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Artigos-->A escola não serve para nada -- 23/04/2009 - 17:50 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O tema “educação” é a salvação de todos os hipócritas. Gente que adora repetir slogans do tipo “ só a educação vai salvar o Brasil” ou “somos todos educadores”, mas que, na vida vivida, não só não educa nem a si mesmo como ainda contribui para impedir que outros sejam educados de fato. Não me refiro apenas a certos e conhecidos políticos. Esses já são mais que denunciados a cada dia, apesar de continuarem em seus cargos repletos de privilégios. A educação, como muleta discursiva está na boca de todos: pais, empresários e educadores remunerados: de professores a diretores. A prova disso é o consenso que se formou em todos os setores sobre quem é o responsável pela ineficiência e pela ineficácia dos sistemas educacionais brasileiros, tanto os públicos quanto o privado: os senhores professores. E só.

Sou professor. Aqui mesmo, no Tribuna, já concordei com opiniões radicais de certos críticos, como Gustavo Ioschpe, que apontam uma série de vícios mantidos pelos docentes brasileiros. Continuo concordando com eles. Para mim, docência não é missão, é profissão, e , como tal, exige certas posturas que são comuns em outros profissionais: assiduidade, comprometimento, seriedade e, claro, resultados. Também não acho que professor é mal remunerado, se comparado a outros profissionais do mesmo nível. Que todos deveriam ganhar mais e que os salários pagos aos professores do Ensino Infantil deveriam ser iguais aos do Fundamental que deveriam ser iguais aos do médio, nivelados por cima, é uma ressalva que faço a essa posição aparentemente neoliberal encabeçada pela revista Veja. No mais, não vejo problema em exigir do professor que ele seja tão competente quanto exige que seu médico seja. No mercado, já diziam nossos avós, quem não tem competência não se estabelece, e é melhor para todos que não se estabeleça mesmo. Tanto o médico, quanto o professor, quanto a doceira. Daí a responsabilizar apenas os professores pelo caos do ensino, há um abismo de diferença.

Se todos os professores resolvessem agir como profissionais que são, e não como uma casta missionária e sofredora, não haveria, no entanto, ambiente de trabalho para a grande maioria deles. Por um motivo muito simples: as mesmas escolas que exigem profissionalismo, estão longe de ser profissionais. Falta, entre escola e professor, aquilo que existe entre qualquer boa empresa e seus funcionários: reciprocidade. A hipocrisia que assola a sociedade é reproduzida em quase todas as diretorias, coordenações e salas de aula de colégios públicos e particulares. Hipocrisia que permite que os mais modernos projetos de educação sejam implantados e que, mesmo assim, formandos do Ensino Médio sejam analfabetos funcionais. Se o objetivo é, como em qualquer negócio, obter resultado, ei-los: nossos jovens não se tornam pessoas melhores ao frequentar a escola. Para ser acusado de radicalismo: do jeito que está, a escola brasileira não serve para nada. E isso é estrutural, não é um defeito simples que possa ser remendado. É preciso demolir as colunas que sustentam a roda-gigante da hipocrisia na educação brasileira.

Professores do Ensino Infantil ganham tão mal que só conseguem viver num mundo limitado. Sem perspectivas, estudam pouco, leem pouco, questionam pouco e vão educar os pequenos com a mesma visão limitada. No Fundamental, a remuneração é melhor, mas parece haver uma preocupação tão grande com a formação de cidadãos que os professores até se esquecem de formas leitores e fazedores de contas básicas. Ao chegar ao médio, mais que a metade de uma sala de aula com quarenta alunos é incapaz de ler enunciados elementares, mas, ainda assim, o professor se vê obrigado a prepará-los de forma homogênea para a mesma missão: passar no vestibular. Nas públicas, ninguém liga e o bonde segue assim mesmo. Nas particulares, disfarça-se o desastre com ensino apostilado, atividades complementares, portais na internet, muita propaganda, mas o problema continua existindo.

O “problema” todos conhecem. Para responsabilizar os professores por eles, é preciso dar-lhes espaço para mudar o que acharem necessário em suas salas de aula. Como agiria um engenheiro se percebesse que o projeto de um prédio pelo qual é responsável está comprometido por qualquer motivo? Se fosse profissional, mudaria o que fosse necessário para evitar uma tragédia. Se fosse um ixperto, receberia o seu dinheiro e problema de quem comprasse um apartamento no prédio. Hoje os professores estão impedidos de agir como aquele engenheiro profissional. Há tanta burocracia, tantos objetivos pedagógicos irreais, tanta pressão de todos os lados, tanta resistência que é mais fácil deixar do jeito que está ou mudar para uma atividade em que o profissionalismo seja um substantivo menos abstrato. Do jeito que estão, as escolas brasileiras vão espantar – e já estão espantando - os docentes profissionais e atrair cada vez mais os Naji Nahas da educação. Em vez da demolição da hipocrisia, o que já se consegue é um desabamento da educação.
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