com cestas básicas, facilitações de internação hospitalar e cirurgias, não tem possibilidade de se reeleger nos próximos pleitos. Na platéia as reações foram variadas. Algumas autoridades sentiram-se chocadas, outras envergonhadas, mas nenhuma delas se opôs às explicações.
Essa prática não é novidade para ninguém, novidade mesmo é falar sobre o assunto. Quando o vereador incitou proclamando “Diga aqui quem não age dessa forma”, nem mesmo os deputados federais e estadual presentes, ousaram discordar.
Um equívoco cometido pelo “expert”, no entanto foi comparar as ações do vereador com a do trabalhador comum.
É claro que as atividades de vereador não se comparam com a do trabalhador. Primeiro porque não existe carteira assinada entre patrão e empregador; segundo porque os edis devem comparecer semanalmente uma ou duas vezes ao local de trabalho, enquanto que o trabalhador comum tem sua presença diária obrigatória.
O trabalhador comum produz algo a ser consumido pelos demais cidadãos, enquanto que a produção do vereador não passa de normas teóricas, nem sempre aplicáveis. Outra diferença gritante relaciona-se ao salário. Qual é o trabalhador que recebe as mesmas quantias em dinheiro, pela produção semelhante à dos vereadores?
Não é verdade que o político, ao satisfazer as necessidades do cidadão por mais segurança pública, atendimento à saúde, educação e trabalho, eliminará os motivos para que esse eleitor satisfeito o reeleja. O eleitor encantado por pontes e asfalto novo, tende a repetir a dose. Não é o que se vê aqui em Piracicaba?
Contar para a sociedade que só se consegue o cargo público e, nele manter-se a troco de favores, é chover no molhado.
Apesar da notoriedade dos elefantes brancos que o PSDB produz, garantida por espaços nos meios de comunicação social, o mato alto, a sujeira, o entulho e, os lixos que se reúnem nas ruas, precisam de mais atenção.