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Artigos-->A ordem mundial de Ahmadinejad -- 28/04/2009 - 12:21 (Ricardo de Barros Bonchristiani Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial", já dizia Caetano Veloso em seu disco Circuladô, de 1991. Dezoito anos depois, a constatação do baiano veste como uma luva a persona e o comportamento de Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã desde 2005. Para George W. Bush, ex-presidente dos Estados Unidos, Ahmadinejad é parte do "eixo do mal". Os jornais freqüentemente o classificam como controverso e polêmico, principalmente por delirantes opiniões dizendo que o Holocausto é um mito, ao mesmo tempo em que afirma que as nações ocidentais impediram as investigações (reconhecendo então como um fato histórico) durante 60 anos, para manter o domínio sobre outras nações. Sem dúvida, essa contradição o credencia para a imagem de lunático. Mas, há um aspecto em sua postura política que segue ignorada pela mídia: o contraponto. Esse papel não é facilmente assimilado pelo mundo ocidental e tem sido negligenciado nas coberturas jornalísticas.



Em 20 de abril, durante uma conferência sobre racismo promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), Ahmadinejad criticou abertamente a violência de Israel sobre o povo palestino e disparou rajadas: “Depois do final da Segunda Guerra Mundial, os aliados recorreram a agressão militar para tirar as terras de uma nação inteira com o pretexto do sofrimento judeu (...). Enviaram imigrantes da Europa e dos Estados Unidos para estabelecer um governo racista na Palestina ocupada”, abordou também a intervenção militar internacional, liderada pelos EUA, no Afeganistão e Iraque, perguntando se as ações trouxeram paz e prosperidade a esses povos. Afirmou, ainda, que o Conselho de Segurança da ONU sempre “recebeu com o silêncio os crimes desse regime (israelense), como os recentes bombardeios contra civis em Gaza”. Durante sua fala na tribuna, foram ouvidas vaias e aplausos, enquanto representantes da União Européia (UE) saíram da sala. O discurso provocou indignação em Israel.



Eis aí o contraponto. Qual chefe de Estado teve cara-de-pau suficiente para dizer que as guerras no Iraque e Afeganistão só estão levando mais desgraça àqueles países? Qual chefe de Estado teve coragem para denunciar o real silêncio da ONU em relação aos ataques e excessos de Israel? O mesmo silêncio que se seguiu quando o Conselho de Segurança da ONU foi deliberadamente ignorado por Bush, decidindo invadir o Iraque mesmo depois da resolução contrária. Ou seja, a fala de Ahmadinejad escancara ao mundo o óbvio de que a ONU se finge de morta diante de ações bélicas americanas, mas age com rigor diante de outras. Dois pesos, duas medidas. O que a ONU fez em relação à desobediência de Bush que iniciou uma guerra? Nada.



Assim como o Holocausto é um fato histórico grotesco e não pode jamais ser esquecido ou desmentido, a forma como o Estado de Israel foi criado em 1948 também o é, afinal, é fruto de um acordo unilateral, já que os palestinos nunca concordaram com os termos e acabaram sendo expulsos aos milhares para qualquer outro lugar, gerando uma diáspora de palestinos. Num conflito como o que há entre esses povos, certamente há crimes de guerra e abusos em ambos os lados, mas como a Palestina não é um país, suas ações militares são tidas como guerrilheiras e terroristas, enquanto Israel, como Estado membro da ONU, utiliza seu exército legitimado, amplamente equipado e apoiado pelos Estados Unidos, o que acaba desequilibrando bastante os combates.



Quando as críticas são para Israel, elas não vêm de outros Estados, talvez por falta de coragem, mas vêm de entidades como a Anistia Internacional e Human Rights Watch, também ignoradas. Ahmadinejad, nesse contexto, é uma voz corajosa e dissonante que, apesar dos delírios, às vezes acerta o alvo da crítica. Num mundo globalizado, cada vez menos existe esse maniqueísmo que Bush quis imprimir em Ahmadinejad, mas que a mídia ocidental abraçou sem questionar. Ninguém é 100% bom, ou 100% mau. O próprio Hitler praticamente eliminou o desemprego na Alemanha dos anos 1930, o que, em si, é bom, ou não é? É difícil reconhecermos que, mesmo de um líder barbudo e radical como Ahmadinejad, podem surgir opiniões que mereçam, sim, atenção positiva dos jornais. Afinal, se o mundo precisa dele para lembrar dos desmandos de outros países, então, de fato, “alguma coisa está fora da ordem mundial”.

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