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Poesias-->Semáforo -- 08/10/2002 - 20:03 (paulo tiago santos leite) |
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Como pode
os homens de bons modos
viverem tamanha burrice e desvelo
crença macabra e propósito
viver o ócio do dinheiro.
Bolso cheio e mórbida seriedade
Como pode
esta correria sem propósito
em nome de um lugar
pódio imaginário
vislumbrar as fachadas
e acreditar-se o maioral?
Como? Se não há um único remédio
quando os olhos secam as lágrimas
e alcançam a completa escuridão?
Já sem tempo para o último banho
e afogar a alma em compaixão.
Eis a noite caindo na cidade
Enxergam o ruído em todos os planos
Quem olha de altos andares
Consegue fazer-se gigante
ao deparar-se com os medos palpitantes
Uma pequena estória:
Fecha a janela do carro
que vamos passar no semáforo. Rápido!
Uma moeda? Tenho não!
Nem uma? Não, só uma nota de cinqüenta.
Sinais histéricos de negação,
pára-brisas limpo contra a vontade.
Vidro fechado.
Não importa, luz verde no sinal, arranca.
Murros no capu, que decepção.
Do lado de fora:
Olho vidrado na mudança.
Limitada variação
verde...
Alguns segundos, um papo ou silencio.
Talvez concorrência.
Estado de alerta, parece.
Não sei o que conversam,
o que se passa nestes momentos
Estou sempre do lado de dentro. E só,
querendo ver além
O que conserva aquele sorriso...
Amarelo...
Expectativa.
Fechou, corre, o tempo é curto
E a boa vontade existe
sempre por um interesse, disfarçada.
Vermelho...
Moeda nenhuma...
Não pedi para limpar o pára-brisas
Ouvi isso ao meu lado, claramente,
naturalidade espantosa.
Sangue frio - fecha o vidro!
Do lado de fora:
Bota uma moeda aí patrão...
Que eu não fiz nem um real hoje.
Do lado de dentro:
fecha o vidro.
O medo morreu? O que uma pedra faria?
O som de um tiro cala qualquer boca infernal.
Que fala cordial - as maiores ofensas - bons modos.
Que céu triste nos espera toda manhã.
E os carro passarão no sinal.
Que corrida injusta.
O importante é competir
Quando criança eu falava
se ia brincar de algum jogo.
E isso me soava como algo justo e verdadeiro.
O mundo se baseia nesta máxima incoerente.
Como é terrível viver na cidade
e ter que esperar o sinal
Sempre fechado.
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