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cronicas-->A PRIMEIRA VEZ -- 27/05/2000 - 10:18 (Sérgio Eduardo Sakall) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eram dezoito horas e trinta minutos duma noite de outono, quando eu estava pela primeira vez ouvindo alguém falar sobre o que vinha a ser crónica. Já conhecia o tal ministrante de nome, e imaginava-o um senhor sério, culto, no mínimo, mestrado. Sua aparência deveria lembrar a de um médico, talvez a de um padre, pois eu sabia que tal homem era respeitado e ocupava um digno cargo jornalístico.
Daquela sala ampla, coalhada de pessoas estranhas, eu não conhecia ninguém...
De princípio, o popular homem que chamarei de João, apresentou-se, é claro. Seguidamente, falou de seu pai e de sua mãe (ambos falecidos), de seus irmãos, de sua esposa, de seus filhos - cinco, do seu estado de saúde (recuperava-se de uma operação), falou de sua formação acadêmica - nenhuma, da rua em que havia nascido, das proximidades da mesma rua, até citou sobre uma antiga indústria importante daquela região, enfim, quase que falou sobre o bairro inteiro!
Pensei num instante qualquer que antes não o tivesse conhecido... Primeiro que da minha imaginação ele nada tinha haver. Que irreverente realidade! Segundo que eu não estava nem um pouco interessado sobre as histórias de sua infància. Depois porque ele disse que para descontrair, deveríamos nos apresentar - imaginem só, detesto apresentações individuais! Comentou que não seríamos obrigados a fazer aquilo, apenas quem quisesse. No entanto, sentado em seu lugar, apontou com seu dedo indicador para cada uma daquelas pessoas, sem se importar com o nervosismo interno que, talvez, alguns poderiam estar sentindo.
Participando daquele encontro, acrescentou que teríamos ainda uma ótima oportunidade, porque, sobretudo, conheceríamos novas pessoas. Bem, não que eu não quisesse fazer novas amizades, mas não estava lá para este fim.
João, sempre com suas piadinhas (às vezes, com graça alguma) e com um largo sorriso no rosto, repetiu inúmeras vezes que: - "Isso dá crónica!" Eu que nem sabia direito o que era crónica, permanecia atónito...
E aquela conversa furada, um tanto quanto exagerada, foi se desenrolando... Contou tantas estórias que todas se emaranharam num só nó na minha cabeça e se perderam para sempre... Porém, deixavam uma pergunta no ar - ele iria ou não falar sobre cronicas? Parecia que era a primeira vez que o João estava diante daquela situação...
Numa visão geral, tive a sensação que ele guardaria em seu poder e não iria deixar escapar nenhuma informação das quais, com certeza, todos almejavam... Aposto e ganho que nesta altura do tempo, muitos de nós já estávamos aflitos para lhe arrancar qual dica fosse de como construir uma crónica. Foi quando João comentou:
- "Escrevam qualquer coisa num bilhete e prenda-o na porta da geladeira! É assim que se começa aprender a escrever cronicas..."
Não, eu não poderia acreditar naquilo. Que comentário mais estranho, para não dizer hilário. Será que ele sofria de algum tipo de complexo paterno e nos tratava como se fóssemos crianças? De certo que sim, pois além disso comentou que deveríamos também ter como instrumento de trabalho um cesto de lixo bem ao lado...
Imaginem só, em plena era da informática, seria um absurdo ficar imprimindo inúmeras vezes o mesmo texto, de forma que enchesse o tal do cesto, sem falar sobre a atitude anti-ecológica que isto provocaria...
Várias foram as perguntas que lhe fizeram e para a grande maioria delas, João sempre respondia: - "Guarde e lembre-me posteriormente sobre essa pergunta..." Tive vontade de lhe gritar: - Afinal, você vai ou não desembuchar?
Assim, horas se passaram e num incentivo derradeiro, João, bradou para todos:
- "Escrevam! Escrevam qualquer coisa! Mas, escrevam!"
Já no metro, voltando para casa, lembrei-me de lhe perguntar se eu deveria primeiro começar com o título do texto ou com ele em si. Fiquei olhando para as pessoas daquele vagão completamente perdido. Sobre o que escreveria? Talvez sobre uma senhora sisuda que estava sentada na minha frente ou então sobre um rapaz que se equilibrava em pé naquele vagão, com muitas sacolas na mão, ou ainda, talvez escrevesse sobre aquele meu primeiro dia de aula...
Achei conveniente narrar sobre esta última hipótese. Então, logo peguei caneta e papel, e permaneci durante algum tempo parado pensando em como começaria... Veio uma viva lembrança na minha mente, na qual eu pude ouvir João dizendo que tudo "dava" crónica. Prontamente pensei que foi a primeira vez que ouvi alguém dizer isso. Sendo assim, estava decidido o título então, pois nesta frase: a primeira vez, apesar de eu achá-la muito simples, acreditei em sua força, porque ela sugeria uma nova idéia. Daí, começar a contar o que eu senti naquela sala foi apenas um passo.
Agora, após 3 horas com o texto na tela do meu computador, tendo corrigido-o algumas vezes, sequer com alguma lata de lixo por perto e imaginando que jamais este ficaria pendurado na porta da minha geladeira, descobri que aquele homem, o tal do João, estava coberto de razão: "Tudo dá crónica!"
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