Se o Robinho não estivesse jogando tão mal no Manchester City, eu estaria propenso a achar que o raio teria caído três vezes no mesmo lugar, a Vila Belmiro.
Todo esse entusiasmo me foi proporcionado pelas duas primeiras apresentações deste novo candidato a fora de série chamado Neymar. É, caro leitor, o garoto é diferente. Gozado, quando um jogador tem o verdadeiro dom natural, basta bater o olho. Ele dribla naturalmente, sem fazer nenhuma força. E para os dois lados. E com os dois pés. Tudo parece tão fácil...
Na noite de quarta-feira, 18/03/2009, contra um adversário fraco, o Rio Branco do Acre, eu vi o Neymar deitar e rolar. Fez um gol num arremate seco, após fazer uma tabela com o braço de um adversário; cruzou uma bola com a esquerda na cabeça do Cleber Pereira, depois de passar pelo lateral direito como o melhor F1 faz ao ultrapassar um simples retardatário, que terminou em gol; e participou de quase todas as jogadas de ataque do alvinegro praiano. Uma verdadeira exibição de gala.
No dia seguinte assisti Aalborg da Dinamarca 2 x 0 Manchester City, um jogo sofrível, e o time inglês classificado nos pênaltis para as quartas-de-final da Copa da Uefa. A participação do Robinho continua o marasmo de sempre. Toda vez que ele parte para fazer uma jogada, todo mundo já sabe o resultado. Nada. E pensar que ele foi o jogador que no início de carreira mais lembrava o ‘extraterrestre’ Pelé!
Depois, não foi bem no Real Madri, e agora está ainda pior no Manchester City. Os poucos ‘Oasis’ que ainda persistem em sua carreira são alguns raros lampejos de craque que acontecem quando joga na seleção brasileira. Parece que a amarelinha lhe cai bem, ao contrário do que ocorre com a maioria dos outros jogadores. A minha última esperança em relação ao Robinho vai ser a próxima Copa do Mundo na África do Sul. Talvez lá ele recupere o bom caminho... Vocês viram contra a Itália?
E eu fico pensando aqui com os meus botões: qual a melhor maneira de conduzir a carreira de um jovem promissor atleta de futebol? Como fazer pra ele não se perder no meio do caminho? Como fazer para que os milhões de euros que fatalmente vão fazer parte do seu admirável mundo novo, e torná-lo milionário, não lhe subam à cabeça? Será que tudo vai se repetir com o jovem Neymar?
Se essas questões não forem bem encaminhadas, a globalização do futebol poderá se tornar uma terrível fábrica de criar e triturar jovens talentos, tal o deslumbramento que lhes provoca.
No Manchester City, eu vejo um Robinho enfastiado com o futebol, coisa que até para um ex boleiro amador como eu é inacreditável. Eu sempre achei que jogar futebol fosse um verdadeiro manjar dos deuses, um enorme privilégio. Imagine, caro leitor, você trabalhar fazendo a coisa que mais gosta!
Durante algum tempo eu participei de algumas peladas jogando ao lado do Zenon, aquele excelente meia-armador do Guarani e do Corinthians, e no seu comportamento eu via o entusiasmo de um jovem. Numa simples pelada. Agora, olhando para o Robinho, um garoto ainda mal saído do cueiro, enfastiado, enjoado com o futebol. É difícil acreditar.
Tudo começa com deslumbramento, depois, geralmente, termina em enfastio...
