No começo era apenas uma pequena mancha de óleo na calçada. Uma simples mancha preta em frente a minha porta. Entretanto, passado algumas semanas, apareceram novos pingos de óleo na calçada, que foram motivos de inquietações por vários dias.
- Donde vem estas manchas? Por que em frente a nossa porta? Serão resquícios da P 36? - Perguntava-me, tentando buscar uma resposta.
- Tu estás ficando encucado com as manchas. Será que é feitiçaria?
- Ainda não. Não acredito. Tem que existir uma explicação plausível. A razão nos dará um esclarecimento lógico.
A família das manchas aumentava a cada novo dia. As minhas dúvidas acerca da origem das manchas eram formuladas sempre à tardinha, quando chegava em casa após um dia de trabalho e ia preparar um aperitivo para sorvê-lo na varanda. E lá estavam elas ornamentando o calçamento do passeio público.
Certa feita numa manhã cinza deste outono, ao sair de casa rumo ao serviço, observo que uma das manchas de óleo estava ainda viscosa, parecia que estava ali há poucas horas, pois a lajota não havia absorvido aquele líquido negro e viscoso e estava ainda úmida e pegajosa. Certamente, era pela manhã o acontecido.
- Mas será o pé do benedito! Será que estão fazendo algum "trabalho" com óleo. Não é possível! Não pode ser! Quem será que passa por aqui todo santo dia carregando uma valise de óleo e pinga bem em frente a nossa porta.
Comecei a rememorar as pessoas que diariamente cruzavam lá por casa. Os dois guris que trazem os jornais pela manhã. Vizinho? Diariamente? Acho que não. O carteiro? Este só passa pela tarde. Não cheguei a nenhuma conclusão e as dúvidas permaneceram por mais algumas semanas. As manchas de óleo na calçada aumentavam as minhas desconfianças e fomentavam um mistério.
O mistério da mancha preta na calçada.
- Pai, acho que é um fantasma. - Sentencia meu filho.
- Eu acho que é um fantasma... um fantasma do Pokémon.
- Não existe fantasma de Pokémon, pai.
E todas as manhãs uma nova mancha decorava as lajotas em frente ao hall da nossa porta.
Cedo da manhã, por volta das 5 horas, recebo os jornais em casa. Sempre ouço o ruído quando o jornaleiro coloca-o na caixa metálica do correio e alguns segundos após o ruído da moto partindo para nova entrega. Em seguida, cruza novamente pela minha janela, o mesmo ruído da moto que vai sumindo pelas ruas na manhã do bairro visitando novos domicílios.
Some debaixo do intenso nevoeiro um trabalhador que acorda muito cedo para levar informação de porta em porta pela cidade afora.
- A moto! - Levanto-me num sobressalto.
- Tá pensando em moto! A maioria das pessoas que trabalham costumam dormir nesta hora da manhã. Vá dormir homem de Deus.
- A moto do jornaleiro... só pode ser.
Corro até a porta, acendo a luz da área e lá está ela, úmida, viscosa, viva e um pouco morna, recém saída do motor da moto do entregador de jornais.
Madruguei!
Cerração intensa e muita umidade no ar. O fogo na lareira torna agradabilíssima a leitura matutina dos periódicos regionais.
"Petrobras explica vazamento de óleo".
Era a principal manchete de capa do jornal recebido no dia em que desvendei o mistério da mancha de óleo na calçada.