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Contos-->Um Encontro com uma Estrela -- 03/08/2002 - 17:43 (Abilio Terra Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um Encontro com uma Estrela

Abilio Terra Junior

Paulo era um lenhador, ou, dizendo melhor, um cortador de árvores lá na região limítrofe entre Brasil e outro país sul-americano. Usava já todo esse equipamento moderno, serras elétricas e tudo o mais a que tinha direito. E fornecia a madeira por ele cortada das grandes árvores à uma grande empresa nacional, que, por sua vez, era subsidiária de uma grande empresa multinacional (estava bem atualizado, como se pode notar).
Ele já ouvira uns comentários que corriam pela região de que poderosos executivos da grande empresa multinacional haviam "aprontado" poucas e boas, "maquiando" os balanços contábeis, transformando, como por milagre, prejuízos em lucros, e se apropriando de vultosas quantias da sua empresa. E, que, para não ficar atrás, também na grande empresa nacional, outros igualmente poderosos executivos haviam se apropriado indevidamente de outras igualmente vultosas quantias, utilizando-se de processos mais ou menos semelhantes aos dos seus colegas internacionais.
Talvez por isso, Paulo ficava tempos esperando pelos pagamentos do seu trabalho, que costumavam demorar bastante. Enquanto isso, procurava passar seu tempo de diversas maneiras, como, por exemplo, namorando belas morenas, tanto de um lado, quanto do outro da fronteira. Eram mulheres belas, com um pronunciado biotipo indígena, com longos cabelos bem negros, quase sempre bem lisos, tez amorenada, belos dentes, sorriso amplo, alegres, desenvoltas, sensuais e sem muitos preconceitos, bem diferentes das mulheres das regiões mais centrais do país, de onde ele viera.
Então, se divertia bastante e procurava não assumir compromissos. Afinal, ainda havia muito tempo pela frente para isso... Quando cansado de namorar, ligava o rádio ou a televisão e passava algumas horas em estado abúlico, ou seja, aquele estado em que todos nós ficamos quando estamos frente à "telinha", de amortecimento ou entorpecimento mental e psíquico.
Pois muito bem, numa dessas vezes, Paulo assistiu à um programa, no qual se apresentava uma cantora lá da sua cidade, com uma voz, uma interpretação e uma presença que lhe deixaram muito impressionado. E quanto mais a ouvia, mais impressionado ficava. Assistiu ao programa até o fim, e, depois, ficou cantarolando as músicas que ouvira, e com a imagem da estrela (que resumia sua popularidade à sua região de origem. Não que lhe faltasse talento, pois o tinha de sobra. Mas, para quem, como ela, estava fora do eixo Rio-São Paulo, o sucesso a nível nacional era bem mais difícil. Sabia de muitos que só alcançaram êxito fora do país e permaneciam ainda pouco conhecidos dentro das fronteiras da sua pátria...) ainda viva, em sua mente. Chegou até a anotar o e-mail do programa.
Ficou, depois, matutando, se valeria a pena enviar um e-mail para a "diva". Não faria papel de bobo? E se ela nada respondesse, que era o mais provável (assim pensava), ficaria bem frustrado... Mas resolveu arriscar! Não possuía computador, foi até a casa de um amigo, explicou por alto o motivo da urgência do tal e-mail, e "caprichou" na mensagem, colocando a estrela em uma condição ainda mais luminosa! E voltou ansioso para sua casa.
No dia seguinte, à noite, passou "por acaso" na casa do amigo e lhe perguntou se chegara alguma mensagem em resposta à sua. O amigo ainda não ligara o computador, assim, se dirigiu com ele até o seu micro, entrou na Internet, no Outlook, e ficou aguardando a chegada das mensagens.
E o nosso amigo com o olhar aceso nessa outra "telinha"! E, de repente, seu coração deu um salto: chegara a tão esperada resposta! Ele sentou-se frente ao micro, e a leu, ansioso: ela lhe respondia no mesmo tom, dizendo que se sentia lisonjeada com tantos elogios, que era muita bondade dele, e que esperava que ele aparecesse por lá, na sua cidade, e quem sabe? Poderiam até se conhecer! Ele saiu da casa do amigo "pisando nas nuvens", quase passou pela sua própria casa sem vê-la, tamanha a sua emoção!
Apressou-se em comprar logo uma passagem, e, já no dia seguinte, viajava para sua cidade natal. Lá chegando, dirigiu-se à casa dos seus pais, que, como sempre, o receberam com muito carinho. Bateu alguns papos com os pais, os irmãos, e logo em seguida, procurou satisfazer o seu anseio: no computador do seu irmão, enviou uma mensagem para a sua estrela (o seu nome era Ângela), dizendo-lhe que já estava em sua "terrinha" e, logicamente, se poderia se encontrar com ela o mais breve possível.
A resposta chegou horas depois, ela dizia que estava de partida para uma apresentação em uma cidade próxima, mas que retornaria em dois dias. Paulo sentiu-se meio decepcionado, mas, o quê fazer?
Aguardou, com uma ansiedade cada vez maior, que os dois dias passassem, ao fim dos quais, recebeu outra mensagem: Ângela lhe comunicava que chegara e que poderiam se encontrar ainda naquele mesmo dia, à noite. Ele respondeu imediatamente, marcando o local, um barzinho bem conhecido na cidade, e o horário.
Meia hora antes já lá estava, sentado à uma mesa, e aguardando a chegada de Ângela. O tempo passou, e nada! Já estava há uma hora esperando e sentindo-se cada vez mais tenso, com aquele medo crescendo, de que ela fosse lhe dar um belo "bolo".
Mas não é que, quando menos espera, surge Ângela, com um sorriso exuberante, se aproximando! Paulo levantou-se com um salto, deu-lhe um sorriso surpreso, apertou sua mão macia e lhe beijou o rosto.
"Ao vivo", Ângela conseguia ser ainda mais linda! A conversa rolou solta e, em pouco tempo, estavam tão íntimos como velhos amigos. O tempo passou rápido, na verdade, perdera a noção do tempo, tão deslumbrado estava com a presença marcante de Ângela, sua vivacidade, seu jeito carinhoso e íntimo de falar e de sorrir, seus gestos com tantos significados, seus cabelos negros e ondulados, sua face sedosa e clara, seus lábios cheios, seu nariz levemente empinado, seu corpo bem emoldurado e leve. Era perfeita, tudo em seu devido lugar! E a presença de espírito, o senso de humor, o conhecimento e a sensibilidade! Estava extasiado!
De repente, o celular de Ângela tocou, ela atendeu, e, em poucos minutos, suas feições se modificaram completamente... A medida que conversava com seu interlocutor, pois dava para ouvir uma voz masculina vibrando em alto som do outro lado, ela empalidecia, e deu para perceber gotas de suor surgirem em sua testa. Parecia que Ângela se sentia acuada, que estava sendo ameaçada por alguém que detinha um imenso e indescritível poder sobre ela, que não admitia qualquer contestação! Seria alguma dívida que a bela estrela devia a esse algoz desprezível e vingativo?- pensava ele com seus botões.
Ângela olhou para o relógio e respondeu ao sujeito do outro lado da linha que em alguns minutos com ele se encontraria! Ele quase caiu da cadeira! Era demais! Tanta felicidade, um encontro tão maravilhoso acabar assim... de uma forma tão aviltante, ultrajante! Mal conseguia acreditar! Ela desligou o aparelho, disse meias palavras entre dentes, e dele se despediu. O seu olhar transformara-se de confiante, fulgurante e belo, em desesperado, com uma tristeza profunda, como se desse destino ignóbil jamais pudesse se safar! Algumas lágrimas pareciam prestes a se derramar daqueles olhos maravilhosos.
Paulo sentiu, naquele momento, uma dor dilacerante em seu coração, a dor da impotência perante forças malignas, perversas e indestrutíveis. Apertou sua mão o mais que pode, como se tentasse prendê-la para si, em uma inútil tentativa. Ela se voltou, e ele viu seu belo vulto desaparecer entre os passantes... para sempre! Sabia que este havia sido o seu primeiro e último encontro com a "sua estrela"!




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