SEM NADA DIZER
Faço São Paulo parar,
Rio de Janeiro mexer.
Saio do eixo e deixo,
Mexo e remexo sem nada dizer.
Firo com o espinho de uma rosa
E o sangue brota vermelho.
Menina nem me dá bola
E a bola rebola sem nada dizer.
Me mando lá pra Bahia,
Tem sol, luar noite e dia.
Danço na frente do trio,
Canto e recanto sem nada dizer.
Vou para terras do Norte,
Manhattan acorda e não dorme.
Da confusão tenho saudade,
Acordo e recordo sem nada dizer.
Procuro rimas nos versos,
Vivo uma nova paixão,
Viking louro, bonito,
Canto e recanto sem nada dizer.
Sigo esta vida tranqüila,
Desesperar, mas pra quê?
Se tudo é fácil e gostoso,
Faço e refaço sem nada dizer.
No meu silêncio latino
A luta ficou pra trás.
Sigo calado, lutando,
Luto e reluto sem nada dizer.
Busco uma nova poesia,
Palavra, não tem que ter.
Dos livros já sei de tudo,
Viro e reviro sem nada dizer.
Paro com tudo um momento
Pra começar outra vez.
Se tudo é muito bonito,
Vivo e revivo sem nada dizer.
© Fernando Tanajura Menezes
(n. 1943 - )
(in Cântico das rosas - João Scortecci Editora
São Paulo/SP - 1997)
http://tanajura.cjb.net
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