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Artigos-->SER ESCRITOR: Adalberto Lima x Francisco Miguel de Moura -- 27/03/2009 - 22:20 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Chico Miguel, nasceu nos anos trinta, no povoado Jenipapeiro, antigo distrito do município de Picos do Piauí. Foi o primeiro funcionário do Banco do Brasil, parido pelas águas do Riachão e também pioneiro em plantar uma semente de Letras nas várzeas do Jenipapeiro,das Bocainas e dos Arrodeadores. Começou a escrever quando as matrizes eram formadas catando-se os tipos no caixotim e ainda mandavam-se opúsculos ao prelo.



Nascido numa região próxima, denominada Rodeador, fui bancário como Xico, e, há muitos anos, também pelejo numa “luta vã” com as letras, porque, “escritor não é profissão oficializada” – diz Xico – “Ninguém pode aposentar-se como escritor nem declarar a profissão na ficha do hotel...” De fato, não temos amparo legal para aposentarmos como escritor, nem se ganha muito dinheiro fazendo literatura, ser escritor não é uma profissão reconhecida pelas leis brasileiras, ninguém pode aposentar-se nessa profissão. Não há sequer um código específico no Instituto Nacional de Seguridade Social, (INSS), que permita o recolhimento de contribuição à Previdência Pública, para que no futuro, o contribuinte se aposente como escritor. Entretanto, nem só de pão vivem os literatos, mas de toda sabedoria que sai de sua boca. O mudo não fala, porque nunca ouviu o som das palavras, nunca ouviu a voz humana. Do mesmo modo, quem não conversar com os livros é tão mudo e cego quanto aquele que não ouve, não fala e nem vê, pode até emitir sons ruidosos, imagens gesticuladas, mas, jamais poderá ser

considerado eficaz na comunicação.



O desprezo àqueles que dão suas vidas pelas artes, vem de tempos mais remotos – a literatura greco-romana tem registros mais antigos desta realidade: “Litterae nom dan panen” – as letras não dão pão –, e, embora muitos amados como Jorge, os Andrades e outros, tenham conseguido extrair o pão, a duras penas, de uma fatia de letras, nada se fez (no Brasil) desde Sêneca, Horácio e Petrônio, para legalizar a profissão de escritor.



Sem (pré)conceitos formados, mas até com muita honra e certo espanto, em 2004 tive a satisfação de revisar a monografia da Cientista Social Fernanda Veloso Lima, que, em minucioso estudo, postulava o reconhecimento da atividade de prostituta como profissão. A exemplo disso, não deveriam os estudantes de literatura

elaborarem artigos científicos, monografias, dissertações ou tese de dourado, trazendo à baila o problema da oficialização profissional do escritor?



Apelamos também ao Dr. Ozildo Batista de Barros, atual vice-presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a quem nos anos oitenta, tive o prazer de receber em minha casa em Caxias do Maranhão, em companhia de Francisco Miguel de Moura, (Chico Miguel), numa peregrinação pelo Nordeste do Brasil, vendendo livros de autoria deste último.



A que distância está a clandestinidade da legalidade? Podem-se produzir obras literárias e também vendê-las, mas não é uma profissão. Até quando, o escritor permanecerá apenas no estado de dicionário definido por Aurélio: “Autor de composições literárias ou científicas”. E, com todo respeito aos colegas que (sobre) vivem da arte de escrever: ou os canais competentes tomam as providências necessárias ao conhecimento da profissão de escritor ou cairemos nas formas depreciativas: escrevedor de livros e escriba.



Logo que produzimos o texto “Ser Escritor”, destinamos por e-mail uma cópia ao Chico, – militante e padecente da literatura piauiense – um dia, quem sabe – triunfante.



O ponteiro grande do relógio, não havia ainda girando os 360º de sua caminhada em volta do tempo e a resposta chegou-nos pela mesma via:



Caro Adalberto,

No seu e-mail (eu escrevo agora emeile, aportuguesando) você relata fatos a respeito de minha vida que a memória já havia passado uma esponja por cima. Foi ótimo. Como presidente da União Brasileira de Escritores – UBE– PI e depois lutei muito por isto, mas parece que em vão.



Vamos ficar toda a vida como putas das letras. Não é bom porque não podemos ter salário, INSS, aposentadoria, renda que não seja praticamente clandestina – como se fosse esmola. Mas é bom

porque mantemos a nossa independência intelectual e a nossa consciência de atalaias da cultura, da inteligência, do sentimento e da dor do mundo que é grande – toda alma tem as suas dores, diferentes e por ela é que nos diferenciamos dos nossos irmãos e ao mesmo tempo nos humanizamos. Bom dia, meu caro irmão, escritor de Santo Antônio de Lisboa, Rodeador – e receba o abraço deste jenipapeirense que não tem vergonha de ser escritor, vender seus livros a

quem quiser comprá-los como qualquer camelô.



Saudações fraternas do XICO MIGUEL DE MOURA

Um pouco mais tarde, ainda no mesmo dia, Chico retoma o assunto:



Caro Adalberto,

Muito me envaidece, nesta quadra da vida em

que nos parece que já fizemos tudo, seus elogios

mediante leitura de meus artigos. Sua mensagem

me dá conta de fatos que já não me recordava

mais. Copiei-o e vou guardá-lo em minhas

correspondências, que são muitas. É um fato que

por não sermos reconhecidos nem no Ministério

do Trabalho, nem no da Previdência Social, por

não termos direito a salário ou outra vantagem

paga a quem tanto trabalha pela humanização do

homem como os escritores, salvo uns míseros

direitos autorais que as editoras não pagam por

isto e por mais estão desacreditadas no Brasil, é

um fato que nos podemos considerar as “putas”

da inteligência e da cultura. Quando o escritor

morre, às vezes seu nome é lembrado para o

nome de uma rua ou de um beco sujo, que os

políticos pensam que construíram, mas quem

construiu foi o povo. Mas eu gostaria de referir

a meu último livro até agora, minha “Fortuna

Crítica”, lançado sábado passado na Academia

Piauiense de Letras, com sucesso – vendi 40

exemplares. Para um dívida de 15 mil reais que

contraí para poder editá-lo, me falta muito. Mas

não falta coragem de sair por aí examinando

quem quer, uma boa alma, uma universidade ou

colégio, e às vezes, as mais das vezes, um amigo

– mesmo assim ainda está longe. Está longe o

dia em que um Estado como o nosso queira ajudar

às publicações como a minha, que é uma

antologia de poemas e ao mesmo tempo de crítica,

com um depoimento meu e uma entrevista

minha, à parte a mini-biografia que um colega

levantou de mim, colocando também coisas a

meu respeito que eu não sabia. Se você está entre

meus amigos que queiram ajudar-me, o mesmo

lhe posso fazer depois, ficarei bastante agradecido.

Abraços por tudo o que veio e o que há de

vir, com minhas saudações fraternas ao colega

escritor de Rodeador.

XICO MIGUEL DE MOURA









 


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